Maio de 2018 mês que começa pelos 130
anos da inacabada abolição da escravatura. O Brasil foi a última
nação do planeta a abolir essa mancha da história da humanidade que foi o
tráfico e a escravização de seres humanos, amenizado ainda na atualidade com
argumentos espúrios do tipo: em outros momentos da história da humanidade isso
também aconteceu como no antigo Egito das passagens bíblicas, ou falácias do
tipo que, aqui se praticava a escravização cordial embasado no clássico Casa
Grande e Senzala, de Gilberto Freire.
Diálogos incompletos, pois esquecem de
dizer que na história da humanidade nenhum sistema como o Capitalismo nasceu
sob a judicies do tráfico e exploração da mão de obra humana e que as
violências, apropriações por quase quatro séculos desestabilizaram todo um
continente deixando um rastro de caos econômicos, sociais e educacionais não só
na África mas para todos os afrodescendentes em todas as partes do planeta até
os dias de hoje.
O Brasil, último país do mundo a
abolir essa vergonha e também grande aliado da exploração intensa de mão de
obra escrava, se tornou o local onde a desigualdade entre negros e brancos é
mais gritante, em nenhum outro canto do mundo. Essa realidade foi e continua
sendo tão cruel. Exemplos não faltam: por aqui morrem mais jovens negros
de forma violenta que em todas as guerras em curso no planeta, incluindo a
Síria!
Aqui também um trabalhador negro ganha
em média à metade que seu colega branco, onde mais de 54% da população é negra
e não chega a 5% dos cargos estratégicos da economia, do poder público ou
judiciário são comandado por negros o que se reflete diretamente em nosso IDH -
Índice de Desenvolvimento Humano. Quando comparado o IDH - Negro o Brasil fica
entre os países mais pobres do mundo se igualando a áreas extremamente
subdesenvolvidas da África, quando comparado o IDH Branco ficamos entre as 50 nações
mais ricas do mundo.
Atento a esses números e dispostos a
não esperar pelo governo, um grupo de empresas, empresários e empreendedores
reuniram-se em cima de uma ideia: juntar experiências de empresas
que já atuam na inserção e promoção de negros, mulheres e outros grupos
historicamente excluídos em suas empresas e divulgar de forma digital como
encarar o problema da discriminação racial e de gênero no mercado de trabalho
lançando assim a plataforma digital “Brasil Diverso, todos pela inclusão”.
A ideia ganha forte apoio de gigantes
do mercado como Itaú e Bayer do Brasil entre outros que têm como meta atacar o
principal problema enfrentado pelos afro-brasileiros na atualidade. Com
objetivo de crescer em números a presença dos afrodescendentes nos cargos de
decisão da economia brasileira, mais um exemplo que o setor privado vem dar ao
Brasil cada vez mais descrente dos desmandos e das mazelas, no qual o setor
público tem se enveredado nas últimas décadas.
A iniciativa da plataforma Brasil
Diverso será lançada no próximo dia 16 de maio, às 15h, no Museu de Imagem e
Som, em São Paulo, ironicamente três dias após os afrodescendentes brasileiros
lembrarem data que lhes foi tirado o trabalho de escravo e nada foi colocado no
lugar. Agora, após 130 anos, nasce uma iniciativa vinda do mercado de trabalho
no intuito de reparar parte daquilo que o Estado brasileiro se quer se ateve,
inserir negros e negras na economia de mercado.
Que iniciativas como a plataforma
Brasil Diverso possam ser replicadas e que daqui 130 anos o Brasil não precise
apresentar ainda números tão injustos acerca das diferenças entre negros e
brancos no mercado de trabalho, porta de entrada do desenvolvimento econômico,
educacional e social brasileiro.
Maurício Pestana - Jornalista,
Coordenador da Plataforma Brasil Diverso.
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