Pouco conhecido pela população, a
doença apresenta semelhanças clínicas e limitações diagnósticas que dificultam sua
identificação precisa
O vírus Mayaro é um arbovírus transmitido principalmente por mosquitos do gênero Haemagogus e é endêmico em áreas florestais da América do Sul. No Brasil, é uma doença negligenciada e apresenta semelhança clínica com outras infecções como dengue e chikungunya, o que leva ao subdiagnóstico e a dificuldade de planejamento e estratégias de controle. A falta de testes diagnósticos específicos também dificulta a identificação precisa da infecção. Estatísticas epidemiológicas indicam que o vírus tem sido identificado nas regiões Norte e Nordeste há décadas, enquanto observa-se um aumento no número de casos registrados no Centro-Oeste e Sudeste nos últimos anos.
De acordo com João Renato Rebello Pinho, médico patologista
clínico e membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica /Medicina
Laboratorial (SBPC/ML), os sintomas da Mayaro podem ser facilmente confundidos
com outras arboviroses. "A dengue também pode apresentar dores nas
articulações e músculos, mas geralmente não de forma tão persistente quanto na
febre da Mayaro. Na dengue, é mais comum observar sangramentos nasais,
gengivais e outros tipos de hemorragias, especialmente em casos graves. Já na
chikungunya, a dor nas articulações é frequentemente debilitante e pode durar
meses ou até anos, sendo mais intensa e comum que no Mayaro", explicou.
Os sintomas da febre Mayaro incluem febre alta, dor nas articulações, dor muscular, erupções cutâneas com manchas vermelhas, cefaléia intensa, sensação de cansaço e fraqueza, náuseas e vômitos. Ela se distingue de outras arboviroses principalmente pela persistência das dores nas articulações, que ocorre em aproximadamente 30% dos casos. Sobre os testes diagnósticos, João Renato ressalta que "durante os primeiros cinco dias da doença, é indicado realizar testes moleculares (PCR). Após o quinto dia, testes sorológicos para a detecção de anticorpos IgM são recomendados".
O vírus Mayaro é transmitido pela picada de mosquitos infectados. No entanto, outros mosquitos do gênero Aedes, como Aedes aegypti, também podem atuar como vetores secundários, especialmente em áreas onde os humanos têm maior contato com ambientes florestais. João Renato ressalta que a prevenção se concentra em evitar picadas de mosquitos e no controle das populações de vetores. "Medidas incluem o uso de repelentes, roupas de mangas longas, calças compridas e chapéus, além da instalação de telas de proteção em portas e janelas e o uso de mosquiteiros ao dormir. Além disso, é crucial eliminar locais de água parada, potenciais criadouros de mosquitos, e utilizar larvicidas em locais de difícil eliminação de água", reforçou o especialista da SBPC/ML, acrescentando que campanhas educativas são essenciais para informar a população sobre os riscos e medidas preventivas.
Não existe um tratamento específico ou vacina disponível para a
infecção pelo vírus Mayaro. Segundo o patologista clínico da SBPC/ML, João
Renato, a abordagem principal é o tratamento sintomático e de suporte,
incluindo controle da febre, da dor, hidratação e repouso. "Complicações a
longo prazo podem incluir dores nas articulações e fadiga crônica, que podem
persistir por semanas ou meses, impactando significativamente a qualidade de
vida dos pacientes. Em casos graves, pode ser necessário acompanhamento
reumatológico", ressaltou.
SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e
Medicina Laboratorial.
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