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quarta-feira, 5 de junho de 2024

Água tratada perdida poderia abastecer 54 milhões de brasileiros por um ano, enquanto mais de 32 milhões de brasileiros vivem sem o recurso


  • A água potável perdida na operação, abasteceria toda população do Rio Grande do Sul (10,6 milhões de habitantes) por mais de cinco anos
  • O volume desperdiçado poderia abastecer o equivalente à toda população da região Nordeste
  • Mais de 7,6 mil piscinas de água potável são desperdiçadas todos os dias
  • Considerando todas as perdas físicas, seria possível abastecer os 17,9 milhões de brasileiros que vivem em favelas por mais de três anos
  • Frente aos impactos das mudanças climáticas, a redução do desperdício implicaria na disponibilidade de mais água sem a necessidade de captação em novos mananciais
  • Redução de perdas de água de 37,8% para 25% resultaria em ganhos de R$40,9 BI até 2034


O Instituto Trata Brasil (ITB), organização da sociedade civil que busca a universalização do saneamento no país, em parceria com a consultoria GO Associados, publica o “Estudo de Perdas de Água 2024 (SNIS, 2022): Desafios na Eficiência do Saneamento Básico no Brasil”, que busca expor o grande problema econômico e social da ineficiência no controle de perdas de água em nosso país. 

O estudo foi elaborado a partir de dados públicos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, ano-base 2022) e compreende uma análise do Brasil, de suas cinco macrorregiões, das 27 Unidades da Federação e também dos 100 municípios mais populosos do país (incluindo as capitais dos estados), que figuraram no Ranking do Saneamento de 2024. No Brasil, ainda existem cerca de 32 milhões de pessoas que sofrem com a ausência de água tratada. A situação torna-se ainda mais preocupante quando analisado o elevado índice de perdas na distribuição, em que 37,78% da água é perdida antes de chegar às residências brasileiras. 

Entre os gargalos a serem superados pelo país para a universalização do saneamento básico, é necessária maior eficiência no controle de perdas de água. O presente estudo aponta que o volume total de água não faturada em 2022 (cerca de 7,0 bilhões de m³) equivale a quase 7.636 piscinas olímpicas de água tratada desperdiçadas diariamente ou mais de sete vezes (7,1) o volume do Sistema Cantareira – o maior conjunto de reservatórios do estado de São Paulo. 

 

O QUE É PERDA DE ÁGUA?

No processo de abastecimento de água, pode haver perdas por vários motivos, como vazamentos, erros de medição e consumos não autorizados. Esses desperdícios trazem impactos negativos ao meio ambiente, à receita e aos custos de produção das empresas, o que deixa mais caro o sistema como um todo, prejudicando, em última instância, todos os usuários. 

Então o ideal seria termos zero de perdas de água? Apesar da resposta ser sim, de acordo com a literatura sobre o tema[1], não ter perdas no sistema é algo inviável por limites econômicos (em determinado ponto, o custo fica superior ao do volume recuperado) e limites técnicos (existe um volume mínimo de perdas dadas as tecnologias atuais de materiais, ferramentas e logística). 

No Brasil, a definição de nível aceitável de perdas de água foi definida pela Portaria 490/2021, do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), que indica que para um município contar com níveis excelentes de perdas, deve ter no máximo 25% em perdas na distribuição e 216 L/ligação/dia em perdas por ligação[2].

 

IMPACTO DAS PERDAS DE ÁGUA NO BRASIL 

Para entender o impacto do controle de perdas, considerando-se somente as perdas físicas (vazamentos), o volume (mais de 3,6 bilhões de m³) seria suficiente para abastecer aproximadamente 54 milhões de brasileiros em um ano. Esta quantidade não somente equivale a mais de um quarto da população do país em 2022, como também está bastante acima do número de habitantes sem acesso ao abastecimento de água nesse ano, cuja grandeza situa-se em torno de 32 milhões. 

Além disso, com esse mesmo volume, seria possível abastecer os 17,9 milhões de brasileiros que vivem em favelas por mais de três anos. Ao meio ambiente, a redução dessas perdas implicaria a disponibilidade de mais recurso hídrico para a população sem a necessidade de captação em novos mananciais. 

Com o cenário de mudanças climáticas, os desafios para a disponibilidade hídrica nos mananciais se tornam cada vez mais evidentes. As perdas reais afetam diretamente os custos de produção e a demanda por água. Neste sentido, um elevado nível de perdas reais equivale a uma captação e a uma produção superiores ao volume efetivamente demandado, gerando ineficiências nos seguintes âmbitos:

 

Desequilíbrios na produção de água:

  • Maior custo dos insumos químicos, energia para bombeamento, entre outros fatores de produção;
  • Maior custo de manutenção da rede e de equipamentos;
  • Uso excessivo da capacidade de produção e de distribuição existente; e
  • Maior custo oriundo da possível utilização de fontes de abastecimento alternativas de menor qualidade ou de difícil acesso.


Desequilíbrios ambientais:

  • Pressão excessiva sobre as fontes de abastecimento do recurso hídrico, uma vez que se capta mais água do que efetivamente chega à população; e
  • Maior custo posterior para mitigação dos impactos negativos dessa atividade (externalidades).

 

BENEFÍCIOS SOCIAIS COM A REDUÇÃO DE PERDAS

A tabela a seguir aponta as principais estatísticas descritivas a partir da redução de perdas de água não faturada, desagregadas por estado. 

Ao se admitir não uma eliminação total das perdas físicas, mas uma redução dos atuais 37,78% aos 25% previstos pela Portaria 490/2021, o volume economizado seria da ordem de 1,3 bilhão de m3. Isso equivale ao consumo médio do recurso de aproximadamente 22 milhões de brasileiros em um ano, mais da metade da quantidade de habitantes sem acesso ao abastecimento de água em 2022.

 

QUADRO 1: BENEFÍCIOS SOCIAIS DA REDUÇÃO DE PERDAS POR ESTADO (2022)

UF

Piscinas Olímpicas Diárias

População Potencialmente Atendida

AC

52

297.096

AL

147

303.879

AP

44

307.445

AM

266

1.096.435

BA

458

2.075.102

CE

203

848.329

DF

107

225.492

ES

131

349.011

GO

118

143.693

MA

414

1.912.420

MT

167

602.914

MS

115

184.048

MG

681

1.878.427

PA

265

591.915

PB

56

194.368

PR

305

929.900

PE

410

1.939.630

PI

157

554.337

RJ

1.007

606.301

RN

109

598.765

RS

512

1.459.696

RO

70

428.972

RR

45

252.365

SC

266

615.766

SP

1.377

2.390.337

SE

111

775.170

TO

41

109.747

BR

7.636

21.671.562

Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados. Nota: a população potencialmente atendida é calculada considerando-se somente as perdas físicas, e sua redução até a meta de 25% da Portaria 490/2021.


CENÁRIO NACIONAL DE PERDAS NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS

Quando se comparam os indicadores de perdas de água do Brasil com os padrões internacionais, observa-se que o sistema de abastecimento ainda apresenta grande distância da fronteira tecnológica em termos de eficiência. As perdas de água no Brasil situaram-se em torno de 35% (a depender do indicador observado) em 2022, cerca de 20 pontos percentuais acima da média dos países desenvolvidos, que foi de 15%. 

Indicador mais comumente utilizado para a análise geral de perdas no país, o IN049 – Índice de Perdas na Distribuição busca estabelecer uma relação entre a água produzida e a água efetivamente consumida nas residências. Ele apresentou uma discreta melhora no último ano, porém o valor ainda é significativamente superior à meta de 25%.

 

Quadro 2: Evolução das Perdas na Distribuição no Brasil, 2018–2022

Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados.


MAIORES REDUÇÕES DE PERDAS NA DISTRIBUIÇÃO NOS ÚLTIMOS ANOS

 

QUADRO 3: MELHORES EVOLUÇÕES DO IN049 – ÍNDICE DE PERDAS NA DISTRIBUIÇÃO

Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados. Nota: Evolução em pontos percentuais.

Entre os municípios com as evoluções de maior destaque está Cariacica (ES)

, que apresentou a maior redução no índice nos últimos cinco anos – a cidade evoluiu em 34,1 pontos percentuais (p.p.) e apresentou apenas 25,03% de perdas de água em 2022, índice próximo da meta estabelecida para 2034 pela Portaria 490/2021 do MDR de se alcançar 25% em perdas na distribuição (IN049).

 

CENÁRIO INTERNACIONAL

No cenário internacional, para efeito de comparação do indicador de perdas brasileiro com o de outros países, a fonte utilizada é a International Benchmarking Network for Water and Sanitation Utilities (IBNET) - vale destacar que a periodicidade dos dados disponíveis varia bastante entre os países. Para fins de comparação, no caso brasileiro, foi considerado o IN049 – Índice de Perdas na Distribuição do SNIS de 2022, no valor de 37,78%. 

Observa-se que o Brasil está distante tanto de países desenvolvidos, como de seus pares em desenvolvimento. O país obteve a 78ª posição no ordenamento das 139 nações analisadas, ficando atrás da China de 2012, com 20,54%, da Rússia de 2020, com 26,59%, e da África do Sul de 2017, com 33,73%, estando à frente somente da Índia de 2009, que tinha 41,27% de perdas de água[3].

 

RECORTE POR REGIÃO

A situação de perdas no Brasil apresenta significativas diferenças quando se comparam suas diversas macrorregiões. É possível concluir que Norte e Nordeste são as mais carentes e que devem enfrentar os maiores desafios para reduzirem seus índices de perdas. Além disso, essas regiões também são aquelas que possuem os piores indicadores de atendimento de água, de coleta e de tratamento de esgotos. 


Quadro 4: Perdas na Distribuição por Macrorregião Brasileira, 2022


                                      Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados.


TABELA 1 – INDICADORES DE ACESSO À ÁGUA NAS REGIÕES


Fonte: SNIS 2022


Ao longo do período analisado, é notável que não houve nenhuma evolução significativa nos indicadores de perdas sob a perspectiva macrorregional (quadro abaixo). Pelo contrário, a tendência é de estagnação, com poucas exceções. No indicador de perdas na distribuição, a macrorregião que mais apresentou piora no último quinquênio de dados do SNIS, 2018–2022, foi a Nordeste, com aumento de 0,69 ponto percentual. Por outro lado, observa-se a notável melhora na macrorregião Norte, com redução de 8,59 pontos percentuais no mesmo período, embora ainda seja o maior índice dentre as macrorregiões brasileiras.

 

Quadro 5: Evolução das Perdas na Distribuição por Macrorregião


Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados.

 

RECORTE DE INDICADORES POR ESTADO

Analisando os indicadores de perdas a nível estadual, a tendência observada anteriormente é mantida, com os estados das macrorregiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentando desempenho acima da média nacional, e os estados das macrorregiões Norte e Nordeste abaixo dela.

 

Quadro 6: Perdas na Distribuição por Estado, 2022

Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados.

 

Quadro 7: Perdas por Ligação por Estado, 2022

Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados. Nota: unidades em L/ligação/dia

  

RECORTE PARA OS 100 MAIORES MUNICÍPIOS BRASILEIROS

A média dos 100 maiores municípios no índice de perdas de água na distribuição foi de 35,04%, valor inferior à média nacional de 37,78%. Entretanto, o índice continua distante dos padrões de excelência estabelecidos pela Portaria 490/2021.

 

DESTAQUES MUNICIPAIS POSITIVOS

Somente nove dentre os 100 municípios mais populosos do Brasil em 2022 atendiam às metas da Portaria 490/2021 simultaneamente, indicando haver um longo caminho a ser percorrido na busca pela redução das perdas de água.

 

Quadro 8: Municípios com Padrões de Excelência em Perdas de Água

Município

UF

IN049 (%)

IN051 (L/lig./dia)

Goiânia

GO

17,27

99,41

Campo Grande

MS

19,80

114,62

Limeira

SP

20,19

128,82

Petrópolis

RJ

23,35

134,52

Campinas

SP

20,19

144,85

Maringá

PR

23,39

143,56

Suzano

SP

23,05

143,99

São José do Rio Preto

SP

20,54

154,97

Caruaru

PE

24,57

158,15

Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados.

 

DESTAQUES MUNICIPAIS NEGATIVOS

Dos 100 municípios considerados, apenas 14 possuem níveis de perdas na distribuição menores que 25% (valores considerados como adequados). Os dados mostram ainda que 1/5 da amostra (20 municípios) tem perdas na distribuição superiores a 50%, existindo assim grande potencial de redução de perdas de água na distribuição nesses municípios.

 

Quadro 9: Piores Índices de Perdas na Distribuição

 

Colocação

Município

UF

IN049 (%)

91

Rio Branco

AC

56,59

92

Ribeirão das Neves

MG

56,61

93

Cuiabá

MT

58,99

94

Recife

PE

60,09

95

Rio de Janeiro

RJ

60,66

96

São João de Meriti

RJ

66,12

97

Belford Roxo

RJ

66,40

98

Jaboatão dos Guararapes

PE

69,38

99

Macapá

AP

71,43

100

Porto Velho

RO

77,32

 

Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados.

 

RECORTE PARA AS CAPITAIS BRASILEIRAS

 

No índice de perdas na distribuição, apenas duas das 27 capitais apresentaram valores inferiores à meta de 25%, Goiânia (GO) e Campo Grande (MS). O indicador médio do grupo foi de 43,17%, superior à amostra dos 100 municípios mais populosos do país e à média nacional, e ainda mais distante, portanto, da meta de 25%, regulamentada pela Portaria 490/2021. Novamente, há municípios com níveis alarmantes, como Porto Velho (RO), com 77,32%, e Macapá, com 71,43%.

 

QUADRO 10: PRINCIPAIS INDICADORES DE PERDAS DE ÁGUA DAS CAPITAIS BRASILEIRAS


Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados. Nota: a população potencialmente atendida é calculada considerando-se somente as perdas físicas, e uma redução do IN049.


GANHOS ECONÔMICOS COM A REDUÇÃO DAS PERDAS DE ÁGUA POTÁVEL

Para calcular os ganhos econômicos ao país pela redução de perdas, o estudo apresentou uma análise de três cenários: o otimista, o realista e o pessimista. Cada um deles responde à média nacional do nível de perdas a ser alcançada em 2034: 15% (cenário otimista), 25% (cenário realista) e 35% (cenário pessimista).

 

QUADRO 11: SUMÁRIO DOS IMPACTOS DE REDUÇÃO DAS PERDAS


Fonte: SNIS (2022). Elaboração: GO Associados.


No Cenário Realista, é possível constatar que existe um potencial de ganhos brutos com a redução de perdas de água de R$ 40,9 bilhões até 2034. Caso sejam considerados os investimentos necessários para a redução de perdas, o benefício líquido gerado pela redução de perdas é da ordem de R$ 20,4 bilhões em 11 anos.

 

CONCLUSÃO

A universalização do saneamento básico está intimamente ligada aos esforços para aumentar a eficiência no controle e na redução de perdas de água. O lento progresso indica uma grande dificuldade de atingirmos as metas pelo Novo Marco Legal do Saneamento Básico, de fornecer água potável a 99% da população até 2033. É imprescindível combater as perdas de água para que, por meio de sistemas de distribuição de água eficientes, possa-se garantir o acesso pleno a esse recurso vital para todos os brasileiros. 

Os efeitos das mudanças climáticas são uma realidade vivida no país, refletindo-se em impactos diretos no acesso à água potável. Reduzir as perdas significaria aumentar a disponibilidade de recursos hídricos no sistema de distribuição sem a necessidade de aumentar o volume de água captado e de explorar novos mananciais, o que resulta em menores custos e evita prejudicar o meio ambiente. É necessário o fomento de políticas públicas, projetos e inovações, além de aumentar e acelerar o ritmo dos investimentos para atingirmos a meta estabelecida pela Portaria 490/2021 de se alcançar 25% em perdas na distribuição até o ano de 2034. 

Ano após ano, observamos uma lenta evolução nos indicadores de perdas de água, enquanto milhões de brasileiros continuam sem acesso regular e de qualidade à água potável para ter uma vida minimamente digna. São mais de 7,6 mil piscinas de água potável desperdiçadas todos os dias. Além de afetar o abastecimento de água dos habitantes, esse desperdício exacerbado resulta em impactos ambientais severos, uma vez que os efeitos das mudanças climáticas, como vemos na tragédia vivida pela população do Rio Grande do Sul, estão cada vez mais presentes no país, afetando diretamente a disponibilidade hídrica para a população. Esforços e investimentos em redução de perdas de água são necessários para mitigar os impactos climáticos, promover maior segurança hídrica e fortalecer a infraestrutura das cidades."– analisa a executiva. 

A calamidade recente enfrentada pelo Rio Grande do Sul, com enchentes devastadoras, destaca a necessidade urgente de uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos no Brasil. A despeito do elevado volume oriundo das chuvas, essa água não é potável, de modo que muitas residências ficaram desabastecidas, pois as estações de tratamento estavam literalmente submersas. Neste sentido, com perdas de água na casa dos 40% no Brasil, onde muitas regiões ultrapassam esse valor, fruto de vazamentos e de gestão ineficaz, é crucial investir em infraestrutura, tecnologia e políticas públicas eficazes. A combinação de infraestrutura inadequada com frequência cada vez maior de eventos climáticos extremos permite que situações como a do Rio Grande do Sul se repitam, resultando em prejuízos incalculáveis. Portanto, se há uma lição a ser aprendida desta situação, depreende-se a importância de ações concretas e imediatas, visando garantir a segurança hídrica e o atendimento às metas da Portaria 490/2021 de modo a prevenir futuras tragédias.” – comenta o Professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV) e Sócio-Executivo da GO Associados, Gesner Oliveira.

 


Instituto Trata Brasil (ITB)



[1] Consultar referencial teórico sobre perdas de água presente no estudo. Link: https://tratabrasil.org.br/perdas-de-agua-2024/

[2] Consultar referencial legal sobre perdas de água presente no Estudo.

[3] É importante levar em consideração que, em muitos países, a diferenciação entre o volume consumido e o volume faturado não é comumente utilizada. Assim sendo, as estatísticas apresentadas têm como propósito evidenciar a tendência geral, uma vez que a comparação entre os indicadores pode gerar distorções oriundas das diferentes metodologias de cálculo.




O impacto do machismo estrutural na diversidade e inclusão

O machismo estrutural permeia todas as esferas da sociedade, deixando marcas profundas e perpetuando desigualdades de gênero. Esse sistema de crenças e práticas sociais tem um impacto significativo na diversidade, limitando as oportunidades e experiencias de mulheres e pessoas de gêneros não binários.

Em primeiro lugar, o machismo estrutural afeta a representação e participação das mulheres em diversos setores, como política, ciência, tecnologia e negócios. As barreiras invisíveis impostas pelo machismo dificultam o acesso das mulheres a cargos de liderança e tomada de decisão, resultando em uma falta de diversidade de perspectivas e abordagens nos espaços de poder.

Um estudo do DataSenado mostra um aumento na percepção de desrespeito à mulher no ambiente de trabalho do que em outros lugares, a porcentagem subiu de 17% para 25% em 2023. Já a pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “Profissionais liberais lésbicas no mercado de trabalho brasileiro”, 60% das mulheres já sofreram algum tipo de discriminação no trabalho por conta da sua orientação sexual, e, também, cerca de 40% presenciaram algum tipo de assédio sexual ou moral.

Além disso, o machismo estrutural contribui para a disparidades salariais entre gêneros, com mulheres ganhando menos do que os homens em trabalhos similares, ou até mesmo iguais. Essa desigualdade econômica não apenas impacta o bem-estar financeiro das mulheres, mas também perpetua o ciclo de pobreza e dependência econômica.

No campo da saúde, o machismo estrutural se reflete em políticas e práticas que desvalorizam a saúde reprodutiva e mental das mulheres, além de dificultar o acesso a serviços de saúde adequados. Isso resulta em lacunas na prestação de cuidados e na marginalização de saúdes específicas das mulheres.

Na cultura e na mídia, o machismo estrutural se manifesta através da objetificação e esteriotipação das mulheres, reforçando padrões de beleza irreais e papeis de gênero tradicional. Isso não apenas limita a expressão individual, mas também perpetua normas prejudiciais de comportamento e relacionamento.

No campo da violência, o machismo estrutural se reflete na cultura da violência contra a mulher e na cultura do estupro.  A violência contra a mulher não causa somente danos físicos e psicológicos, mas também cria uma situação de medo e insegurança que impacta toda a sociedade. 

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 10.655 mulheres foram assassinadas entre 2015 e 2023, o levantamento só leva em conta os casos que foram registrados oficialmente pela polícia, ou seja, os números podem ser muito maiores. Além disso, o país registrou um recorde lamentável de 1.463 vítimas de feminicídio em 2023, representando uma taxa de 1,4 mulheres mortas para cada grupo de 100 mil habitantes.

Esta mesma cultura que normaliza e justifica a violência contra a mulher pode se tornar pior, uma vez que surge a violência sexual. Isso se reflete em atitudes de culpabilização da vítima, minimização do impacto do estupro e impunidade para os agressores, criando um ambiente hostil e perigos para as mulheres em todos os lugares.

Quando combatemos o machismo estrutural estamos contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Isso porque esses dois conceitos estão intrinsicamente ligados: a igualdade de gênero somente pode ser alcançada quando reconhecemos e confrontamos as estruturas de poder que perpetuam a desigualdade, e a diversidade é essencial para garantir que todas as vozes sejam ouvidas e consideradas.

Além disso, a promoção da diversidade não beneficia apenas as mulheres, mas a sociedade como um todo. Empresas e organizações mais diversas são mais inovadoras, criativas e produtivas. Da mesma forma, comunidades diversificadas tendem a ser mais resilientes e adaptáveis as mudanças.  Portanto, investir na promoção da diversidade não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente para o crescimento e desenvolvimento sustentável.

No entanto, é importante ressaltar que o combate ao machismo estrutural e a promoção da diversidade não são uma tarefa fácil. Exigem o esforço coletivo e contínuo de todas as partes da sociedade, desde governos e instituições, até indivíduos em suas interações. Isso requer a implementação de políticas e práticas que promovam a igualdade de gênero e a inclusão. Isso inclui a adoção de quotas de gênero, a implementação de programas de conscientização e treinamento, a criação espaços seguros e inclusivos para mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIAPN+.

Concluindo, a importância do combate ao machismo estrutural e a promoção da diversidade não pode ser subestimada. São dois pilares fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva. Somente através do reconhecimento e confronto das estruturas de poder que perpetuam a desigualdade de gênero e da valorização da diversidade em todas as formas, poderemos alcançar uma sociedade onde todos possam viver com dignidade e respeito.

 

Patricia Punder, - advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020. Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil). www.punder.adv.br


Live Commerce: A Revolução do Varejo Online

 

Imagine um mundo onde comprar online é tão empolgante e pessoal quanto passear por sua loja favorita. Bem-vindo ao universo do Live Commerce, a inovação que está revolucionando o varejo digital no Brasil. Aqui, a magia das compras ao vivo se encontra com a praticidade do e-commerce, criando uma experiência de compra que é ao mesmo tempo íntima, social e divertida.

Aleksander Avalca e Renan Kaminski, especialistas em gestão de empresas da 4blue, comentam sobre como o fenômeno do live commerce pode mudar o rumo dos pequenos negócios e aproximar os clientes das marcas. Eles veem o Live Commerce não apenas como uma tendência, mas como um divisor de águas para os pequenos empreendedores. “É a ponte que faltava”, dizem eles, “conectando clientes e marcas com uma autenticidade que o e-commerce tradicional muitas vezes não consegue capturar.”

“Se tornando muito mais popular após a pandemia, as Live Commerce ou Live Shop, como são conhecidas, facilitaram para o empresário vender pela internet e passar confiança. Com um celular, é possível criar um desfile, desmistificar informações sobre seu produto/serviço, estar mais próximo do público e despertar o interesse com gatilhos de escassez” - Renan Kaminski

Uma pesquisa da Opinion Box intitulada “Social Commerce 3.0 – Tendências de consumo nas redes sociais” revela números que falam por si: 28% aderiram às compras por meio de transmissões ao vivo. E não é só isso: 54% dos consumidores descobrem mais sobre os produtos durante essas transmissões, aumentando significativamente a sua probabilidade de compra. Esse é um dos grandes diferenciais dessa modalidade de venda: o consumidor pode entender todos os detalhes de um item enquanto pesquisa, aumentando 

Benefícios do Live Commerce para o empresário: 

Experiência personalizada: Esqueça os e-mails e mensagens sem resposta. As lives trazem interações em tempo real, onde dúvidas são esclarecidas na hora, criando um diálogo direto entre consumidor e marca.

Interação em tempo real: O vendedor pode demonstrar o produto ao vivo, oferecendo uma visão detalhada e respondendo perguntas instantaneamente. Isso proporciona uma sensação de confiança e segurança na compra. 

Engajamento e entretenimento: A natureza interativa das lives, combinada com a possibilidade de ganhar cupons e outros benefícios, torna a experiência de compra única e memorável.

“O consumidor que entra na live, sente confiança e enxerga valor, além de indicar para outras pessoas, começar a seguir o perfil e a querer conhecer a marca. No fim, a live foi um canal de relacionamento, atrair novas pessoas, reativar contatos com quem já não recebia algo da empresa há um tempo e, claro, para gerar vendas” - Aleksander Avalca.

 

No Brasil, o Live Commerce está se consolidando rapidamente. Pela primeira vez, o SBT  usará sua programação para a transmissão de uma live-commerce, promovendo a marca de cosméticos  Jequiti, do Grupo Silvio Santos. A plataforma Shopee Lives, lançada em 2022, por sua vez, já soma mais de 20 mil transmissões, com números que impressionam: 400 milhões de visualizações e 100 bilhões de minutos assistidos. 


O sucesso do Live Commerce é evidente também nos números apresentados pela influenciadora digital e empresária Virgínia Fonseca. Em apenas 13 horas de lives shop, realizadas em seu perfil no último final de semana, a influenciadora faturou mais de R$ 22 milhões para sua marca de cosméticos, WePink.

 

“Impossível falar sobre Live Commerce e não citar o casa da WePink. Em seu lançamento, Virgínia utilizou grandes estratégias e gatilhos mentais em seu  convite para a live, assim como descontos e brindes promocionais incríveis. A dica de ouro é: mostre que vale a pena participar e faça realmente valer a pena. Não é apenas ligar a live no celular e sair falando, então monte um cenário, separe seus produtos ou o serviço que vai oferecer, apresente, controle a situação e tire dúvidas. No fim, você precisa se conectar com o público” - Renan Kaminski

 

Dicas para Pequenos Negócios

 

Para os pequenos negócios que desejam adotar o Live Commerce, aqui estão algumas dicas: 

Planejamento é Tudo: Planeje suas lives com cuidado, definindo um roteiro claro e garantindo que todos os produtos estejam em estoque e prontos para serem enviados.

Interaja com o Público: Mantenha a comunicação aberta e fluida com seus espectadores. Responda perguntas, agradeça pelos comentários e mantenha um tom amigável e acessível.

Utilize Influenciadores: Convidar influenciadores e parceiros pode ajudar a atrair mais público e aumentar a confiança dos consumidores. Escolha pessoas que tenham um bom alinhamento com sua marca e seus valores.

Ofereça Incentivos: Use cupons de desconto, brindes e promoções exclusivas durante as lives para incentivar as compras e aumentar o engajamento.

Avalie os Resultados: Após cada live, análise os dados de visualização, vendas e feedback dos consumidores. Use essas informações para melhorar suas futuras transmissões. 

"Muitos empreendedores ainda têm vergonha de fazer um live ou possuem receio de não dar público. Por isso, é importante fazer uma boa divulgação e ter tudo planejado porque no final vai valer a pena. Esta é uma forma muito rápida de aumentar o faturamento do negócio com custos muito baixos. E claro, não desanime se na primeira tentativa o resultado não for o melhor de todos, siga fazendo!"- Aleksander Avalca. 

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Camila Ferreira


Junho é o mês da consciência ambiental

A preservação da natureza é responsabilidade de todos e a solução começa com as boas atitudes.

 

O mês de Junho é marcado por datas importantes que fortalecem a reflexão sobre a preservação da natureza. As comemorações começam em 3 de junho com o Dia Nacional da Educação Ambiental, depois segue com o Dia Mundial do Meio Ambiente, Dia Nacional da Ecologia e da Reciclagem, dia 5 de junho.

 

No Brasil, duas leis mostram que a Educação Ambiental é um processo permanente de construção dos valores que visam promover a sustentabilidade: a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), criada em 1999, e a Política Estadual de Educação Ambiental, de 2007.

 

“A educação ambiental está presente nas escolas, mas precisa estar no âmbito familiar, somente assim atingirá as pessoas em sua totalidade. Dentro dos lares que precisam ser divulgados os principais conceitos para que as boas atitudes sejam consolidadas. A parceria escola-família conseguirá desenvolver um poder transformador em prol dos recursos naturais”, pontua Vininha F. Carvalho, ambientalista e editora da Revista Ecotour News & Negócios.

 

O Dia Mundial do Meio Ambiente foi instituído pelas Nações Unidas, em 1972, com o propósito de conscientizar e destacar os desafios ambientais existentes no planeta. Este momento é oportuno para salientar sobre as consequências relacionadas às mudanças climáticas, que têm intensificado a gravidade de tragédias ambientais no Brasil e no mundo.

 

O Dia Nacional da Reciclagem foi instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2009, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre o reaproveitamento de materiais descartados, aumentando a preservação dos recursos naturais e melhorando a qualidade de vida das pessoas.

 

O Dia da Ecologia foi criado em homenagem à Conferência de Estocolmo. Inicialmente, essa conferência das Nações Unidas reuniu 113 países, além de 250 organizações não-governamentais, e tem como objetivo promover atividades de proteção, conscientização e preservação do meio ambiente, criando debates e reflexões sobre os vários problemas ambientais que o planeta Terra está enfrentando. 

 

“Essas datas despertam na sociedade a vontade de obter cada vez mais informações sobre as mudanças climáticas e reforçam a necessidade de ações para frear as consequências do aquecimento global, além de proporcionar gestos comunitários que possam preservar os recursos naturais e melhorar a qualidade de vida”, finaliza Vininha.

 

Por um governo a favor do Brasil

A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos estados, dos municípios e do Distrito Federal, constitui-se em estado democrático de direito e tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho, da livre iniciativa e do pluralismo político. É o que dispõe o artigo 1º da Constituição Federal de 1988. Nossa Carta Magna também preconiza, no parágrafo único desse artigo inicial, que todo o poder emana do povo e por ele é exercido por meio da eleição direta de seus representantes.

De uma forma simplificada, o cidadão comum entende que o povo, através do voto em eleições democráticas e livres, elege seus representantes para em seu nome cobrar tributos da população e devolver o produto arrecadado sob a forma de serviços essenciais, como saúde, educação, saneamento, segurança pública, habitação e atenção social.

Já se passaram 35 anos da promulgação da Constituição Cidadã e, nesse período, o país foi governado por oito presidentes da República, dos quais quatro representantes dos maiores partidos políticos (PSDB, PT, MDB e PL) e com diferentes perfis ideológicos. Cabe, agora, uma indagação. Os presidentes que governaram o país a partir de 1988 cumpriram suas obrigações expressas na Constituição?

A resposta, isenta, sem qualquer viés político, ideológico, partidário ou de mera simpatia é “não!”. Todos fracassaram. E é fácil comprovar essa assertiva. Na educação, o Brasil ocupa hoje apenas a 66ª posição (entre as nações avaliadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes -PISA 2022). A grande maioria dos nossos jovens não sabe interpretar textos nem resolver os mais simples exercícios de matemática.

Na segurança pública o quadro não é mais animador. Perdemos as guerras para as facções criminosas, milícias, contraventores e outros agentes do crime, a ponto de sermos considerados o 4º país mais violento ou inseguro do mundo, em termos de segurança pública (física e patrimonial), registrando a trágica estatística de 44 mil homicídios por ano.

Quando se trata do maior bem da humanidade, a saúde, embora tenhamos o SUS, que mesmo com limitações orçamentárias tem apresentado bons resultados, os serviços prestados aos cidadãos estão muito aquém das necessidades mínimas da população. São longas as filas para consultas, exames e cirurgias especialidades, muitas vezes custando a vida de cidadãos desesperados. Faltam hospitais, equipamentos e remédios.

Evoluímos quase nada em matéria de saneamento básico e temos uma das piores marcas dos governos dos últimos 35 anos. De acordo com o Censo 2022, 44% da população brasileira ainda não tem acesso à coleta de esgoto. Em 2020, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já constatava por meio da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) que 39,7% dos municípios brasileiros não dispõem de serviço de esgotamento sanitário, condição com reflexo direto na saúde pública. Matéria publicada no site Poder 360 em março de 2024, com base no Censo 2022, revela que 49 milhões de brasileiros vivem em lares sem acesso a saneamento básico. Isto significa que os dejetos de 24,3% da população são depositados em fossos e valas ou seguem para rios, lagos, córregos ou para o mar.

O direito à habitação, essencial para a dignidade humana, também prevista no artigo 1º da CF/88, tornou-se letra morta. O déficit habitacional ainda é enorme, apesar de programas sociais que não dão conta de atender à demanda reprimida nem atendem a todas as faixas da população.

O Índice de Retorno do Bem-Estar Social (IRBES), indicador insuspeito, retrata perfeitamente a realidade dos serviços essenciais ofertados aos brasileiros. Nele, o país ocupa a última posição (30º lugar) entre as nações com maior carga tributária no mundo. Ou seja, o Brasil cobra muito em impostos (14º lugar no ranking mundial) e retribui pouquíssimo ao cidadão-contribuinte.

Vale a pena destacar que nos últimos 35 anos o Brasil experimentou o aumento de carga tributária bruta em 50% (1988: cerca de 22,5% do PIB e hoje 33,7% do PIB). Significa dizer que não se pode apontar como causa dos fracassos das políticas públicas a falta de recursos financeiros, porque esse argumento não se sustenta.

Não há mais tempo para desculpas, mesmo porque aqueles que concorrem a cargos públicos se comprometem a apresentar soluções. Já passou da hora, portanto, de o Brasil reconhecer seus problemas – muitos antigos, recorrentes – e buscar, de fato, caminhos para resolvê-los ou, ao menos, atenuá-los, sem o que a população de todas as classes sociais e de todas as regiões do país jamais terão uma vida digna. Eis os principais:


1 – Os governantes são eleitos mediante muitas promessas, mas sem apresentar nenhum plano de metas contendo as principais ações (com início meio e fim de cada uma), custos e as origens dos recursos necessários à sua efetivação.  A divulgação de um plano durante o período eleitoral ajudaria o eleitor a decidir seu voto e a fazer a cobrança posterior do eleito, tornando mais úteis os vultosos recursos públicos gastos com as eleições.
 


2 – Resiste a prática comum dos eleitos passarem os dois primeiros anos de seus governos - 50% do mandato – atribuindo culpa aos antecessores, reclamando da ‘herança maldita”. Com isso, apenas tentam justificar suas inações, enquanto a população espera inutilmente por soluções. Quando o cidadão elege o presidente da República, não está lhe dando uma carta branca para se limitar a atacar seus antecessores, mas sim um mandato para implantar um governo a favor do Brasil e de todos os brasileiros.


3 – É preciso reduzir substancialmente os privilégios inaceitáveis usufruídos pelos donos do poder, uma espécie de donatários das “capitanias hereditárias” modernas do século XXI, que vêm drenando centenas de bilhões de reais por ano.


4 – Fundamental também combater a corrupção desenfreada que há décadas vem contaminando o serviço público, desmoralizando as instituições e sugando um volume gigantesco de recursos financeiros, calculado em mais de uma centena de bilhão de reais. No ranking da percepção da corrupção, hoje o Brasil ocupa a 104ª posição entre 180 países, o que significa dizer que há 103 país com setor público mais honesto que o brasileiro. Uma vergonha nacional e péssimo exemplo para as novas gerações. 

A Operação Lava-Jato é um exemplo do tamanho da corrupção no Brasil. O Supremo Tribunal Federal (STF) anulou grande parte das condenações dos envolvidos, mas não inocentou os ex-condenados nem concluiu pela inexistência da corrupção. A reviravolta ocorreu por irregularidades ou ilegalidades processuais. É urgente alterar a legislação, tornando imprescritíveis os crimes praticados contra a administração pública para dar uma resposta efetiva à sociedade e mostrar, especialmente aos mais jovens, que o crime não compensa e a corrupção não é meio de vida!

É sempre bom recordar Louis Brandeis, ex-juiz da Suprema Corte norte-americana, segundo o qual “a luz do sol é o melhor desinfetante”. Portanto, transparência total em todas as ações é sempre recomendável.

Cabe ainda relembrar o pensamento do filósofo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), cujo alerta continua oportuno: “Um povo que aceita passivamente a corrupção e os corruptos não merece a liberdade. merece a escravidão. Um país cujas leis são lenientes e beneficiam bandidos, não tem vocação para liberdade. Seu povo é escravo por natureza. Uma pátria, onde receber dinheiro mal havido a qualquer título é algo normal, não é uma pátria, pois neste lugar não há patriotismo, apenas interesses e aparências.”


5 – Reconhecer que o país tem sido incapaz de cumprir o artigo 3º da Constituição que, com clareza absoluta, dispõe que dentre os objetivos fundamentais da República Federativa destacam-se: a constituição de uma sociedade livre, justa e solidária; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais, bem como o artigo 5ª, cujo caput traz a assertiva que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. É possível alguém acreditar que no Brasil todos são iguais perante a lei?  Temos de fato uma sociedade livre, justa e solidária ou uma sociedade injusta com liberdade relativa, diferenciada e completamente egoísta?

Nos últimos 35 anos, não avançamos na redução dos enormes fossos econômicos entre as regiões do país. Já não é mais aceitável o desequilíbrio desenvolvimentista existente no país. O maior exemplo está nas regiões norte, nordeste e centro-oeste, que apesar de reunirem 19 estados e o Distrito Federal, com mais de 82,4% da área territorial do país e serem habitadas por cerca de 45,6% da população brasileira, têm participação de apenas pouco mais de 29% do PIB. Por outro lado, o estado de São Paulo, ocupando apenas 2,9% da área territorial brasileira e com população inferior à metade da habitada nas três regiões menos desenvolvidas do país, produz sozinho cerca de 31,5% do PIB, isto é, mais de 10% do registrado pelos 19 estados e Distrito Federal. Além disso, nos estados do norte, nordeste e centro-oeste, a renda média per capita é inferior à metade da renda nacional. O Brasil está condenando cidadãos à segunda classe pelo critério de onde vivem. Para piorar, as disparidades sociais seguem gigantes, com 1% população mais rica detendo 48% da riqueza nacional.

O fracasso dos governos dos últimos 35 anos, portanto, é evidente. Nesse período, dos oito presidentes eleitos dois sofreram impeachment, um foi condenado e preso após deixar o cargo e posteriormente teve sua condenação anulada, um foi detido depois do mandato e um teve enormes dificuldades para governar diante da pressão interna. O quadro hoje é de um país dividido. A questão política, entretanto, não serve para isentar nenhum deles de suas responsabilidades enquanto estiveram no cargo mais importante do país. 

Os objetivos fundamentais da República, elencados no inciso III, do artigo 3º da Constituição Federal, estão longe de serem alcançados. Quem sofre as consequências disso é a população, notadamente a mais pobre.

O país reclama – e não é de hoje – um governo a favor do Brasil, com os cidadãos enxergados como prioridade absoluta o tempo todo.

 

Samuel Hanan - engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos livros “Brasil, um país à deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”. Site: https://samuelhanan.com.br

Hollywood cancela filmes para economizar em impostos

Divulgação / Consultório da fama
Hollywood sempre foi um terreno fértil para inovações e tendências, tanto na criação de conteúdos quanto nas estratégias empresariais. Nos últimos anos, uma prática controversa tem ganhado destaque: o cancelamento de filmes completos ou quase completos como uma estratégia de economia tributária. 

O que antes era um acontecimento raro, agora está se tornando uma ferramenta financeira utilizada por grandes estúdios para reduzir suas obrigações fiscais. Esta tendência chamou a atenção quando a Warner Bros. Discovery arquivou os filmes "Batgirl" e "Coyote vs. Acme", ambos em estágios avançados de produção, visando obter deduções fiscais significativas.

 

O contador tributarista, mestre em negócios internacionais e especialista em cultura pop, André Charone, explica essa prática e suas implicações.


 

A Estratégia Fiscal 

Em 2022, a Warner Bros. Discovery, sob a nova administração de David Zaslav, introduziu uma estratégia agressiva de amortização fiscal. Projetos como "Batgirl" e "Coyote vs. Acme", que estavam em fases avançadas de produção, foram cancelados para que os custos de produção pudessem ser declarados como perdas. Isso permitiu que a empresa reduzisse significativamente sua carga tributária, gerando economias consideráveis. André Charone explica que "essa prática é conhecida no meio corporativo, mas raramente é aplicada de forma tão visível na indústria do entretenimento. Ao cancelar esses projetos, a Warner Bros. pode deduzir os custos de produção como perdas, resultando em uma economia fiscal substancial."

 

Essa estratégia fiscal envolve uma avaliação cuidadosa dos custos e dos benefícios potenciais. Ao arquivar um filme, o estúdio pode compensar suas despesas de produção contra seus lucros, reduzindo assim o montante total de impostos devidos. Para grandes corporações como a Warner Bros. Discovery, essas deduções podem representar milhões de dólares em economias. No entanto, essa abordagem não é isenta de riscos. "Embora haja um benefício financeiro imediato, a longo prazo pode haver danos à reputação do estúdio e à confiança dos investidores," alerta Charone. Além disso, a decisão de cancelar um filme que já foi concluído ou quase concluído pode impactar negativamente a moral da equipe de produção e a percepção pública da marca.


 

Mudanças na Indústria Cinematográfica 

Além dos benefícios fiscais imediatos, essa prática também reflete uma mudança estratégica na forma como os estúdios estão gerenciando seus portfólios de conteúdo. Com a crescente competição no mercado de streaming e as mudanças nos hábitos de consumo de mídia, as empresas de entretenimento estão cada vez mais focadas em otimizar seus lançamentos para maximizar o retorno sobre o investimento.

Durante os estágios iniciais dos serviços de streaming, os estúdios passaram a investir em uma quantidade muito maior de produções, buscando abocanhar a maior fatia possível do mercado.

 

No entanto, Charone observa que, nos últimos anos, "os estúdios estão se tornando mais seletivos sobre quais projetos recebem luz verde e quais são arquivados, baseando essas decisões não apenas na qualidade do conteúdo, mas também em considerações financeiras e de mercado." Isso significa que filmes que podem não ter um forte apelo comercial ou que enfrentam concorrência intensa podem ser mais suscetíveis a serem cancelados para fins de dedução fiscal, independentemente de seu potencial criativo ou artístico.



Reação da Comunidade 

A reação da comunidade cinematográfica tem sido de indignação. Produtores, diretores e fãs expressaram seu descontentamento nas redes sociais, questionando a lógica de cancelar projetos completos que tinham potencial de sucesso. O cancelamento de "Coyote vs. Acme", por exemplo, ocorreu apesar de o filme ter recebido boas avaliações nos testes de audiência.


 

O Futuro da Estratégia 

Apesar da controvérsia, a prática de cancelamento para fins fiscais pode se tornar mais comum, especialmente em tempos de incerteza econômica. Charone alerta que, embora legal, essa estratégia pode ter repercussões a longo prazo para a reputação dos estúdios e a confiança dos investidores.

 

"Ao optar por essas deduções fiscais, as empresas precisam equilibrar os benefícios imediatos com os potenciais danos à sua imagem e às relações com os talentos da indústria", conclui Charone.

 

O uso de cancelamentos de filmes como estratégia de economia tributária representa um dilema complexo para Hollywood. Enquanto os estúdios podem colher benefícios fiscais, os impactos negativos na indústria cinematográfica são significativos. À medida que essa prática se torna mais comum, será crucial observar como os estúdios equilibrarão essas considerações e como a indústria como um todo responderá a essas mudanças.





André Charone - contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA). É sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino, autor de livros e dezenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional. André lançou dois livros com o tema "Negócios de Nerd", que na primeira versão vendeu mais de 10 mil exemplares. Os livros trazem lições de gestão e contabilidade, baseados em desenhos e ícones da cultura pop.
Instagram: @andrecharone


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