O câncer de endométrio é de duas a quatro vezes mais comum
em mulheres obesas ou com sobrepeso e, havendo obesidade severa, a
probabilidade de desenvolver a doença pode ser até sete vezes maior. O alerta é
do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA), que se une ao International
Gynecologic Cancer Society (IGCS) na divulgação de informações, cuidados e
avanços nas pesquisas referentes à esta doença, que é o segundo câncer
ginecológico mais comum entre as brasileiraslightsource_depositphotos
Estão mais suscetíveis a desenvolver a doença as
mulheres com mudanças no equilíbrio dos hormônios (estrogênio e progesterona)
no corpo, menarca precoce (primeira menstruação antes dos doze anos), maior
tempo de menstruação ao longo da vida, nunca ter estado grávida, ter recebido
terapia hormonal com tamoxifeno para tratar câncer de mama ou estar enquadrada
em uma síndrome hereditária que aumenta o risco de câncer (síndrome de Lynch)
que aumenta o risco de câncer de cólon e outros tipos de câncer, incluindo
câncer de endométrio. E, entre esses fatores, mais um se destaca, que é a
obesidade.
De acordo com o National Cancer Institute (NCI), dos
Estados Unidos, o câncer de endométrio é de duas a quatro vezes mais provável
em pessoas com obesidade ou sobrepeso. Já entre as mulheres com obesidade
severa, a probabilidade de desenvolver um tumor no endométrio (corpo do útero)
pode ser até sete vezes maior. “O principal fator de risco para desenvolver o
câncer de endométrio é o desequilíbrio entre a exposição de estrógeno e
progesterona no endométrio, ou seja, a exposição contínua do endométrio ao hormônio
estrogênio sem oposição da progesterona. A obesidade é uma condição clínica que
leva a esse aumento do estrógeno circulante, já que a gordura periférica é
capaz de aumentar a produção desse hormônio, ”, exemplifica a oncologista
clínica Aknar Calabrich, da Comissão de Ética do EVA e titular da DASA
Oncologia.
Junho, o Mês de
Conscientização do Câncer de Endométrio
Em 2023, a International Gynecologic Cancer Society
(IGCS) declarou o mês de junho como o Mês de Conscientização do Câncer de
Endométrio (câncer do corpo do útero) e agora, em 2024, pelo segundo ano
consecutivo, ele se junta ao Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA)
para divulgar os avanços nas pesquisas e cuidados para todos os pacientes do
mundo, além de falar sobre os fatores de risco e desafios desta doença, com o
objetivo de transformar em uma campanha global. “Educar as mulheres sobre o
câncer de endométrio não apenas promove a detecção precoce, aumentando as
chances de tratamento bem-sucedido, mas também capacita as mulheres a cuidarem
melhor de sua saúde reprodutiva e geral”, afirma a oncologista clínica Andréa
Guimarães, coordenadora de Advocacy do Grupo Brasileiro de Tumores
Ginecológicos (EVA) e titular do A.C.Camargo Cancer Center.
O câncer de endométrio é caracterizado pelo
crescimento anormal de células no revestimento interno do útero, conhecido como
endométrio. Entre os sintomas mais comuns estão o sangramento vaginal anormal,
dor pélvica, dor durante a relação sexual e alterações no ciclo menstrual. “O
sangramento vaginal na pós menopausa é o principal sintoma da doença e ocorre
na grande maioria das mulheres com câncer de endométrio, mesmo nos estágios
iniciais. Nas pacientes pré menopausa, o sangramento ocorre entre os ciclos ou
há uma mudança da quantidade e tempo da menstruação. Portanto, é fundamental
que as mulheres estejam atentas a quaisquer mudanças em seu corpo e procurar
regularmente seu ginecologista. Quando o câncer de endométrio é detectado
precocemente, as chances de cura são altas”, comenta Aknar Calabrich.
Vários fatores podem aumentar o risco de desenvolvimento
de câncer de endométrio, incluindo obesidade, histórico familiar da doença,
diabetes, terapia de reposição hormonal e idade avançada. Muitos desses fatores
de risco estão associados ao estilo de vida, portanto a adoção de medidas
preventivas, como manter um peso saudável, realizar atividade física e
controlar a ingestão de açúcar podem desempenhar um papel crucial na redução do
risco.
Além dos fatores citados acima, existem outras
características que podem aumentar o risco de desenvolver a neoplasia:
- Idade: geralmente ocorre em
mulheres na pós-menopausa.
- Estrogênio: terapia de reposição
hormonal, nunca ter tido filhos, menarca (primeira menstruação) precoce e
menopausa tardia.
- Hiperplasia
atípica: que
é o espessamento do endométrio causado por exposição ao estrogênio,
presente em mulheres que não ovulam todos os meses.
- Síndrome
do ovário policístico
- Pressão
alta (Hipertensão arterial sistêmica)
- Câncer
prévio:
câncer de mama e tratamento com tamoxifeno ou radioterapia na região
pélvica.
- Histórico
familiar:
mulheres com síndrome de Lynch (um tipo de câncer de intestino
hereditário) também correm maior risco de desenvolver câncer de
endométrio.
O diagnóstico de condições relacionadas ao
endométrio geralmente envolve o uso do ultrassom pélvico transvaginal, que é
considerado a principal técnica de avaliação inicial. “Esse método, juntamente
com exame físico e a consideração dos sintomas associados, compõe uma abordagem
abrangente. Normalmente, durante a consulta ginecológica anual, o médico pode
solicitar esses exames. Caso haja alguma anormalidade detectada, é recomendável
encaminhar a paciente para avaliação adicional com um especialista”, acrescenta
Calabrich.
SINTOMAS DE ALERTA:
- Sangramento
anormal: 90%
das mulheres com câncer de endométrio têm sangramento vaginal anormal após
a menopausa ou entre períodos menstruais. Entre 5% e 20% das mulheres na
pós-menopausa com esse sintoma têm câncer de endométrio. Isso pode indicar
uma série de outras doenças, mas é preciso sempre consultar um
especialista para saber a causa.
- Dor
na pelve
- Sentir
uma massa nessa região
- Perda
de peso inexplicável
TRATAMENTO PARA PACIENTES COM
CÂNCER DE ENDOMÉTRIO – Quanto aos
tratamentos, as opções variam de acordo com o estágio da doença e a saúde geral
de cada paciente, podendo incluir:
- Cirurgia:
histerectomia
(remoção do útero), geralmente acompanhada por retirada das trompas e dos
ovários e, em alguns casos, a retirada dos linfonodos. O procedimento pode
ser feito com técnicas minimamente invasivas, como laparoscopia e cirurgia
robótica. A cirurgia serve também como principal método de estadiamento,
ou seja, avaliar a extensão da doença nos órgãos pélvicos.
- Quimioterapia:
método
terapêutico que utiliza medicamentos específicos para erradicar as células
cancerosas, agindo em múltiplas etapas do metabolismo celular. Esses
remédios têm a capacidade de alcançar as células malignas em qualquer
região do corpo.
- Radioterapia: tratamento que utiliza a
radiação para destruir ou impedir o crescimento das células de um tumor,
controlar sangramentos e dores e reduzir tumores que estejam comprimindo
outros órgãos. Durante as aplicações, a paciente não consegue ver a
radiação e nem sentir dor.
- Combinação
de uma ou mais dessas modalidades: dependendo do tipo de câncer e de seu
estadiamento podem ser realizadas a cirurgia e depois quimioterapia e
radioterapia.
- Imunoterapia: modalidade que estimula o
sistema imunológico a combater o câncer. É utilizado no câncer de endométrio
quando a doença não pode ser mais curável com cirurgia ou radioterapia.
Apresenta alta ação nas pacientes com risco genético hereditário (síndrome
de Lynch).
“O tratamento do câncer de endométrio é altamente
individualizado e requer uma abordagem multidisciplinar. “É essencial que as
pacientes tenham acesso a equipes médicas especializadas que possam oferecer o
melhor plano de tratamento para sua situação específica”, finaliza
Calabrich.
Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos- EVA
Referências bibliográficas
1 – Instituto Nacional de Câncer (INCA): Câncer Corpo do útero - INCA
2 – Instituto Nacional de Câncer (INCA): Neoplasia maligna do corpo do útero e do ovário (taxas ajustadas) - INCA
3 -International Agency for Research on Cancer: Absolute Numbers, Incidence, Females, in 2022 – IARC
4 – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO): Dia Mundial do Câncer: atividade física contribui significativamente para a redução do risco da doença, 05/02/2024 - FEBRASGO
5 – A.C. Camargo Cancer Center: Centro de Referência de Tumores Ginecológicos Câncer de Endométrio, 2020. – A.C.Camargo
6 – International Gynecologic Cancer Society: June is Uterine Cancer Awareness Month - IGCS
7 – NIH/NCI - https://www.cancer.gov/about-cancer/causes-prevention/risk/obesity/obesity-fact-sheet