Nos últimos anos, o Brasil entrou em um ciclo negativo
provocado pelas crises política, econômica e fiscal. Inclusive, o quadro geral
do País tornou-se ainda mais nebuloso, recentemente, ao arrastar para o centro
da crise os mais importantes poderes institucionais. Mais do que lamentar,
momentos como o que vivenciamos hoje exige que sejam mantidas a capacidade de
análise e de crítica. Até porque, sem essa condição, seguramente, nenhuma
sociedade supera suas dificuldades e avança na busca por desenvolvimento e
justiça.
Ao analisar o quadro de grave crise institucional, é
possível perceber, mesmo em meio à desordem, um ponto essencial para a busca da
normalidade. Precisamos, urgentemente, resgatar o controle da agenda das
políticas públicas e a rotina dos ministérios, órgãos e autarquias do Estado
brasileiro. É preciso que se restabeleça a normalidade e a rotina do serviço
público, responsável pelo atendimento das demandas e necessidades dos cidadãos.
Como servidor público do cargo de Analista-Tributário da
Receita Federal, que pertence à Carreira Tributária e Aduaneira da Receita
Federal do Brasil, assisto com extrema preocupação a contaminação das
atividades desempenhadas pelo órgão que são essenciais para o Estado Brasil
pela grave crise que atingiu nosso país. A agenda da crise se sobrepôs a todas
as demais, inclusive, travando o cumprimento de dispositivos de Leis, como no
caso da Lei nº 13.464/2017, que instituiu um instrumento de gestão e de
melhoria da eficiência da Administração Tributária e Aduaneira e reestruturou a
remuneração dos servidores da Carreira Tributária e Aduaneira da Receita
Federal do Brasil.
A Lei nº 13.464 foi publicada há quase um ano no Diário
Oficial da União e foi fruto de amplo debate com o governo e após tramitar por
todas as comissões e nos plenários da Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Mesmo antes desse processo democrático e transparente de discussão, as
propostas foram exaustivamente analisadas e discutidas pela administração da
Receita Federal e a representação dos servidores da Casa. Até a promulgação da
Lei foram quase cinco anos de debates que possibilitaram a construção de um
acordo remuneratório que atendeu a demandas dos servidores, mas, acima de tudo,
permitiram a instituição de um instrumento de gestão e de melhoria da
eficiência da Administração Tributária e Aduaneira, o Bônus de Eficiência.
Inexplicavelmente, a publicação do decreto que regulamenta
o Bônus de Eficiência foi travada pelo governo. Foram cinco anos de debates e
discussões intensas visando a consolidação de um instrumento de gestão que
busca fortalecer a eficiência da Receita Federal e assegurar um caráter
institucional ainda mais sólido para o órgão responsável pela Administração
Tributária e Aduaneira na esfera federal.
Ao não regulamentar dispositivos da Lei nº 13.464/2017, o
governo forçou os servidores da Receita Federal a iniciarem uma greve em defesa
da instituição e de seus direitos. Desde o início do ano, o governo tem
silenciado em relação à regulamentação do Bônus de Eficiência gerando um quadro
cada vez maior de insegurança e instabilidade na rotina da Receita Federal.
Seguramente, instituições mais sólidas são mais capazes
de responder as necessidades do País, especialmente em momentos de crise. A
Receita Federal é um órgão do Estado brasileiro que, mesmo apresentando
dificuldades e limitações, desempenha um papel fundamental para a economia do
País e, também para o enfrentamento da violência, ao ser responsável pelo
combate de crimes, como a sonegação fiscal, a evasão de divisas, a corrupção, o
contrabando e o descaminho.
A saída para a crise que vivenciamos hoje passa,
justamente, pelo fortalecimento das instituições, pelo aperfeiçoamento e
melhoria da gestão de órgãos públicos e, também pela profissionalização e
reconhecimento dos servidores públicos. Enfraquecer e desestabilizar a Receita
Federal implica em reduzir a capacidade de fiscalização e controle do Estado
brasileiro e não podemos permitir mais esse ataque aos interesses dos
brasileiros.
Geraldo Seixas – presidente do Sindicato Nacional
dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita)
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