A partir deste ano, o Brasil passa a contar com uma
data especialmente dedicada à prevenção da gravidez precoce. E para celebrar
este marco histórico, que acontecerá durante a primeira semana do mês de
fevereiro, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lança uma campanha para
engajar, sensibilizar e fortalecer a atuação dos pediatras e hebiatras –
especialistas responsáveis pela assistência à saúde dos adolescentes – nesta
causa.
Por meio do site Prevenção
da Gravidez na Adolescência, a SBP apresentará aos médicos e à
sociedade uma série de informações relevantes, como dados estatísticos, alertas
sobre os riscos da gravidez precoce e detalhes da Lei
nº 13.798/2019, que instituiu a Semana Nacional dedicada ao tema.
Também serão distribuídos cards pelas redes sociais e e-mail marketing aos mais
de 23 mil associados.
Dois importantes documentos científicos também
estarão à disposição dos pediatras a partir desta semana. Um deles é o guia
prático “Prevenção da Gravidez na Adolescência” e o manual de orientação
“Consulta do Adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais como
instrumentos ao pediatra”, ambos de autoria do Departamento Científico de
Adolescência da SBP.
AVANÇOS – De acordo com a presidente do Departamento,
dra. Alda Elizabeth Azevedo, estabelecer uma data oficial dedicada à prevenção
da gravidez na adolescência representa uma grande oportunidade de avançar neste
debate. Segundo o texto da Lei nº 13.798/2019, as ações relacionadas à Semana
devem ser realizadas em conjunto com organizações da sociedade civil, devendo
ser dirigidas prioritariamente ao público adolescente.
“Trata-se de uma iniciativa importante, visto que
políticas públicas com foco na saúde dessa faixa etária ainda são escassas.
Para que haja realmente progresso, no entanto, a prevenção precisa ser
entendida em seu sentido amplo, com foco na assistência integral dos
adolescentes e não apenas reduzido à uma questão da saúde sexual”, afirma.
AGRADECIMENTO – O anúncio da
instituição da Semana Nacional foi muto bem recebido pelos dirigentes da SBP,
que nesta semana também encaminharam um ofício de agradecimento ao presidente
da República, Jair Messias Bolsonaro. Na mensagem, a presidente da SBP, dra.
Luciana Rodrigues Silva, destacou que, ao projetar este tema em âmbito
nacional, o Governo Brasileiro demonstra sensibilidade e compromisso com a vida
de milhões de adolescentes e jovens.
“A inclusão deste público nas políticas de saúde,
especialmente naquelas voltadas para a saúde sexual e saúde reprodutiva, requer
uma profunda reflexão, sobre a qual os pediatras têm se dedicado ao longo dos
anos. Nós, pediatras brasileiros, seguiremos atentos na busca por melhores
condições de vida para crianças e adolescentes, alinhados a
iniciativas que fortaleçam as conquistas previstas no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA)”, disse.
PANORAMA – De
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), na América Latina e
no Caribe a taxa de gravidez entre adolescentes é a segunda mais alta do mundo
– ficando atrás somente da África Subsaariana. Anualmente, ocorrem em média 66
nascimentos para cada mil meninas com idade entre 15 e 19 anos, enquanto o
índice mundial é de 46 nascimentos.
Segundo os dados do Sistema de Informação sobre
Nascidos Vivo (Sinasc), do Ministério da Saúde, o percentual de gravidez na
adolescência teve uma queda de 17% no Brasil em 2015. Em números absolutos, a
redução foi de 661.290 nascidos vivos de mães entre 10 e 19 anos em 2004 para
546.529 em 2015. No entanto, apesar dos avanços, o número ainda é considerado grande,
representando cerca de 18% do total de nascidos vivos no País.
A pobreza, a falta de acesso à informação e a
métodos contraceptivos são os principais fatores que contribuem para a
manutenção deste quadro. “As meninas mais pobres têm cinco vezes mais chances
de engravidar do que as mais ricas. Se a família, a escola e o Estado falham no
dever de garantir a proteção integral das crianças e dos adolescentes, esse
problema tende a se repetir”, pontua a dra Alda Elizabeth.
RISCOS – Além do aspecto social envolvido, a
gravidez na adolescência está associada a uma série de riscos à saúde da mulher
e do bebê. Elevação da pressão arterial e crises convulsivas (eclampsia e
pré-eclâmpsia) são alguns dos problemas de saúde que podem acometer a jovem
grávida. Dentre os agravos mais comuns no bebê, estão a prematuridade e o
baixo peso ao nascer.
“O índice de mortalidade entre os filhos de mães
adolescentes é muito alto. Cerca de 20% da mortalidade infantil no Brasil
decorre do óbito precoce dessa faixa”, destaca a dra. Evelyn Eisenstein, membro
do DC de Adolescência da SBP. Além disso, a especialista diz que a adolescente
em gestação geralmente tem suas atividades escolares interrompidas,
“característica que contribui ainda mais para a vulnerabilidade social da mãe e
do bebê, que dependerão da tutela ostensiva de sua família para sua
sobrevivência”.