Que planos você tem para sua saúde? Certamente é de ter acesso a serviços de qualidade, ser bem atendido e não pagar nada. Ninguém pode dizer que está errado. A bem da verdade, está correto. A Constituição Federal estabelece que saúde é direito de todos e dever do Estado. Aliás, todos nós capitalizamos o Estado e, portanto, a saúde pública, ao contribuir com impostos.
Antes de
entrar a fundo na questão, mais uma breve informação para reflexão: só até 3 de
setembro, já havíamos pago mais de R$ 6 bilhões em tributos. Temos uma das
cargas tributárias mais elevadas do mundo, mais ficamos na vergonhosa trigésima
posição entre países na relação arrecadação do Estado X bem-estar social.
Nesse
contexto, e com todas as dificuldades do Sistema Único de Saúde, você vai
saltar para a rede suplementar, caso possa, pensando: bons hospitais, acesso
total, cobertura ampla. Correto? Sua meta pode ser até essa, ok! Mas a questão
é que provavelmente terá sonhos desfeitos instantaneamente.
Faz tempo o
setor de planos de saúde libera os rankings de queixas dos consumidores.
Pesquisas de diversas entidades de Medicina mostram que é comum, em muitas
empresas, pressionar médicos para reduzir exames, internações etc, inclusive
com ameaças e rompimento de contratos.
Agora, para
piorar, estão tentando institucionalizar a bandalheira de vez. Tanto no
Congresso Nacional quanto na Justiça, planos de saúde jogam pesado para mudar
leis, abrindo as portas para negar atendimento de diversos procedimentos.
É lamentável toda essa situação, sem contar os reajustes anuais acima da
inflação, além dos estratosféricos aumentos por mudança de faixa etária. Não
existe equilíbrio entre os agentes da rede suplementar e operadoras de saúde
sempre tentar tirar mais dos pacientes e dos médicos.
Faz 20 anos, a
Associação Médica Brasileira fez uma campanha publicitária com o slogan: Tem
plano de saúde que enfia a faca em você e tira o sangue dos médicos. Continua
atualíssima. Transcorridas duas décadas, se algo mudou, foi negativamente. E a
tendência segue a direção do fundo do poço.
Como médico e paciente, expresso a
indignação que sei também ser sua. Resta-nos tentar nos unir e defender nossa
dignidade. Nós a temos.
Antonio Carlos Lopes - presidente da Sociedade
Brasileira de Clínica Médica
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