Que o comportamento do ser humano está passando por
intensas transformações em vários âmbitos, ninguém duvida. Nesse contexto,
praticamente todos os mercados foram impactados e o advento da pandemia somente
acelerou a velocidade dessas mudanças, que já era vertiginosa.
No passado, a disputa entre Uber e taxistas em
muitas capitais do mundo quebrou monopólios e ofereceu ao cidadão maior
liberdade de escolha e melhores serviços. O Uber é um exemplo clássico de
startup, que identificou oportunidades de melhoria de um determinado serviço e
conseguiu "inventar" um jeito mais prático, seguro e econômico das
pessoas acessarem o serviço.
Penso que o crescimento explosivo de uma startup,
que do dia para a noite capta o aporte milionário de conglomerados econômicos
e, em poucos anos passam a valer bilhões de dólares, pode esconder fragilidades
de uma estrutura que cresce muito rápido sem passar por um tempo de maturação.
A falha do Nubank que permitiu o vazamento de dados
pessoais de inúmeros clientes nos revela isso. Se o banco operasse na Europa e
Estados Unidos, onde a Lei Geral de Proteção de Dados já está em vigor e a
cultura do Estado de proteção e respeito ao cidadão é mais efetiva, o desfecho
da história seria outro.
O sistema financeiro internacional teve sua semente
nos idos de 1700, na alta idade média na Europa, sendo a Suíça e a Holanda os
países mais proeminentes na época. Para facilitar e evitar assaltos às
carruagems de metais preciosos que transportavam riquezas, criaram se
mecanismos de câmbio, hoje conhecidos como duplicatas. Na época, eram letras de
câmbio.
A letra de câmbio permitiu que os bancos não
precisassem movimentar grandes quantidades de valores com frequência, e seus
clientes também. Com o passar do tempo, outros títulos cambiais surgiram, um
deles hoje em declínio, o cheque, foi amplamente utilizado.
Hoje, a ameaça aos bancos e clientes não se esconde
atrás de arbustos para atacar cocheiros das carruagens bancárias. A arma
utilizada pelos cibercriminosos, bandidos modernos, é a informação. Por isso,
eventos como este do Nubank revelam riscos que estamos expostos e sequer
imaginamos.
Concluindo, o sistema financeiro internacional deve
também ser desafiado pelas startups de tecnologia, para que o sistema evolua e
proporcione um melhor serviço aos consumidores, sem negligenciar a experiência
e a cultura que os bancos tradicionais construíram ao longo de quase três
séculos de serviços as nações, às empresas e ao cidadão comum.
Dane
Avanzi - advogado, empresário de telecomunicações e diretor do Grupo Avanzi.
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