Felizmente, a pandemia do Covid 19 entrou em um novo ciclo: a etapa de vacinação, tão esperada por todo o mundo. Desejamos muito esse momento, e ele chegou. Claro que, ainda estamos vivendo a fase de estruturação e organização para eficácia da vacinação em massa. E é exatamente, por conta desse processo, no qual devemos respeitar uma escala de prioridades definidas, que já percebemos um crescimento do número de pessoas apresentando alguns transtornos e sensações mentais desconfortáveis gerados por conta dessa espera.
A prioridade no momento é imunizar
com a primeira dose da vacina, os profissionais da saúde que estão na linha de
frente do combate ao coronavírus e também idosos que se encontram em
instituições acolhedoras. Tudo isso, em função do número de doses recebidas
ainda não ser suficiente para imunizar toda a população, motivo pelo qual os
municípios foram obrigados a definir escalas de prioridades. O conflito está
justamente aí, pois toda a grande massa que não faz parte deste grupo,
naturalmente, criou expectativas com a chegada da vacina. Além de muita
ansiedade por um alívio decorrente desta imunização, e a esperança de que lhe
seja devolvida a rotina que foi totalmente alterada desde o início desta
pandemia. Sem sombra de dúvidas, toda essa dinâmica tem mexido muito com o
emocional de todos.
A premissa internalizada é que, nesse
pacote de imunidade vem junto sensações de segurança, proteção e eficácia,
trazendo ainda mais alento para minimizar angústias e conduzir o mundo rumo à
uma normalidade. Até aqui ótimo, mas como fica o emocional de quem ainda
precisa aguardar para receber sua dose de imunização? Como controlar essa
ansiedade? Como entender porque alguns grupos estão recebendo a vacina como
prioridade e outros ainda não? Um exemplo disso é, os questionamentos em
relação à não aplicação da vacina como prioridade em professores, uma vez que
em alguns estados as aulas já estão retornando e estes profissionais estarão na
linha de frente do processo educacional, orientando milhares de jovens e
crianças. Porque não serem vacinados? A falta de respostas a todas estas
perguntas, tem o poder de alimentar ainda mais a frustração, o medo e a
insegurança das pessoas que se percebem no fim da fila de prioridades.
Além disso, já começamos a ter
notícias absurdas e surreais dos desvios da vacina por todo o país. Pessoas
utilizando de diversos recursos para furar essa escala e serem imunizados,
mesmo sem pertencer ao grupo inicial designado para receber a primeira dose.
Infelizmente, pessoas desavisadas que se acham privilegiadas e que podem tirar
o direito do outro. Entra em cena então, mais uma vez, a ansiedade na urgência
para voltar a aglomerar promovendo mais um tipo de corrupção, em um país já tão
cheio de exemplos deturpados e deploráveis como estes.
Fato é que, para que todos possam ser
verdadeiramente protegidos, a vacinação precisa ocorrer em toda a população
mundial. Meta que, com certeza, poderá levar meses para ser atingida em sua
totalidade. Enquanto isso, quem ainda não teve contato com a vacina, amarga a
expectativa, cheio de ansiedade e medo de uma pandemia que não está encerrada.
Muito pelo contrário, ainda se infecta e morrem muitas pessoas a cada dia.
É real a possibilidade de um aumento
dos casos de transtornos de ansiedade generalizada, pânicos, fobias sociais,
agravamentos de quadros psíquicos, aumento dos transtornos compulsivos e de
depressão; tudo em função da espera pela vacina. Antes os desconfortos
emocionais eram gerados por conta de uma vacina que ainda estava sendo
produzida. Hoje, a nova realidade está fixada em algo concreto, que já existe
(ainda bem) e que foi muito aguardada por todos. Porém, ainda não consegue
contemplar toda a população mundial.
Nossa mente, percebe a ansiedade como
um sinal de alerta. É o corpo emitindo um tipo de dispositivo alarmista para o
cérebro, por entender que está diante de algum tipo de ameaça. A resposta da
mente é disparar a ansiedade e associar, em muitos casos, outros distúrbios que
juntos irão gerar o desequilíbrio emocional do indivíduo. Olhando por essa
ótica, o possível sinal de alerta emitido pelo corpo para a mente das pessoas
que ainda aguardam sua vez para receber a vacina, é de que poderá não haver
vacina para elas, as vacinas podem acabar ou ela poderá se infectar, agravar e
vir a óbito, antes mesmo de receber sua dose imunizadora. O grande risco deste
cenário é este indivíduo não estar com sua saúde mental equilibrada e não
conseguir, portanto, desligar esse alarme e amenizar o estresse traumático.
Consequentemente, essa instabilidade na saúde emocional pode desencadear
sintomas fisiológicos característicos desse desconforto, como: músculos
tensionados, palpitações, tremores, refluxos, desligamento da realidade,
sudorese excessiva, intestino solto, insônia, falta ou excesso de apetite,
dores de estômago, taquicardias, dentre outros.
Contudo, algumas táticas podem ser
utilizadas para amenizar a ansiedade da espera e reduzir sintomas delicados
como os já citados. A regra de ouro é mudar o foco dos pensamentos. Assim como
você, muitas pessoas estão na mesma situação de aguardo. Enquanto, esse momento
não chega, aproveite para realizar atividades prazerosas. Quando cérebro recebe
uma carga de prazer, nossos neurônios emitem cargas de bem-estar e sensação de
conforto para todo o corpo, possibilitando calmaria e o controle da adrenalina.
Uma outra dica muito valiosa é aprender a expressar o que sente. Guardar os
sentimentos, transformará sua mente em um grande caldeirão em ebulição. Quando
menos esperar o caldo entorna. Sendo assim, sentiu vontade de falar, fale.
Sentiu vontade de chorar, chore. Quer rir e dançar, faça-o. Não acumule
emoções. Procure esvaziar a mente e fazer um detox destas preocupações,
lembrando que não se pode ter o controle de tudo. E é isso mesmo. A sabedoria
está em conviver com essas adversidades momentâneas sem perder o equilíbrio.
Enfim, relaxamento e paciência
precisam fazer parte das nossas ações neste momento. Depois de muitas dúvidas,
medos e incertezas, estamos todos, a alguns passos de receber a imunização
contra o coronavírus. Mesmo que ainda demore alguns meses, o principal é que
continuem os cuidados de prevenção, a utilização de máscaras, o uso de álcool
em gel e que as aglomerações sejam evitadas, afinal temos ciência de que a
vacina chegou e em breve estaremos todos livres desta pandemia, mas o vírus não
sabe de nada disso e ainda continua fazendo suas vítimas.
Dra. Andréa Ladislau
Psicanalista
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