Ela
levantava sempre cedo, fazia a faxina, preparava as crianças para a escola,
lavava e passava toda a roupa da casa. O almoço tinha que estar pronto antes do
marido chegar. Depois que lavava as louças do almoço, ela auxiliava as crianças
com a lição escolar, preparava o lanche da tarde e uma carne para o jantar.
Embora não tivesse direito de participar das divertidas conversas com as
visitas do marido, ela sempre servia a sobremesa na sala, observando o doce
amargo daquela situação. Depois que deixava a cozinha limpa e colocava as
crianças na cama, ela não tinha mais forças para ler um livro ou ouvir músicas
e adormecia naquela prisão de sonhos.
Passados dias, ela era obrigada a votar antes de sair para o árduo trabalho. O dia era mais longo e ela dormia no ônibus para descansar os olhos. Não tinha hora para almoçar, mas também não tinha vontade, pois sua marmita era mais fria que suas esperanças, mas as calorosas conversas com os colegas do trabalho eram mais quentes que o frio de sua invisibilidade do passado. Ela voltava para casa igualmente cansada e deixava muitas tarefas caseiras para o final da semana. Colocava as crianças na cama e adormecia deitada sobre aquela subordinação social.
Depois de um tempo, ela tomava emprestado o carro do marido para agilizar suas atividades, como deixar as crianças na escola, fazer compras no supermercado, passar no salão de beleza e muitas outras. Precisava estar com uma boa aparência para assumir o ótimo cargo que conquistou no escritório e sair para jantar com o marido. Deixava as crianças na casa da avó, sempre bem vestida e penteada caminhava com passos lentos rumo a esperança de atingir uma concorrência leal.
Hoje ela acorda cedo, coloca as crianças na vã, pega seu
carro e vai rápido para o trabalho, preside importantes reuniões e toma grandes
decisões. Ela almoça em um centro comercial próximo ao escritório, para dar
tempo de ver algumas roupas e sapatos. Arruma sempre os cabelos e unhas, pois
na oportunidade, pode sair com as amigas para uma confraternização em um bar da
moda ou um evento cultural. Deixando as crianças com a babá e buscando novos
horizontes.
Não poderá dormir tarde, como fazia na época de suas pós-graduações, pois tem que tomar voos logo cedo para coordenar milionários projetos, o que sempre faz com muita competência. As diversas viagens internacionais lhe obrigaram a estudar línguas. Terá que montar um bom esquema para sua vida doméstica, mas poderá contar sempre com a ajuda de algum Aplicativo. Voará tão alto que alcançará seu companheiro que já está lá no topo.
Bisavó, avó, mãe, filha, neta! Como pode a vida de pessoas da mesma família ser tão diferente?
Helenice Florentino - professora do Departamento de Bioestatística do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, SP.
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