Pesquisa da maior Câmara Americana,
entre 114 existentes fora dos EUA, ouviu 130 executivos de empresas brasileiras
e multinacionais de múltiplos países, durante o seminário “As Novas
Dimensões do Comércio Global”
A tensão comercial global e o
cenário de guerra entre os Estados Unidos trazem uma pressão extra para o novo
governo brasileiro eleito em outubro. A Câmara Americana de Comércio (Amcham)
entrevistou 130 executivos de empresas com operação no Brasil e identificou que
66% deles já trabalham com cenário de risco e impacto econômico e comercial nos
negócios do País. “Precisamos escolher um
líder que priorize uma politica internacional com estratégia para o médio e
longo prazo e, além da desburocratização do comércio. Observamos que, apesar
dos riscos evidentes e crescentes, esses temas ainda aparecem de forma tímida
nas discussões da nossa politica interna”, comenta Deborah Vieitas, CEO da
Amcham Brasil, a maior Câmara Americana entre 114 existentes no mundo.
De acordo com 53%, o cenário
internacional traz um desafio adicional para o governo a ser eleito em outubro
– a necessidade de dar maior prioridade ao comércio exterior como plataforma de
transformação econômica do País. Na lista de prioridades, do novo presidente
eleito, devem entrar o diálogo bilateral com os seus principais parceiros
comerciais, em especial, os EUA e China. Outras ações prioritárias foram a
simplificação e desburocratização das operações essenciais de comércio exterior
(51%), identificação e eliminação de barreiras comerciais para o acesso aos
mercados (20%) e políticas públicas para ampliar investimentos de empresas
brasileiras no exterior (4%).
Países que deram
prioridade ao comércio exterior tiveram crescimento expressivo nas últimas décadas. “Nos últimos 70
anos, todos os países que realmente conseguiram mudar de patamar econômico
tiveram entre 40% e 50% do seu PIB como resultado da soma de exportações e
importações”, contextualiza Deborah Vieitas, CEO da
Amcham da Brasil. Foi o caso de países como Japão, Alemanha,
Coreia do Sul, Cingapura, Hong Kong, Chile e Espanha.
No mesmo período de tempo, o Brasil cresceu bem menos. “Se retirarmos da
nossa avaliação histórica os períodos da monocultura da exportação, é muito
difícil encontrar momentos da economia brasileira em que tenhamos tido mais do
que 25% do nosso PIB como resultante da soma de importações e exportações”,
complementa Vieitas.
Na visão da Amcham, a eleição
de outubro é a chance de reverter este cenário de baixa participação brasileira
no comércio internacional. A entidade vem realizando um trabalho de influência
na agenda dos principais pré-candidato à presidência. Até o momento, os
presidenciáveis Geraldo Alckmin (24/6), Álvaro Dias (18/6), João Amoêdo (14/5), Henrique Meirelles (23/4) e Ciro Gomes (14/3), já assinaram o compromisso de
estudar as propostas da Amcham para inclusão no seu programa de governo. As
propostas assinadas pelos candidatos foram dividas em quatro pilares de
atuação: Segurança Jurídica e Atração de Investimentos, Modernização do Sistema
Tributário, Integração do Brasil nas Cadeias Globais de Valor e Fortalecimento
da Relação Bilateral Brasil – Estados Unidos. A Amcham está no aguardo da
confirmação de agenda com os demais pré-candidatos.
Inserção
nas cadeias globais de valor
Para o trabalho de influência nas agendas dos presidenciáveis, a Amcham questionou os 130 executivos sobre a principal barreira à integração e inserção do Brasil nas cadeias globais de valor, 31% apontaram a insegurança jurídica e normativa para investimentos. Em seguida, vieram os custos poucos competitivos (27%), falta de acordos comerciais ou de investimento (25%), ausência de estímulos à internacionalização de empresas e financiamento e garantia às exportações (13%).
No que tange as
negociações Brasil-Estados Unidos, 56%
dos empresários gostariam de observar um
governo brasileiro com uma postura mais ativa
de diálogo na relação bilateral, se comprometendo com um horizonte de
negociação mais concreto. Para 33%, o diálogo já deveria ser intensificado no
curto prazo, de forma a evitar possíveis novas sobretaxas.
Sobre a Reforma
Tributária americana no Brasil, a maioria ainda não sentiu efeitos negativos.
Para 62%, a queda do IDP (Investimento Direto no País), está mais relacionado ao contexto de incerteza
eleitoral. Dado do BC (Banco Central) mostra que o
desempenho das aquisições e empréstimos de matrizes no exterior a suas filiais
brasileiras teve queda de 30% nos primeiros quatro meses do ano em relação à
2017. Só 25% dos respondentes atribui esta
diminuição a redução dos impostos nos EUA, visando atrair e manter
recursos no país.
Negociação via
Mercosul
Apesar do cenário turbulento
no comércio internacional, a maioria acredita que o risco de desglobalização
aceleraria a concretização do tão discutido acordo entre o Mercosul e a União
Europeia. Para 58%, as chances de ser confirmado aumentaram em médio prazo
devido ao esgotamento de um ciclo nacional-populismo(kirchnerismo e lulopetismo)
nos dois principais sócios do Mercosul, mas dependeria da confirmação de um
novo governo brasileiro pró-integração nas cadeias globais de valor. Outros 22%
acreditam que o acordo será concretizado em curto prazo, independente do cenário
eleitoral deste ano, e 18% não veem um desfecho positivo. “O certo é que hoje,
o Mercosul é destino de apenas 14% das exportações brasileiras e existe um
concreto potencial para aumentar essa fatia, se compararmos, por exemplo, com a
União Européia que realiza 63% de suas exportações para os países que pertencem
a esse bloco econômico”, diz Vieitas.
Além da União Europeia, 53%
responderam que uma aproximação com a Aliança do Pacífico (México, Colômbia,
Peru e Chile) seria a opção de maior impacto comercial. Outros 35% optaram pela
China, seguidas de Canadá (4%) e Japão (2%).
A PESQUISA
A Amcham Brasil ouviu 130
executivos de empresas brasileiras e multinacionais de múltiplos países,
durante o seminário “As Novas Dimensões do Comércio Global”, realizado
nesta quarta-feira (25/7), em São Paulo. A Câmara Americana reúne no Brasil
cerca de 5 mil empresas associadas, sendo 85% delas brasileiras, sendo a maior
Amcham entre 114 existentes fora dos EUA.
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