O uso contínuo de ferramentes de busca online como
forma rápida e prática para identificar possíveis condições de saúde não deve
substituir a orientação médica especializada; Oncologistas esclarecem mitos e
verdades relacionados ao câncer, um dos líderes em resultados digitados nos
buscadores
Ao sinal de qualquer novo sintoma, para obter
respostas rápidas utilizamos uma ferramenta de busca na internet. O que não
sabemos é como se tornou comum aparecer na primeira página, listada entre as
possíveis doenças mais buscadas, a palavra câncer. Segundo o levantamento Jornada
Digital do Paciente, realizado pelo grupo Minha Vida, 94% dos 3.860
brasileiros entrevistados responderam que procuram informações sobre saúde na
rede. Entre os principais termos estão alimentação, doenças, sintomas,
emagrecimento e tratamentos. De acordo com a pesquisa, na maioria dos casos é a
partir do "diagnóstico online" que as pessoas buscam uma orientação
médica especializada.
Essa percepção é reforçada por um dado adicional
fornecido pelo principal buscador digital do mundo, o Google: a cada 20 termos
utilizados pelos usuários, um é referente à área médica. Seja qual for a queixa
ou incômodo, é preciso lembrar que cada caso deve ser avaliado individualmente
por um médico para que seja feito o diagnóstico e indicado o tratamento devido.
Para esclarecer algumas dúvidas relacionadas ao
câncer derivadas das consultas virtuais ao Google, quatro oncologistas do
Centro Paulista de Oncologia (CPO) – Grupo Oncoclínicas respondem perguntas
frequentes:
1. Dá para
prevenir o câncer?
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde
(OMS), 80% dos casos de câncer no mundo estão relacionados ao nosso modo de
vida. "Sedentarismo, sobrepeso/obesidade e consumo excessivo de gorduras
podem ser classificados como 'vilões' que respondem, em especial, pela elevação
no risco de desenvolvimento de tumores que afetam intestino, endométrio,
próstata, pâncreas e mama", explica o Dr. Daniel Gimenes. "A
recomendação da OMS é que pessoas de 18 a 64 anos pratiquem pelo menos 150
minutos de exercícios moderados por semana – ou, em média, pouco mais de 20
minutos por dia. Isso significa que pequenos ajustes na rotina, como caminhar
pequenas distâncias, aderir à bicicleta como opção de transporte ou subir e
descer escadas ao invés de usar o elevador, podem colaborar para o afastamento
da grande maioria dos fatores de risco que levam ao surgimento de diferentes
doenças, inclusive do câncer", ressalta o especialista.
2. Marcas roxas
pelo corpo são sinal de leucemia?
Manchas roxas que surgem aparentemente sem traumas,
pequenos pontos vermelhos na pele e/ou sangramentos mais intensos e prolongados
após ferimentos leves podem surgir em decorrência da diminuição na produção de
plaquetas. Ou seja, marcas roxas que persistem por muito tempo pode ser o
primeiro sinal de leucemia. Ainda assim, estes são apenas fatores que podem ser
indícios da doença, mas não é regra.
Os principais sintomas das leucemias agudas incluem
palidez, cansaço e sonolência, consequências da queda na produção de glóbulos
vermelhos (hemácias) e consequente anemia. Diante disso, o principal conselho
da hematologista, Dra. Mariana Oliveira, é que seja dada atenção aos sinais de
quaisquer alterações à saúde e procurado auxílio médico especializado para
diagnóstico preciso da condição.
3. Pintas que
crescem estão relacionadas ao câncer de pele?
O câncer de pele classificado como melanoma pode
dar seus primeiros sinais a partir do aparecimento de pintas escuras na pele,
que apresentam modificações ao longo do tempo. As alterações a serem avaliadas
como suspeitas são o "ABCD"- Assimetria, Bordas irregulares, Cor e
Diâmetro. "A doença é de fácil diagnóstico quando existe uma avaliação
prévia das pintas feitas", explica a Dra. Sheila Ferreira. É recomendável
a ressecção cirúrgica destas lesões por especialista habilitado para adequada
abordagem das margens ao redor da mesma. Posteriormente, dependendo do estágio
da doença, pode ser necessária a realização de tratamento complementar.
"Quimioterapia ou radioterapia são raramente necessárias visto que, se diagnosticado
precocemente, a cirurgia pode resolver na maioria dos casos", finaliza a
oncologista.
4. Fumantes têm
mais chances de desenvolver câncer no pulmão?
Segundo a Dra. Mariana Laloni, o tabagismo aumenta
a possibilidade de desenvolver diversos tipos de câncer - não apenas o de
pulmão. Entre os principais tumores cujos riscos são maximizados pelo hábito de
fumar estão: boca, faringe, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo de
útero e leucemia. O cigarro é ainda responsável por contribuir para o
surgimento de outras condições, como hipertensão, diabetes e problemas
cardiovasculares.
Todavia, a especialista lembra que sempre é tempo
de fumantes mudarem a conduta em prol da saúde. Em cinco anos, a taxa de
mortalidade de um ex-fumante por câncer de pulmão, considerando uma pessoa que
tinha o hábito de fumar um maço de cigarros por dia, diminui em pelo menos 50%.
Em 15 anos, os riscos se tornam praticamente iguais aos de uma pessoa que nunca
fumou. Vale à pena parar de fumar!
5. Estresse e
depressão podem causar câncer?
Um estudo realizado por cientistas da University
College de Londres, Universidade de Emdiburgo e de Sydney, publicado na revista
British
Medical Journal (BMJ), mostra que pessoas com sintomas de depressão
e/ou ansiedade podem correr maior risco de mortalidade em casos de câncer de
próstata, intestino e pâncreas. A pesquisa foi derivada de uma analise feita
por David Batty, epidemiologista da University College de Londres, em que
analisou 16 estudos com o acompanhamento de uma determinada população no longo
prazo.
O resultado apontou que, de um total de 163.363
pessoas acompanhadas neste tempo (maiores de 16 anos), 4.353 faleceram. "O
estudo é interessantíssimo, mas a conclusão precisa ser cautelosa. Os indícios
podem colaborar com esta hipótese crescente de que o estresse está envolvido
com a mortalidade por câncer. Na prática, o que percebemos é que os pacientes
com espírito de luta, que querem viver, colaboram com o tratamento. Essas
pessoas vivem muito mais ao passo que um disparo depressivo no meio do
tratamento pode ser prejudicial", diz o oncologista clinico Dr. Daniel
Gimenes.
6. Homens também
podem ter câncer de mama?
Assim como as mulheres, homens apresentam glândulas
mamárias. Apesar da baixa incidência, o câncer de mama masculino – eles
representam 1% de todos os casos diagnosticados -, a taxa de mortalidade entre
os homens é alto. Nos Estados Unidos, por exemplo, de 1910 casos registrados,
na maioria das vezes, o tumor foi identificado tardiamente, já em estágio
avançado, dado que homens não costumam realizar exames rotineiros de controle.
Nenhum comentário:
Postar um comentário