Janeiro Verde é a campanha nacional de prevenção e orientação sobre o terceiro tipo de câncer mais comum nas mulheres
Sucessivas
quedas das taxas de cobertura indicam um futuro de risco aumentado para as
meninas que não receberam a vacina contra o HPV (papiloma vírus humano) antes
do início da vida sexual. Infecção sexualmente transmissível mais comum no
mundo, o HPV está associado a mais de 90% dos casos de câncer de colo do útero.
A neoplasia e vários outros tipos de câncer poderiam ser evitados com
vacinação, contudo, a queda dos números de imunização indica que o Brasil está
longe de atingir a meta de erradicação da doença até 2030.
Durante
o Janeiro Verde, mês dedicado à conscientização do câncer de colo de útero –
também conhecido como câncer cervical –, ganha destaque o fato de que a imunização
é o caminho mais curto e barato contra a doença, porém, não necessariamente o
mais utilizado. Em 2019, 87,08% das meninas brasileiras entre 9 e 14 anos de
idade receberam a primeira dose da vacina. Em 2022, a cobertura caiu para
75,81%. Entre os meninos, a cobertura vacinal baixou de 61,55% em 2019 para
52,16% em 2022.
O
oncologista Fernando Medina, do Centro de Oncologia Campinas, aponta que em
2021 foram registrados 16.760 novos casos de câncer de colo uterino pelo
Instituto Nacional do Câncer (Inca), total que subiu para 17.010 em 2023, sendo
que 6.380 mulheres faleceram em razão da doença.
“O
câncer cervical é o terceiro tipo mais comum nas mulheres e a quarta causa de
morte por câncer entre elas no Brasil. A despeito de todo o aparato preventivo,
tem aumentado de incidência aqui no Brasil, mesmo dispondo de meios para
praticamente ser erradicado”, explica o médico.
Dos
mais de 200 tipos de HPV, dois são responsáveis por cerca de 70% dos casos de
câncer de útero, conta o oncologista: o HPV 16 e o HPV 18. Outros tipos
de HPV podem também aumentar o risco do câncer do colo uterino, mas em menor
grau, acrescenta Medina.
“Estima-se
que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas pelo vírus HPV em
algum momento da vida. No entanto, a maioria das infecções é transitória e o
sistema imunológico é capaz de eliminá-las”, reforça Medina. “A vacina é uma
das medidas mais eficazes para prevenir o câncer de colo de útero. É segura e
pode evitar a infecção por HPV e o desenvolvimento de lesões cancerosas”,
detalha.
Pesquisa
nacional encomendada pelo Ministério da Saúde mostrou que mais da metade dos
indivíduos do estudo que iniciaram a vida sexual apresentaram resultado
positivo para o HPV: 54,4% das mulheres e 41,6% dos homens sexualmente ativos
que passaram pelo serviço tinham HPV genital.
Além
da associação com o câncer cervical, parte dos casos de câncer na vulva, pênis
e orofaringe tem relação com o HPV. Sem contar que 90% das verrugas genitais
são provocadas pela doença. A vacina HPV quadrivalente, disponibilizada pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), previne contra todas essas complicações e está
disponível, gratuitamente, nos postos de vacinação pelo Brasil.
Vacina
A
vacina contra o HPV, lembra Medina, foi incluída no calendário nacional em
2014. Antes, era aplicada apenas em crianças e adolescentes de 9 a 14 anos e em
pessoas de 9 a 45 anos em condições clínicas especiais, como as que vivem com
HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes
oncológicos (imunossuprimidos). Em agosto de 2023, a vacinação foi
estendida às vítimas de abuso sexual para se alinhar à recomendação da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Associação Pan-Americana de
Infectologia (API).
“O
ideal para prevenção do HPV e consequentemente do câncer de colo uterino seria
uma cobertura acima de 80%”, salienta Medina, que indica vários fatores como
determinantes para a queda das taxas de cobertura.
“Os
fatores que podem explicar a baixa adesão à vacina no Brasil são a falta de
informação e de conscientização a respeito de sua importância, as crenças
equivocadas, como a ideia de que a vacina estimula a promiscuidade sexual, e
dificuldade de acesso à vacina, como a falta de oferta em todas as unidades de
saúde”, enumera, reforçando a necessidade das campanhas de orientação como as
que ocorrem durante o Janeiro Verde.
Esquema
Vacinal do HPV
•
Pessoas de 9 a 14 anos de idade, do sexo feminino e masculino, vítimas de
violência sexual: duas doses conforme o Calendário Nacional de Vacinação de
rotina. As doses devem ter um intervalo de 6 meses;
•
Pessoas de 15 a 45 anos de idade, do sexo feminino e masculino,
imunocompetentes e vítimas de violência sexual: três doses, com um intervalo de
2 meses entre a primeira e a segunda; e de 6 meses, entre a primeira e a terceira.
O intervalo para vacinar deve ser de no máximo 6 meses;
•
Pessoas de 15 a 45 anos de idade, do sexo feminino e masculino nas indicações
especiais (vivendo com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula
óssea); pacientes oncológicos; imunossuprimidos (pessoas vivendo com HIV/Aids,
transplantados e pacientes oncológicos); e vítimas de violência sexual: três
doses, com um intervalo de 2 meses, entre a primeira e a segunda; e de seis
meses, entre a primeira e a terceira (0, 2 e 6 meses).
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