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sábado, 9 de novembro de 2019

Debate sobre dependência química exige quebra de estigmas


A polêmica envolvendo o cantor Xexéu, ex-vocalista da banda Timbalada, com a divulgação de um vídeo e da informação de que o artista estaria em processo de recaída, evidenciou a importância de se aprofundar o debate sobre a dependência química, de forma séria e com um olhar especializado. 

A dependência química é um transtorno mental ainda incompreendido, apesar de afetar cerca de 6% da população brasileira. Associado erroneamente a uma “falha” de carácter, o uso compulsivo de substâncias psicotrópicas causa danos que podem ser evitados com um tratamento adequado. As barreiras que se interpõem entre a doença e seu controle envolvem desde o preconceito até a falta de assistência. Para mudar esse quadro, o assunto precisa ser debatido em sociedade.   

O psiquiatra da Holiste Luiz Guimarães ressalta que a dependência química é um transtorno mental que pertence à família das compulsões. “Nesse caso, o comportamento compulsivo está relacionado ao uso e abuso de uma ou várias substâncias químicas, chegando ao ponto de fugir do controle do usuário. As substâncias mais comuns nos casos de dependência são o álcool, o cigarro, a maconha, a cocaína, o crack, drogas sintéticas, como LSD e Ecstasy, além dos psicofarmácos”, ressalta. 

Diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento da dependência química, incluindo a quantidade e frequência de uso da substância, a condição de saúde do indivíduo e aspectos genéticos, psicossociais e ambientais.

“Quando falamos de dependência é porque houve um descontrole desse uso. As pessoas acabam perdendo o rumo de sua vida, sua autonomia, e vivem com a droga como se fosse uma bengala. Há um uso dependente da substância. Mas, nosso foco não é a substância e sim a pessoa.  Nós tratamos o sujeito que faz uso da substância, mas que perdeu o controle da vida”, explica o psicólogo da Holiste Ueliton Pereira.

O psiquiatra Luiz Guimarães chama atenção para os estigmas que atingem os adictos, que acabam afetando a busca por ajuda especializada. 

“O grande problema quando ouvimos falar desse tema é que pensamos que as pessoas são fracas, são complicadas, mentirosas ou necessariamente ladras. Em especial em relação à dependência química, a reação das pessoas é sempre carregada de preconceitos. E na verdade, existem patologias ligadas ao comportamento que precisam ser tratadas e o próprio preconceito muitas vezes impede o tratamento adequado”, observa.

Ueliton opina que é preciso tirar a valorização pejorativa e assumir uma postura mais madura de querer falar sobre esse tema, pensar e construir novas possibilidades e meios de trabalhar com a dependência química. 

“Precisamos crescer e tirar todos os tabus sobre todas as drogas. Acredito que precisamos amadurecer intelectualmente, encarar que existe um problema que não é a droga em si, mas o componente da compulsão que está presente em cada adicto. Quando falamos em tratamento de dependência química, não estamos falando que vamos tratar a droga, mas sim aquele sujeito que tem uma compulsão, que não sabe lidar com limites, frustrações e várias outras questões que são do campo emocional”, afirma. “Ninguém opta por ser dependente. Só se torna dependente aquele que não consegue lidar com seus limites e suas questões, e isso não é uma escolha”, complementa o psicólogo.



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