Quando perguntamos
"quem paga pelo produto ou serviço consumido por um consumidor ou
cliente" a resposta vem de boca meio cerrada ou desconfiada que
"consumidor ou cliente", pois lhes parece óbvio.
O consumidor ou cliente pagar por um produto ou
serviço que consome, sim, parece razoável! Se avaliarmos a maioria das
definições que aprendemos, quase todas falam de “troca de valor” entre duas
partes.
Presumo que aceitar o óbvio como verdade acontece
porque somos constantemente pressionados por resultados de curto prazo e nem
sempre “investimos” tempo em pensar no modelo de negócios com uma visão mais
holística.
Tampouco nos “interessamos” em buscar novas ideias
em outros mercados diferentes dos que atuamos e conhecemos. Isso a
princípio nos leva à mesmice, mas não vou desviar o assunto. Ah! Grifei
“investimos” e “interessamos” porque gestores com foco no curto prazo usariam a
expressão “não gastamos tempo” ou “não nos dispersamos”.
Para exemplificar esse artigo, me referencio a um
tema polêmico e aparentemente sem solução, embora você possa aplica-lo a
qualquer tipo de negócio. Segundo o relatório da OXFAM International Report
publicado no Fórum Econômico Mundial, 15% da população estão vivendo com menos
de 2 dólares por dia e 56% estão vivendo com uma média de 6 dólares por dia.
Isso não mostra tendência de mudar no curto prazo,
pois o mesmo relatório mostra que 82% das novas riquezas de 2017 foram para os
1% mais ricos da população, enquanto a metade mais pobre não viu nada!
Como dar o mínimo necessário para uma vida digna
com esse montante mensal? Parece impossível! Mas é a pergunta que está errada!
2 motivos para alcançar minha conclusão:
Primeiro, verificamos em detalhes a definição de
Marketing pela AMA (Associação Americana de Marketing), que prega
que"Marketing é a atividade, conjunto de instituições e processos para a
criação, comunicação, entrega e troca de ofertas que tragam valor para os
consumidores, clientes, parceiros e sociedade como um todo."
Nisto, notamos a citação dos envolvidos na troca,
porém sem estabelecer “quem” de fato troca, em que momento e como o faz. Assim,
consumidor, fornecedor e patrocinador podem ser papéis de entidades diferentes.
Segundo, verifico que o Google é frequentemente
usado por consumidores que não desembolsam qualquer valor monetário ou de
qualquer natureza “diretamente” ao Google. O modelo de negócios do Google os
permite uma bela receita, mas não diretamente do bolso dos consumidores.
Anunciantes interessados nos acessos destes consumidores geram essa receita.
A pergunta correta é: (voltando ao objeto do
artigo) “quem se interessaria” para que essa porção da população tivesse uma
vida minimamente digna, com educação, saúde, moradia e segurança?
Será que não são, por exemplo, os que mesmo morando
em grandes centros estão sujeitos a morrerem pelas crescentes epidemias (muitas
voltando após décadas erradicadas) causadas pela falta de condições dessa
população menos favorecida aliadas às cada vez mais frequentes viagens
internacionais conectando os continentes com maior intensidade?
Será que não são os que, mesmo morando em grandes
centros, estão sujeitos às violências e sequer protegidos mesmo com os altos
investimentos ou despesas em segurança privada? Será que não são aqueles
afetados, sobretudo, pela falta de educação?
Definitivamente não é essa porção da sociedade -
menos favorecida - que pagará efetivamente por esses produtos ou serviços que
necessitam consumir!
Consumidor, fornecedor e patrocinador podem
eventualmente ser papéis de entidades diferentes, com bases nos seus interesses
próprios.
Quem paga pelo produto ou serviço? Quem tem
interesse, mesmo que indiretamente, no consumo do produto ou serviço.
Certamente o Plano de Negócios deverá conter elementos inclusivos para alcançar
este resultado.
Pense holisticamente! Seja mais estrategista e
abrangente nos seus Planos de Negócio!
Flavio Ricardo Rodrigues - professor da IBE Conveniada FGV e conselheiro
empresarial orientado ao marketing.
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