O Brasil acaba de abrir as janelas da
casa para arejar sua economia e seus costumes após um período de instabilidade,
longo o bastante para uma Nação que busca se desenvolver pelo trabalho e pelo
talento de seu povo. No cenário anterior de dificuldades, muitas empresas
fecharam as portas, outras pediram redução de honorários e salvaram-se aquelas
que enxergaram oportunidades na crise.
Mas não havia luz no fim do túnel para
a grande maioria no círculo vicioso que se encerrou com o afastamento
temporário da presidente Dilma Rousseff. Depois de muito sofrimento – como o de
onze milhões de desempregados e suas famílias -, e de uma economia combalida,
podemos enxergar de novo um clarão.
E, finalmente, trocar o círculo vicioso
por um círculo virtuoso. Pelas palavras e atitudes do presidente interino
Michel Temer, o País mudou de cara e de tom. Vislumbramos a volta da confiança,
principal ingrediente para fazer a economia retomar o crescimento.
Aos poucos o consumo será reaquecido, a
indústria voltará a produzir e o comércio a vender. Perde-se o temor do
desemprego. Sabemos que a nossa população tem sede de consumo e costuma desviar
nisso parte do que deveria reservar para a poupança. É uma questão de educação
e de tempo, até que aprenda a consumir de forma responsável.
O novo governo deve aproveitar os
ventos favoráveis para levar adiante as reformas necessárias - política,
tributária, trabalhista e previdenciária. Tudo o que engessa a economia e
impede que as empresas concorram de igual para igual no mundo globalizado.
O sistema tributário, por exemplo, é
uma colcha de retalhos. Temos de tudo no Brasil: IPI, ICMS, COFINS, CSLL, ISS e
mais uma fileira de siglas, tudo aplicado de uma vez só. Em países evoluídos
existem também esses tributos – mas cada qual tem o seu, isolado e bem dosado
para facilitar a vida das
empresas.
Fora a insegurança jurídica, pois leis
e normas vão se sobrepondo e criando um labirinto sem saída. Nenhum país é tão
complicado para as empresas quanto o Brasil em matéria de calcular e pagar
impostos.
Para estar em dia com a legislação
tributária, são necessárias 2.600 horas ou 108 dias corridos, mais que o dobro
do tempo gasto em qualquer outro país e dez vezes mais que a média mundial,
segundo um estudo Paying Taxes, feito pelo banco Mundial e pela
PricewaterhouseCoopers. E isso custa muito caro.
Desde que a Constituição de 1988 entrou em vigor, mais de cinco milhões
de normas foram criadas para
reger a vida do cidadão brasileiro, entre emendas constitucionais, leis
delegadas, complementares e ordinárias, medidas provisórias, decretos e normas
complementares e outros. Ou seja, foram publicadas, em média, mais de 782
normas por dia nos âmbitos federal, estadual e municipal.
Não
é fácil mudar este estado de coisas. Se alguém decide alterar um ICMS, por
exemplo, no dia seguinte uma caravana de governadores e secretários de Estado
desembarca em Brasília para se contrapor à ideia. Os Estados sempre impediram
uma reforma tributária séria.
O
presidente interino Michel Temer acena com um Pacto Federativo, previsto pela Constituição nos artigos
145 a 162. Entre outros temas, são definidas ali as competências tributárias
dos entes da Federação e os encargos ou serviços públicos pelos quais são
responsáveis. A partir daí poderemos sonhar com uma reforma mais justa,
equitativa e racional.
A
reforma trabalhista também é premente. Não se entende pautar a vida econômica
no País hoje por uma legislação que entrou em vigor em 1948. A economia é
dinâmica, se renova diariamente e as leis trabalhistas precisam acompanhar as
mudanças.
O trabalhador brasileiro ainda é
tratado como hipossuficiente, como na época do Brasil rural. É por isso que a
justiça trabalhista não reconhece os acordos coletivos como expressão da
vontade de patrões e empregados. Mais de oito milhões e 400 mil processos
tramitam só nessa esfera judicial.
A reforma previdenciária é mais que
urgente. O déficit deve se aproximar dos R$
125 bilhões este ano, uma bola de neve que sufoca a economia. Há de se resolver
agora os problemas e os trabalhadores devem ter consciência de que só receberão
amanhã se contribuírem hoje com uma quantia justa.
Por fim, a reforma
política. A Operação Lava Jato deverá dar uma enorme contribuição à moralização
dos costumes da velha política. Mais uma vez o exemplo deve vir de cima,
com um comportamento ético e uma diretriz que aprimore a democracia e permita
as demais reformas. Parlamentarismo, por exemplo, é uma das ideias em debate.
Pode funcionar.
Os brasileiros apoiarão todas as mudanças que tragam melhorias para o País e esse é o momento adequado. Algumas das medidas já anunciadas mereceram aplausos, entre elas a contenção dos gastos públicos e a revisão do pré-sal, desobrigando a Petrobras de ser a operadora única e de ter participação mínima de 30% nos grupos formados para sua exploração.
E nós,
profissionais da área contábil, aprovaremos qualquer movimento a favor do
Brasil.
Márcio Massao
Shimomoto - presidente do SESCON–SP (Sindicato das Empresas de Serviços
Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas
no Estado de São Paulo)
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