A polêmica envolvendo o cantor Xexéu,
ex-vocalista da banda Timbalada, com a divulgação de um vídeo e da informação
de que o artista estaria em processo de recaída, evidenciou a importância de se
aprofundar o debate sobre a dependência química, de forma séria e com um olhar
especializado.
A dependência química é um transtorno mental ainda
incompreendido, apesar de afetar cerca de 6% da população brasileira. Associado
erroneamente a uma “falha” de carácter, o uso compulsivo de substâncias
psicotrópicas causa danos que podem ser evitados com um tratamento adequado. As
barreiras que se interpõem entre a doença e seu controle envolvem desde o
preconceito até a falta de assistência. Para mudar esse quadro, o assunto
precisa ser debatido em sociedade.
O psiquiatra da Holiste Luiz Guimarães ressalta que
a dependência química é um transtorno mental que pertence à família das
compulsões. “Nesse caso, o comportamento compulsivo está relacionado ao uso e
abuso de uma ou várias substâncias químicas, chegando ao ponto de fugir do
controle do usuário. As substâncias mais comuns nos casos de dependência são o
álcool, o cigarro, a maconha, a cocaína, o crack, drogas sintéticas, como LSD e
Ecstasy, além dos psicofarmácos”, ressalta.
Diversos fatores podem contribuir para o
desenvolvimento da dependência química, incluindo a quantidade e frequência de
uso da substância, a condição de saúde do indivíduo e aspectos genéticos,
psicossociais e ambientais.
“Quando falamos de dependência é porque houve um
descontrole desse uso. As pessoas acabam perdendo o rumo de sua vida, sua
autonomia, e vivem com a droga como se fosse uma bengala. Há um uso dependente
da substância. Mas, nosso foco não é a substância e sim a pessoa. Nós
tratamos o sujeito que faz uso da substância, mas que perdeu o controle da
vida”, explica o psicólogo da Holiste Ueliton Pereira.
O psiquiatra Luiz Guimarães chama atenção para os estigmas
que atingem os adictos, que acabam afetando a busca por ajuda especializada.
“O grande problema quando ouvimos falar desse tema é que
pensamos que as pessoas são fracas, são complicadas, mentirosas ou
necessariamente ladras. Em especial em relação à dependência química, a reação
das pessoas é sempre carregada de preconceitos. E na verdade, existem
patologias ligadas ao comportamento que precisam ser tratadas e o próprio
preconceito muitas vezes impede o tratamento adequado”, observa.
Ueliton opina que é preciso tirar a valorização pejorativa
e assumir uma postura mais madura de querer falar sobre esse tema, pensar e
construir novas possibilidades e meios de trabalhar com a dependência química.
“Precisamos crescer e tirar todos os tabus sobre todas as drogas.
Acredito que precisamos amadurecer intelectualmente, encarar que existe um
problema que não é a droga em si, mas o componente da compulsão que está
presente em cada adicto. Quando falamos em tratamento de dependência química,
não estamos falando que vamos tratar a droga, mas sim aquele sujeito que tem
uma compulsão, que não sabe lidar com limites, frustrações e várias outras
questões que são do campo emocional”, afirma. “Ninguém opta por ser dependente.
Só se torna dependente aquele que não consegue lidar com seus limites e suas
questões, e isso não é uma escolha”, complementa o psicólogo.
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