Entenda a diferença
das duas doenças e se podem evoluir para câncer
Marcos Maia,
ginecologista, esclarece que doenças não apenas causam dor e medo, mas também
podem resultar em problemas de fertilidade, impactando significativamente a
vida reprodutiva das mulheres
Nos últimos anos, o Brasil tem
testemunhado um aumento significativo nos casos de endometriose
e adenomiose, duas condições ginecológicas que afetam a
qualidade de vida de inúmeras mulheres em todo o país. De acordo com dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 10% das brasileiras são
afetadas por uma dessas condições, uma estatística refletida em escala global.
Embora compartilhem sintomas semelhantes, como cólicas menstruais intensas, dor
durante a relação sexual e infertilidade, é essencial compreender as distinções
entre as condições para um diagnóstico e tratamento adequados.
Mas antes, é preciso entender a estrutura do
útero, que é complexa e composta por três camadas distintas: o endométrio, o
miométrio e a serosa. De acordo com o médico ginecologista, Marcos Maia, as
três camadas desempenham um papel importante no desenvolvimento dessas
condições. “A
principal diferença entre elas é o local de crescimento dos tecidos. Enquanto
na endometriose o tecido ectópico cresce fora do útero, em órgãos como os
ovários, bexiga e intestino, na adenomiose o desenvolvimento do tecido é no
próprio útero, na camada do miométrio”, explicou.
Importante saber: ambas doenças são benignas e
apresentam ótimas oportunidades de controle quando diagnosticadas de forma
correta e precisa.
A relação das doenças com o câncer
Existe uma dúvida popular de que a adenomiose e a endometriose
podem evoluir para alguns tipos de câncer ginecológico. Segundo Marcos Maia,
que também é especialista em Ginecologia Oncológica, o diagnóstico das duas
doenças não implica necessariamente o desenvolvimento de câncer.
Como diferenciar as doenças?
Para saber, então, como diferenciar entre adenomiose e
endometriose, é importante reconhecer os sintomas mais recorrentes de cada uma
delas. Mas não é tão simples assim.
Michele Santos Rodrigues, 35 anos, levou três anos para ter o
diagnóstico correto de endometriose. Até lá, os sintomas geraram prejuízos para
sua saúde e qualidade de vida. “Eu sentia dores intensas que só passavam com
remédio na veia e olhe lá! Foi então que meu médico pediu exames específicos e,
três anos depois do primeiro sinal, saiu meu diagnóstico”, conta.
Os principais sinais foram dores muito intensas durante o ciclo
menstrual ao ponto de não conseguir se levantar para ir trabalhar e fazer suas
tarefas diárias neste período e ciclos irregulares.
São predominantemente caracterizados pela dor,
manifestando-se através de dor durante a relação sexual, cólicas menstruais
intensas (sendo o sintoma mais marcante), sangramento uterino anormal e dor
pélvica crônica, persistindo ao longo do mês.
As consequências a longo prazo incluem o
agravamento da dor e do fluxo menstrual, podendo resultar em anemia
significativa. Além disso, a infertilidade é uma complicação grave,
especialmente prevalente em mulheres mais jovens, dificultando a concepção. A
gravidade dessa infertilidade pode variar de acordo com a extensão e
características da doença endometriótica.
O que pouca gente sabe é que em até 20% dos
casos, a endometriose é assintomática, ou seja, não apresenta sinais claros. Os
principais indícios da doença são dores pélvicas relacionadas ao ciclo
menstrual, dores durante o ato sexual e dor ao evacuar ou urinar. A dor pode
apresentar piora durante o período menstrual e é uma alerta para a
possibilidade de endometriose.
Exames essenciais para o diagnóstico
correto
O diagnóstico da endometriose pode ser feito por
meio de exames clínicos e laboratoriais. O primeiro é uma avaliação
ginecológica minuciosa, conduzida por um profissional especializado, onde o
exame de toque vaginal avalia as condições da vagina, ovários, útero, trompas,
dentre outros.
Quando há suspeita da doença, o médico tende a
encaminhar a paciente para a coleta de exame de sangue CA 125, que serve para
auxiliar no diagnóstico e também no seguimento da paciente, avaliar a
quantidade de proteínas CA-125 na corrente sanguínea. Valores aumentados de
CA-125 podem indicar a presença de endometriose, de acordo com Marcos Maia.
Por fim, exames de imagem auxiliam na precisão da
doença. Caso da ultrassonografia transvaginal para pesquisa de endometriose
(não é o ultrassom transvaginal de rotina) que permite ao médico averiguar se
há presença de lesões sugestivas de. Endometriose. E da ressonância magnética,
um método eficaz para avaliar e diagnosticar a doença. Por meio de imagens de
alta definição de todas as áreas e órgãos, este exame realiza o mapeamento
profundo em locais não acessíveis ao ultrassom.
Os mesmos exames valem para o diagnóstico da
adenomiose.
Principais tratamentos para cada doença
Embora os casos de endometriose e adenomiose
compartilhem sintomas semelhantes, seus tratamentos nem sempre são iguais por
que tudo dependerá das condições individuais de cada paciente.
No caso da adenomiose, há indicação para dois
tipos principais de tratamento: o clínico, que visa inibir a ação do
estrogênio, hormônio, responsável pela proliferação celular que estimula o
crescimento das células endometriais. E o tratamento cirúrgico, que pode ser
feito de duas maneiras: a ressecção das paredes afetadas, que é realizada com precisão
para minimizar danos aos tecidos e não gera infertilidade, e a remoção do
útero, chamada histerectomia, que impede uma gestação futura.
Em relação ao tratamento da endometriose, os
principais objetivos são proporcionar alívio da dor, viabilizar a gravidez para
mulheres que assim o desejam e evitar a recorrência da doença. Segundo Marcos
Maia, "o tratamento pode envolver o uso de medicamentos, intervenções
cirúrgicas, ou uma combinação de ambos. É fundamental destacar que a condição
não possui cura e que a recidiva ocorre comumente após a interrupção do
tratamento", esclarece o médico.
Terapia hormonal é indicada para os dois
casos
O ginecologista explica que qualquer tratamento
para a adenomiose e a endometriose deve incluir a inibição do hormônio
estrogênio. Para isso, são utilizados diversos métodos contraceptivos e
anticoncepcionais, que atuam de maneira eficaz. Além disso, progestágenos
isolados também são empregados com sucesso no tratamento.
“Dentre essas abordagens, é importante ressaltar
o sistema intrauterino de levonorgestrel, popularmente conhecido como DIU
medicado. Este método desempenha uma função significativa no alívio das dores e
na diminuição do sangramento uterino. É relevante destacar também que o DIU
medicado não afeta a ovulação, mas sim reduz a atividade estrogênica na
cavidade uterina", esclareceu o médico.
Infelizmente, não há estudos conclusivos sobre a
causa da adenomiose e da endometriose, o que dificulta a definição de uma
estratégia de prevenção da doença.
Também não há a confirmação de fatores de riscos,
o que se sabe é que há algumas condições associadas como obesidade, faixa
etária correspondente ao período fértil da mulher, mais comumente entre 30 e 40
anos, início precoce das menstruações, cirurgias uterinas como cesariana,
remoção de mioma ou dilatação e curetagem e, por fim, histórico familiar. Isso
para a adenomiose.
No caso da endometriose, além dos fatores citados
acima, há malformações
uterinas, ciclos menstruais curtos, duração do fluxo menstrual aumentada e
estenoses cervicais.
Para mais informações sobre adenomiose,
endometriose e opções de tratamento, as pacientes devem consultar seus médicos
ginecologistas e obter orientações personalizadas.