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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Mariana



Pés frios, grossos e sujos
Nos montes sagrados
Mariana das Minas Gerais.
Nome suave entre os sacros
Mensageiro da paz da alma
Foste atacada, Mariana,
Pela repulsiva lama
Vinda da voracidade
Que expressa a vil propensão
Comum da ganância.
Os filhos de Bento
Não erguerão já os pés da lama
Ainda que sobre sua infâmia
Resistam amores e virão
Netos imprevisíveis do sujo
Mundo em que se converteram
Sinceros devotos e suas procissões.
A cruz usada ficará com as bactérias
Como se estivesse a cumprir pena
Por seu peso e sua perfídia inerte.
Vão-se dois milênios da infame condenação.
Dessa terra levaram ouro
Como se fosse arroz.
Peneiravam água limpa
Separavam o metal precioso
Surrupiado pelos fiscais da colônia.
Só ficaram as igrejas magníficas
Esculpidas por um pequeno aleijado
Onde é necessário manter a fé
Como se estivessem no céu.
Ritos em latim nas missas e novenas.
Lá fora hoje a lama os espera
Mole, líquida, bruta, cruel
Como o vinagre que elevou os olhos
De Jesus a interrogar seu pai no céu.
Sua raça é resistente e forte
Sabe o que é pobreza e fé
Em Minas nascerão muitas Marianas
Que darão beijos consoladores
No pobre povo das lamas.
Resistam.
Amanhã será história
De seu filho Alphonsus:
"Jerusalém, em meio às Doze Portas,
Dorme: no luar que lhe vem beijar os flancos
Evoca ruínas de cidades mortas."


  
Amadeu Roberto Garrido de Paula - advogado e poeta. Autor do livro Universo Invisível e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.  


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