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quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Dezembro Vermelho: mês da conscientização sobre prevenção e tratamento da HIV/AIDS

“Mulheres devem ser empoderadas para que luta contra disseminação do HIV ganhe força”, diz ginecologista

 

Para a Dra. Mariana Rosario, ginecologista, apenas com trabalho intenso junto às mulheres, para que elas tenham pleno poder sobre seus corpos, suas vontades e direitos, é que a luta contra a disseminação do HIV ganhará novos rumos. “A mulher pode ser a agente da mudança no uso do preservativo em todas as relações”, diz a médica

 

Dezembro será um mês muito importante na disseminação de informações sobre a prevenção do contágio pelo HIV e no tratamento da AIDS. A campanha “Dezembro Vermelho” vem com força à mídia e aos órgãos de saúde, levando à população testes gratuitos de HIV e, também, de sífilis.

A Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, diz que o HIV já não é uma doença que mata como fazia há 20 anos – mas, que nem por isso deve ser menos temida. “O paciente com HIV continua sendo crônico e com limitações. Ele depende de um coquetel diário de medicamentos, que tem efeitos colaterais variados e, às vezes, bem desagradáveis, e precisa de acompanhamento médico. Além disso, infelizmente, sofre discriminação e pode ter problemas psicológicos e afetivos por causa dessa condição”, diz ela.

A forma mais comum de se adquirir a doença é por meio do contato sexual e do compartilhamento de agulhas no uso de drogas. Não existem mais casos de transmissão em transfusões de sangue porque os cuidados são rigorosos e o sangue é testado. Também não se corre mais risco em cirurgias e procedimentos médicos. “Evoluímos em muitos aspectos e é bem seguro viver sem se adquirir o HIV. Porém, se não usarmos o preservativo – camisinha masculina ou feminina – continuaremos tendo casos de contaminação”, alerta a médica.


O empoderamento feminino contra a contaminação por HIV

É por isso que a Dra. Mariana Rosario acredita que quanto mais se empoderam as mulheres, de todas as idades, mais se combate a disseminação do vírus HIV. “As mulheres que sabem que são as únicas donas dos seus corpos, que se amam integralmente, que não dependem financeiramente de outras pessoas – principalmente de homens - , que sabem que são cidadãs e que têm direitos, que têm acesso à educação e à saúde conseguem levar uma vida digna e, assim, podem exigir o uso do preservativo de seus companheiros. Apenas empoderando meninas e mulheres e que conseguiremos fazer valer o ‘não é não’ e a vontade feminina”, alerta a médica.

Por meio da educação e do esclarecimento, Dra. Mariana Rosario acredita que as mulheres conseguirão ajudar também os homens a entenderem que eles ficam tão doentes quanto quaisquer outras pessoas. “Quando as mulheres são esclarecidas, elas educam homens mais coerentes e menos machistas. Assim, empoderando as mulheres, teremos homens cientes do papel deles e que também terão o desejo de se prevenirem para não ficarem doentes. É um trabalho educacional diário, constante, que não podemos deixar de fazer”, alerta a médica.


Sífilis

A campanha Dezembro Vermelho também abordará o aumento da disseminação da sífilis. Diferentemente da AIDS, a sífilis tem cura – mas, se não tratada, pode ser muito perigosa: em estágio avançado, a doença leva a sérios problemas neurológicos. E, quando uma mulher engravida com a doença, causa doenças no bebê que serão levados para toda a vida.

“O tratamento da sífilis é simples. Mas, mais uma vez, essa é uma infecção sexualmente transmissível (IST), que pode ter contágio evitado com uso da camisinha”, alerta a Dra. Mariana.

Para finalizar, a médica dá um recado: “É preciso que mulheres e homens entendam que vivemos em tempos em que, se desejarmos manter nossas saúdes, precisamos nos cuidar cada dia mais. É preciso usar máscara para sairmos às ruas, é preciso usar camisinha em todas as relações sexuais. São hábitos que devemos criar e aos quais rapidamente nos acostumaremos, mas dos quais pode depender nossas vidas”.

 



Dra. Mariana Rosario – Ginecologista, Obstetra e Mastologista. CRM- SP: 127087. RQE Masto: 42874. RQE GO: 71979.


Casos de Aids diminuem no Brasil

Boletim Epidemiológico sobre a doença aponta queda na taxa de detecção de Aids no país desde 2012

 

O Brasil tem registrado queda no número de casos de infecção por Aids nos últimos anos. Desde 2012, observa-se uma diminuição na taxa de detecção da doença no país, que passou de 21,9/100 mil habitantes em 2012 para 17,8/100 mil habitantes em 2019, representando um decréscimo de 18,7%. A taxa de mortalidade por Aids apresentou queda de 17,1% nos últimos cinco anos. Em 2015, foram registrados 12.667 óbitos pela doença e em 2019 foram 10.565. Ações como a testagem para a doença e o início imediato do tratamento, em caso de diagnóstico positivo, são fundamentais para a redução do número de casos e óbitos. 

O Ministério da Saúde lançou, nesta terça-feira (1º/12), a Campanha de Prevenção ao HIV/Aids, em celebração ao Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Com o slogan “HIV/Aids. Faça o teste. Se der positivo, inicie o tratamento”, a campanha terá filme para TV, peças de mídia, internet e mídias sociais, cartazes e spot para rádio. 

O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, ressaltou o esforço do Sistema Único de Saúde (SUS) no tratamento e no diagnóstico da doença e destacou que as ações não param mesmo durante a pandemia da Covid-19. “Garantimos tratamento mesmo em época pandêmica. Não faltou medicação, testes rápidos de HIV ou preservativos. Garantimos a contínua dispensação de medicamentos para o tratamento desse paciente”. 

Na ocasião, o diretor do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Gerson Pereira, reforçou os ganhos do diagnóstico precoce da doença. “Em 2019, cerca de 135 mil brasileiros não conheciam seu diagnóstico. Hoje esse número reduziu a menos de 100 mil. Isso mostra que estamos buscando cada vez mais o diagnóstico”. 

Gerson destacou ainda a redução da mortalidade por Aids e a redução vertical não apenas do HIV, mas também da sífilis e das hepatites virais, ressaltando a importância da testagem. “Em 1995 as pessoas morriam em 5 meses, nos demorávamos um mês para ter o resultado do teste de Aids. Hoje o resultado sai em 15 minutos e a sobrevida de um paciente é de uma pessoa normal, desde que faça o tratamento”, afirmou o diretor. 

A campanha deste ano incentiva a busca pelo diagnóstico e tratamento da doença, reforçando que a camisinha é a forma mais fácil e simples de se prevenir contra o HIV. Caso não tenha utilizado camisinha, é de extrema importância realizar o teste de HIV, gratuito no Sistema Único de Saúde. Em caso de diagnóstico positivo, a orientação é iniciar o tratamento o mais rápido possível para evitar o adoecimento por Aids. Com o tratamento adequado, o vírus HIV fica indetectável, ou seja, não pode ser transmitido. 

A representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde OPAS/OMS no Brasil, Socorro Gross, parabenizou o governo brasileiro que é referência nos avanços e na acessibilidade ao tratamento da doença. “O Brasil tomou a decisão certeira de ter um tratamento e um sistema único de saúde de forma gratuita para todas as pessoas. Além disso, avançou em testes enquanto havia países em que se debatia se podia ou não ofertar um tratamento para suas populações. O Brasil foi referência com os cientistas e fez história em Aids junto ao SUS”, disse. 

Veja a apresentação do lançamento da Campanha.

 

DADOS DA DOENÇA

Atualmente, cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Dessas, 89% foram diagnosticadas, 77% fazem tratamento com antirretroviral e 94% das pessoas em tratamento não transmitem o HIV por via sexual por terem atingido carga viral indetectável. Em 2020, até outubro, cerca de 642 mil pessoas estavam em tratamento antirretroviral. Em 2018 eram 593.594 pessoas em tratamento. 

No Brasil, em 2019, foram diagnosticados 41.919 novos casos de HIV e 37.308 casos de Aids. O Ministério da Saúde estima que cerca de 10 mil casos de Aids foram evitados no país, no período de 2015 a 2019. A maior concentração de casos de Aids está entre os jovens, de 25 a 39 anos, de ambos os sexos, com 492,8 mil registros. Os casos nessa faixa etária correspondem a 52,4% dos casos do sexo masculino e, entre as mulheres, a 48,4% do total de casos registrados. 

O enfrentamento à doença não parou durante a pandemia da Covid-19. O Ministério da Saúde expandiu a estratégia de dispensação ampliada de antirretrovirais (ARV) de 30 para 60 ou até 90 dias. Hoje 77% dos pacientes em tratamento tem dispensação para 60 e 90 dias, em 2019 eram 48%. Além disso, o uso de autotestes foi ampliado com o objetivo de reduzir o impacto na identificação de casos de HIV por conta da pandemia. A pasta também garantiu a oferta de teste anti-HIV para pacientes internados com síndrome respiratória. Neste ano, até outubro, o Ministério da Saúde distribuiu 7,3 milhões de testes rápidos de HIV, 332 milhões de preservativos masculinos e 219 milhões femininos. 

Confira a íntegra do Boletim Epidemiológico 2020 – HIV/Aids. 


TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV

O maior número de gestantes infectadas com HIV (27,6%) está entre jovens de 20 a 24 anos. Em um período de 10 anos, houve um aumento de 21,7% na taxa de detecção de HIV em gestantes que pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e a melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical do HIV. Em 2019 foram identificadas 8.312 gestantes infectadas com HIV no Brasil. O Ministério da Saúde atualizou o protocolo para prevenção de transmissão vertical do HIV, ou seja, quando é passado de mãe para filho. 

Vale lembrar que o Brasil é signatário do compromisso mundial de eliminar a transmissão vertical do HIV e optou por adotar uma estratégia gradativa de certificação de municípios. A eliminação da transmissão vertical do HIV, assim como a redução da sífilis e da hepatite B, é uma das seis prioridades do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. A certificação possibilita a verificação da qualidade da assistência ao pré-natal, do parto, puerpério e acompanhamento da criança e do fortalecimento das intervenções preventivas. 

De 2015 a 2019, houve redução de 22% na taxa de detecção de aids em menores de 5 anos. Passando de 2,4 em 2015 (348 casos) para 1,9 casos (270 casos) por 100 mil habitantes em 2019. A taxa de detecção de aids em menores de 5 anos tem sido utilizada como indicador para o monitoramento da transmissão vertical do HIV, quando a transmissão acontece durante a gestação, o parto ou amamentação. 



Luiza Barufi
Ministério da Saúde


As 5 doenças psicossomáticas mais comuns na pandemia

Quem nunca sentiu uma dor específica ou um mal-estar e, ao ir ao médico e fazer os exames solicitados, descobriu que o problema tinha origem emocional? Atualmente, a relação entre doenças físicas e emocionais é bastante comum. Com a pandemia, a tendência se agravou.

Segundo Flávia Teixeira, psicóloga, mestre em Saúde Coletiva pela UFRJ, professora de pós-graduação em Psicologia Hospitalar na UFRJ e pós-graduada em Psicossomática Contemporânea, as doenças apresentam sintomas físicos, sem que nenhum exame laboratorial ou de imagem corrobore a organicidade dos mesmos.

“Estar sob forte pressão no trabalho, ter passado por um rompimento amoroso abrupto, pela perda de um ente querido ou estar com problemas financeiros, são exemplos de situações que podem levar o indivíduo a uma condição de estresse, ansiedade e tristeza tão grave que o corpo acaba absorvendo os desequilíbrios emocionais e mentais”, explica a psicóloga.

Ainda de acordo com Flávia Teixeira, no momento atual, tem havido muitos casos de pessoas que, devido a situações de estresse forte e constante, acabam tendo sintomas de gripe, dores no peito ou dificuldades de respirar, remetendo aos sintomas da covid-19 e, consequentemente, intensificando a ansiedade.

Abaixo, a psicóloga lista as 5 doenças psicossomáticas mais comuns percebidas na pandemia:

 

Resfriados frequentes

Quando os episódios acontecem com frequência, é sinal de que há algo de errado. Se os exames médicos não encontram uma explicação lógica para essa imunidade sempre baixa e você está passando por dificuldades, a somatização pode ser a resposta. “Para agravar o quadro, alguns sintomas se assemelham aos da covid-19, abalando ainda mais o emocional”, reforça a psicóloga.

 

 

Herpes

O vírus é transmitido através do contato com uma pessoa infectada. Entretanto, ele se manifesta em ocasiões de baixa imunidade. Ter episódios constantes de herpes, em especial, a labial, indica que o indivíduo apresenta alguma desordem no organismo. As feridas podem surgir em momentos de muito estresse. Os sintomas são surgimento de feridas ao redor da boca ou na região genital, com fortes dores e sensação de queimação no local.

 

 

Enxaquecas 

A enxaqueca não é uma dor de cabeça convencional, podendo durar algumas horas ou até dias. Alguns casos são incapacitantes, ou seja, a pessoa não consegue realizar atividades rotineiras. Estudos científicos apontam que o principal gatilho para o episódio de enxaqueca é o estresse. Por isso, ela também é considerada uma doença psicossomática. Os sintomas são dor intensa e localizada em um ponto da cabeça, náuseas e falta de concentração. “Quando não tratadas, as enxaquecas frequentes podem se tornar uma doença crônica, acompanhando a pessoa por toda sua vida”.

 

 

Alergia nervosa 

Talvez você nunca tenha ouvido falar, mas existe um tipo de alergia de fundo nervoso, em que o indivíduo apresenta erupções na pele desencadeadas por um forte processo de estresse. Os sintomas são coceira, vermelhidão no local e irritabilidade. “Uma crise, se não for tratada, pode acarretar em um choque anafilático”, adverte Flávia Teixeira.

 

 

Diarreia 

Em algumas pessoas, episódios de diarreia são decorrentes de forte estresse. Quando a diarreia se mostra constante e não há uma explicação física, como a Síndrome do Intestino Irritável, é bem possível que se configure como um caso de doença psicossomática. Os sintomas são dores abdominais e fezes extremamente líquidas.

 

“Na realidade, não existe uma dicotomia que separe os seres humanos em mental/psicológico/físico. Nosso funcionamento é resultado da interação com o meio e tudo aquilo que nos afeta”. Para lidar com a psicossomatização, a terapia, às vezes associada à medicação, é a melhor forma de evitar ou diminuir essas reações.

“Cuidar da saúde mental é fundamental para o autoconhecimento e para entender os alertas que o corpo emite. Neste momento conturbado em que estamos, estes sinais aparecem constantemente e nunca devem ser negligenciados. Daí a importância de procurar ajuda de um médico especializado ao menor sinal de que algo não vai bem”, finaliza Flávia Teixeira.

 

Combate ao coronavírus com luz UV-C prejudica a visão

Equipamentos utilizados na esterilização de ambientes e superfícies podem causar graves danos aos olhos, mostra estudo.

 

 

A pandemia de coronavírus disseminou em várias partes do mundo o uso da luz ultravioleta C como germicida de ambientes e superfícies, por sua já conhecida propriedade esterilizante. Não é para menos. Experimento chinês publicado na American Journal of Infection Control mostra que em 30 segundo de exposição à luz UVC morre 99,7% de uma cultura de Sars-Cov-2, vírus causador da COVID-19.

 

Pesquisa

Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier expor os olhos e a pele a este comprimento de luz é perigoso. Isso porque, dependendo do tempo de exposição, estes equipamentos podem causar graves- problemas como edema e outras alterações na retina, ou simplesmente danos à córnea, lente externa do olho responsável por 60% da nossa capacidade óptica. Foi o que aconteceu com sete americanos que participaram de um estudo realizado no Bascom Palmer Eye Institute (Miami). Os pesquisadores afirmaram que 12 olhos foram atingidos no ambiente de trabalho ou em casa e outros dois durante tratamento odontológico. Todos os pacientes tiveram conjuntivite, vermelhidão, aversão a luz, visão embaçada e dor intensa em resposta à fotoceratite, inflamação na córnea que provocou escamação da camada superficial. Em uma semana estavam recuperados após usar colírio lubrificante e antibiótico.

 

Cuidado com crianças

Queiroz Neto adverte que nem todos têm a mesma sorte. Ele conta que já atendeu um paciente que apontou uma ponteira laser para o olho e teve um edema na retina.  “O estrago só não foi maior porque a ponteira emite um feixe de luz que concentra toda sua energia em um só ponto”, comenta.  Na pandemia, com as crianças em casa, todo cuidado é pouco. Quem optar pela esterilização dos ambientes para poder recepcionar familiares nas festas de final de ano deve manter todos os equipamentos fora do alcance dos pequenos, só usar em ambientes vazios e proteger os olhos com óculos que tenham lentes com filtro.

 

Usos oftalmológicos

O oftalmologista ressalta que por paradoxo que possa parecer a luz UV-A de comprimento mais longo, entre 315 e 400 nanômetros, é usada na Oftalmologia em combinação com riboflavina, vitamina B2, para evitar o transplante de córnea em pacientes com ceratocone, doença degenerativa da córnea.  Já o Excimer laser usado na cirurgia refrativa para remodelar a córnea e eliminar a miopia emite luz UV-C de 194 nanômetros, salienta. “A diferença é que nas cirurgias o comprimento da luz e o tempo de exposição sãO0 calculados com precisão para que tenham ação terapeutica, explica.

 

Igual ao sol

O médico afirma que lesões na córnea, mais brandas que as sofridas pelos participantes no estudo americano, são recorrentes durante o verão em mais da metade da população brasileira. Isso porque, não protegem os olhos do sol nas atividades ao ar livre ou usam óculos com lentes escuras que fazem mais mal do que bem, já que escurecem e dilatam a pupila, permitindo que mais radiação UV penetre nos olhos. Muitos não levam a sério porque o desconforto desaparece depois de algumas horas longe do sol, mas estão perdendo células que fazem diferença com o passar dos anos, aumentam a chance de surgir catarata ou ter degeneração macular, mais causa de cegueira irreparável no mundo. Quem tem desconforto e vermelhidão nos olhos durante um banho de sol deve trocar os óculos. Prevenir é melhor que remediar, conclui.


Cuidados que pessoas com câncer devem ter com a saúde bucal

Doutor Fábio Ricardo Loureiro Sato conta como prevenir o surgimentos de feridas e doenças na boca


Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), a estimativa é que até 2022 surjam 625 mil novos casos de câncer. Essa doença que infelizmente para alguns casos ainda não tem cura, possui tratamentos como quimioterapia e radioterapia, que além de ajudarem a eliminar os tumores possuem alguns efeitos colaterais, que podem atingir a saúde bucal do paciente.

Entre algumas das consequência estão o aumento dos problemas gengivais, perda de paladar, surgimento de feridas, boca seca, infecções e cáries causadas pela radiação, podendo ser permanentes ou temporárias dependendo de onde está localizado o tumor e o tipo de tratamento realizado.

No entanto, o cirurgião bucomaxilofacial, Doutor Fábio Ricardo Loureiro Sato, conta que é possível prevenir e controlar esses problemas. "Primeiramente é preciso entender que a manutenção rígida, o aumento da higiene bucal e os cuidados em conjunto com as visitas clínicas antes, durante e depois do tratamento são essenciais".

Para isso ele citou cinco regras fundamentais que pacientes oncológicos devem ter para o resto da vida:

1- Abuse do uso de fio dental, escove com calma e sem força os dentes, gengiva e língua, sempre com escovas de dentes macias e creme dental com flúor.

2- Se faz uso de dentaduras ou aparelhos móveis, garanta que ele esteja na posição adequada para não causar feridas. Limpe o objeto diariamente com o uso de uma escova de dentes, e se possível diminua o tempo de uso, deixando-o guardado seco.

3- Manter a boca úmida pode ajudar, ou seja, além de beber muita água, mascar chiclete sem açúcar ou até mesmo com saliva artificial.

4- Evite o uso de enxaguantes bucais com álcool ou palito de dentes.

5- Não consuma bebidas alcoólicas ou fume.

6 - Faça uma consulta com um cirurgião-dentista antes de iniciar o tratamento para fazer um preparo de boca para receber uma radio ou quimioterapia, evitando possíveis problemas futuros.

"É importante ressaltar a importância do acompanhamento durante todo o tratamento oncológico com um cirurgião-dentista para garantir que tudo ocorra de forma saudável, e que a saúde bucal não seja mais um obstáculo durante o tratamento, já que ela pode até atrapalhar se não for feita corretamente", finaliza o Dr. Fábio Sato.

 



Dr. Fábio Sato - Formado pela Odontologia na USP, é mestre e doutor em Cirurgia Bucomaxilofacial. Sua atuação é principalmente no tratamento da Disfunção Temporomandibular, Cirurgia Ortognática para Correção das Deformidades Dentofaciais, além de outros procedimentos como Enxertos Ósseos, Implantes Dentários e demais relacionados à área.

 

Diabetes gestacional afeta desenvolvimento cognitivo do bebê

 Tipo da doença pode atingir até 25% das grávidas e prejudicar o desenvolvimento cognitivo do bebê, aumentando a propensão à obesidade e à própria diabetes tipo 2 na vida adulta

 

O diabetes é uma síndrome causada pela má absorção ou falta de insulina e oferece risco especial também para as gestantes. Como explica a médica com expertise em acompanhamento gestacional, Jordanna Leão, a gravidez requer atenção especial não só em relação à ingestão de alimentos nocivos ao feto, mas com a dieta como um todo. “Toda gestante que não adota uma alimentação saudável corre o risco de desenvolver diabetes mellitus gestacional”, alerta.

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a doença pode atingir até 25% das mulheres grávidas e é considerada o problema metabólico mais comum da gestação. Para Jordanna, esse número é preocupante, pois pode estar ligado a um impacto negativo do desenvolvimento dessas crianças. “O estado inflamatório da mãe durante a gravidez demonstrou relação com menor desenvolvimento cerebral de bebês de até dois anos de idade”, explica.

No mesmo sentido, um estudo do Departamento de Psicologia da Universidade de Yale aponta que os filhos de mães que enfrentam processos inflamatórios durante a gestação estão mais suscetíveis a psicopatologias.

 

Fatores de risco

A médica explica que o corpo humano se desenvolveu para garantir a quantidade de açúcar necessária ao feto, mas nossos hábitos mudaram muito desde então. Atualmente, muitas gestantes têm uma dieta rica em carboidratos e pobre em fibras, o que pode desencadear a síndrome metabólica.

Ainda que toda mulher corra risco de ter DMG, Jordanna explica que alguns fatores podem aumentar as probabilidades. “Aquelas que engravidam após os 35 anos, já estão acima do peso, que possuem histórico familiar de diabetes, que sofrem de síndrome do ovário policístico e que possuem estatura menor 1,5 m possuem maior risco de desenvolvê-la”, destaca.

Além dos efeitos sobre o desenvolvimento cognitivo do bebê, a especialista ressalta que a doença pode ainda elevar o risco de pré-eclâmpsia durante a gravidez.

 

Outros efeitos do diabetes no bebê

Mais do que isso, a especialista acrescenta que os bebês que se desenvolvem sob os efeitos do diabetes no organismo das mães tendem a nascer acima do peso, têm dificuldade de amamentação e apresentam quadros de hipoglicemia.

“Outro fator importante é que a DMG descontrolada aumenta o risco do desenvolvimento de alterações cardíacas no feto. E não é só isso. As pesquisas estão mostrando que o desenvolvimento do bebê nesse ambiente alterado produz uma “programação metabólica” do feto, aumentando o risco desse bebezinho desenvolver alergias e diabetes do tipo 2 quando adulto”, pontua.

 

A gestante precisa se preparar

Segundo Jordanna, a chave para evitar todos esses problemas está na orientação adequada das gestantes. “Temos que mostrar para nossas mulheres em idade fértil a importância de se alimentarem da melhor forma possível durante esse período, com bastantes frutas e verduras e retirando açúcares e industrializados da dieta”, aconselha.

Ela reforça que, na maioria dos casos, o controle é feito apenas com a dieta e a mudança de hábitos. Por isso, é crucial que a gestante entenda seu papel. “Toda mãe quer o melhor do mundo para seu filho, mas muitas vezes não tem percepção do impacto que as escolhas erradas podem causar na saúde do seu bebê”, completa.


Por que idosos devem fazer suplementação de vitamina B12?

A deficiência de mecobalamina pode causar manifestações neurológicas irreversíveis se não tratada a tempo. A anemia perniciosa, também conhecida como doença de Biermer, é um processo autoimune caracterizado pela destruição da mucosa gástrica, sendo muito frequente em idosos e uma das principais causas de deficiência de B12 nesta faixa etária

 

A vitamina B12 é fundamental para o funcionamento saudável do corpo, pois é responsável pela formação de células vermelhas do sangue, necessária para as funções do sistema nervoso e neurológicas, sendo cofator de diversas enzimas primordiais ao organismo, inclusive na produção de DNA. No entanto, a realidade tem números que assustam: estudos mostram que a prevalência de deficiência de mecobalamina varia entre 20% a 60% da e os idosos são um grupo de risco para tal.

A causa mais comum para esta ocorrência é a perda do fator intrínseco produzido pelas células parietais, associada a um tipo de gastrite (gastrite atrófica), que resulta na má absorção da deficiência de B12. Além disso, os idosos costumam ingerir menos carne, fonte de B12, por problemas de mastigação e deglutição.  Por isso, o tema precisa ser tratado como um caso de saúde pública, tendo em vista que cerca de 60% dos casos resultam da má absorção da mecobalamina a partir da dieta; entre 15% e 20% são decorrentes da própria anemia perniciosa, e os demais estão associados a uma dieta insuficiente e às doenças hereditárias do metabolismo.

Estudos mostram que a deficiência de B12 é um achado dos mais frequentes em pacientes com demência, variando entre 29% a 47% dos pacientes com sintomas demenciais. Até mesmo em pacientes idosos saudáveis tem sido observado uma correlação entre o nível de B12 e a função cognitiva. Vale lembrar que a demência causada por deficiência de B12 é considerada uma demência reversível se tratada a tempo, com a reposição de mecobalamina.  Portanto, em pacientes com sintomas demenciais, a deficiência de B12 é um diagnóstico diferencial importante a ser lembrado.

Os diversos sintomas da carência de mecobalamina

“Com um quadro clínico variável, alguns pacientes podem apresentar fraqueza, parestesias (sensação de formigamento), dores nos nervos (neuropatias), declínio cognitivo (levando a um quadro de demência), entre outros. O déficit da B12 também pode ocorrer para quem faz uso de inibidores da bomba de prótons (omeprazol, pantoprazol, esomeprazol), antibióticos e antagonistas do receptor de histamina H2 (cimetidina, ranitidina)e a metformina (medicamento para diabetes) E, por quem sofre com má-absorção, como no caso de gastrite atrófica, crescimento excessivo de bactérias no intestino, doença de Crohn, doenças inflamatórias e cirurgias intestinais”, esclarece Dra. Rita de Cássia Salhani Ferrari, médica geriatra e responsável pelo núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Marjan Farma. “Exatamente por isso, o diagnóstico precoce é fundamental para prevenir e impedir a progressão desses distúrbios. Dessa forma, recomenda-se uma avaliação médica evoluindo para exames que avaliam a deficiência de B12 no organismo” conclui.


Tratamento indolor, por via sublingual e na forma ativa

“Atualmente, para a suplementação da mecobalamina, existe o tratamento parenteral (injeções intramusculares), método que causa dores agudas e muitas vezes leva as pessoas à negligência. No entanto, o método mais eficaz, inclusive no quesito custo x benefício, está na medicação via sublingual de forma ativa, que oferece absorção imediata, um alívio aos pacientes idosos, principalmente se forem muito magros, tiverem dificuldade de deglutição ou distúrbios de coagulação”, explica a especialista. 

 



Dra Rita de Cássia Salhani Ferrari - médica geriatra formada pela Universidade Federal de São Paulo, Fellowship no Geriatric Medicine Program na University of Pennsylvania, responsável pelo departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Marjan Farma. 


Praticar Corrida, Desgasta a Cartilagem do Joelho? Principalmente entre os Esportistas

Para Esclarecer Tudo Sobre Este Assunto, Contamos com O Especialista em Cirurgia do Joelho e Traumas do Esporte: Dr. Samuel Lopes.

A prática de atividades ou exercícios de alto impacto podem ser um dos fatores para o desgaste da cartilagem do joelho, dependendo do tempo de prática e da sua intensidade. Mas esse é um assunto controverso, uma vez que esse desgaste acontece naturalmente, mais cedo ou mais tarde.

Agora, se de fato pode ocorrer o desgaste da cartilagem do joelho com a prática da corrida, precisamos antes entender dois pontos; a capacidade de adaptação e vulnerabilidade do Joelho.

Quem vai nos explicar melhor sobre isso é o Dr. Samuel Lopes, Ortopedista, Especialista Em Cirurgias Do Joelho e Traumas Do Esporte: -A capacidade de adaptação, significa que; à medida que você passa a correr e evoluir na corrida, condicionando melhor a sua musculatura, a cartilagem também consegue se adaptar e tolerar cargas progressivas sem que isso gere um maior desgaste da cartilagem e você venha a desenvolver uma artrose no futuro”.


Precisamos lembrar, qu e esse desgaste vai depender também de como a pessoa cuidou do seu joelho ao longo do tempo, seja com exercícios para o fortalecimento da musculatura, bem como as práticas preventivas e os cuidados com a cartilagem do joelho.

Dr. Samuel Lopes conclui: “O Cuidado que devemos ter é proteger a articulação, fazer uma progressão cuidadosa, e é aí que muitos corredores erram e acabam gerando cargas muito intensas, uma evolução abrupta, gerando sobrecarga e sim, podendo gerar um desgaste ao longo do tempo. É preciso fazer todo aquele trabalho para fortalecer a musculatura, correção da mecânica da corrida para proteger melhor a articulação”.

Sobre a vulnerabilidade do Joelho o Dr. Samuel Lopes também nos traz a sua explicação: “Se você já teve uma cirurgia de ligamento ou uma lesão de menisco no passado ou se já tem algum grau de desgaste da cartilagem, uma pré-disposição ou problemas com a obesidade, então sim, você terá mais risco de artrose se ele implica maior carga, somando com a corrida que gera um aumento da solicitação daquela articulação, ele aumenta o risco de desgaste daquela cartilagem e de uma evolução para a artrose no futuro”.

Sabemos que a prática da corrida traz benefícios inegáveis para a nossa saúde, desde melhorar a autoestima e aumentar a capacidade mental, além do aumento dos níveis de HDL (bom colesterol) no sangue; que ajuda na diminuição dos riscos de doenças cardíacas, além de reduzir a depressão, do retardamento do processo de envelhecimento da massa óssea, trazendo também um sono mais saudável, equilíbrio do estresse e da ansiedade.

A corrida não aumenta o risco de forma isolada, mas combinado à situação de vulnerabilidade do joelho, pode causar artrose. Pacientes com muitos casos de artrose na família, devem ter cuidados preventivos.

Resumindo: Precisamos avaliar se há situação de vulnerabilidade, respeitar a progressão, permitir a adaptação e buscar o acompanhamento profissional adequado.

Em caso de dor, procure um ortopedista ou fisioterapeuta para poder auxiliar no processo de tratamento e na prevenção de lesões.

 



Dr. Samuel Lopes - Médico ortopedista, especialista em cirurgias do joelho. Membro efetivo da sociedade Brasileira de Ortopedia (SBOT), Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ) e da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte. Chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Juiz de Fora – MG. Reabilitação -Tratamento – Ortopedia – Medicina Esportiva – Saúde

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Lancet: nenhum sistema de saúde do mundo está preparado para as mudanças do clima

Todos os países - ricos ou pobres - têm sistemas de saúde precários frente aos desafios que as mudanças climáticas já começam a impor. Esta é a principal mensagem da edição 2020 do relatório Contagem Regressiva Lancet (Lancet Countdown), um estudo sobre a relação entre mudança climática e saúde. O levantamento acompanha 40 indicadores nesse tema, e a edição lançada hoje (2/12) apresenta as perspectivas mais preocupantes até o momento.

Os novos dados mostram que apenas metade dos países pesquisados elaboraram planos nacionais de saúde e clima, com apenas quatro informando financiamento nacional adequado, e menos da metade dos países realizou avaliações de vulnerabilidade e adaptação para a saúde. Enquanto isso, dois terços das cidades globais pesquisadas esperam que a mudança climática comprometa seriamente a infraestrutura de saúde pública.

Segundo o relatório, nas últimas duas décadas houve um aumento de 54% de mortes relacionadas ao calor entre idosos, com um recorde de 2,9 bilhões de dias adicionais de exposição a ondas de calor afetando quem tem mais de 65 anos em 2019 - quase o dobro da alta anterior. Nesse mesmo período, o Brasil experimentou 39 milhões de dias a mais de exposição às ondas de calor afetando sua população idosa em comparação com o início dos anos 2000. O cálculo da exposição de populações vulneráveis a ondas de calor é expresso em dias/pessoa, ou seja, o número de dias de ondas de calor em relação ao número de pessoas afetadas.

O documento ainda destaca que o calor e a seca provocaram aumento acentuado de exposição a incêndios, causando danos ao coração e ao pulmão devido à fumaça, além de queimaduras e deslocamentos de comunidades. Esse cenário foi especialmente devastador no Brasil em 2019, que devido às queimadas na Amazônia viu saltar em 28% o número de dias em que sua população esteve exposta a um risco de incêndio de muito alto a extremo desde o início do século.

"A pandemia nos mostrou que quando a saúde é ameaçada em escala global, nossas economias e modos de vida podem chegar a um impasse", diz Ian Hamilton, diretor executivo da Lancet Countdown. "Os incêndios devastadores dos EUA e as tempestades tropicais deste ano no Caribe e no Pacífico, coincidindo com a pandemia, ilustraram tragicamente que o mundo não tem o luxo de lidar com uma crise de cada vez".

"A pandemia da COVID-19 lançou um holofote sobre a capacidade atual dos sistemas de saúde para lidar com choques futuros que a mudança climática já começa a gerar", afirma Hugh Montgomery, co-presidente da Lancet Countdown e doutor em terapia intensiva na University College London. Para ele a mudança climática amplia as desigualdades existentes na saúde entre os países e dentro deles. "Nosso relatório mostra que, assim como na Covid-19, os idosos são particularmente vulneráveis, e aqueles com uma gama de condições pré-existentes, incluindo asma e diabetes, correm um risco ainda maior".

O relatório - uma colaboração entre especialistas de mais de 35 instituições, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Banco Mundial e liderado pelo University College London - vem a público às vésperas do 5º aniversário do Acordo de Paris, quando o mundo se comprometeu a limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2ºC.

"Chegamos ao 5º aniversário do Acordo de Paris enfrentando as piores perspectivas para a saúde pública que nossa geração já viu", lamenta Wenjia Cai, diretora do recém-lançado Centro Regional Lancet Countdown para a Ásia, sediado na Universidade de Tsinghua, em Pequim. "O não cumprimento de nossos compromissos climáticos pode tirar alguns objetivos-chave de desenvolvimento sustentável do alcance, assim como nossa capacidade de limitar o aquecimento."

 

Riscos no Brasil

Um destaque que diz respeito ao Brasil são as mortes relacionadas à dieta alimentar: no Brasil são muito significativas - quase 248 mil por ano, dos quais quase 38 mil estão ligadas ao consumo excessivo de carne vermelha.

A poluição que causa milhares de mortes prematuras por inalação partículas finas (PM2,5) também é apontado no relatório com um problema crítico no país, sendo o transporte movido a combustíveis fósseis o principal responsável.

O relatório aponta ainda que houve um aumento das horas de trabalho perdidas devido ao calor extremo na América Latina - foram mais de 4 bilhões de horas perdidas em 2019 no Brasil, e as perdas médias nos últimos quatro anos são 36% maiores do que no início da década de 90. Enquanto isso, a dengue avança no continente, com o mosquito Aedes aegypti se adaptando cada vez mais aos ambientes urbanos de Brasil e Peru, ajudado, segundo o relatório, pelo armazenamento improvisado de água em resposta às estiagens e cortes de abastecimento.

 

Retomada Verde

Um editorial da Lancet publicado junto com o novo relatório destaca que a mudança climática e o risco de pandemia zoonótica compartilham os mesmos fatores, tornando-os inextricavelmente entrelaçados, de modo que devem ser tratados em conjunto.

Os 120 acadêmicos e médicos por trás do novo relatório dizem que se forem tomadas medidas urgentes para enfrentar a mudança climática - implementando planos para cumprir os compromissos de limitar os aumentos de temperatura global a bem abaixo de 2ºC - será possível mitigar esses choques e obter benefícios econômicos e de saúde. Ao mesmo tempo, estas ações poderiam reduzir o risco de futuras pandemias, porque os motores da mudança climática também podem impulsionar o risco de pandemia zoonótica (doenças infecciosas causadas por microorganismos que saltam de animais não humanos para humanos).

"Se quisermos reduzir o risco de futuras pandemias, devemos priorizar a ação sobre a crise climática - uma das forças mais poderosas que impulsionam as zoonoses hoje", declara Richard Horton, editor-chefe da The Lancet. Para ele, este é o momento de proteger a biodiversidade e fortalecer os sistemas naturais dos quais depende nossa civilização. "Assim como vimos com a COVID-19, uma ação retardada causará mortes evitáveis."

Os 7 milhões de mortes anuais por poluição do ar associadas à queima de combustíveis fósseis em todo mundo dão um exemplo desse potencial. Na Europa, modestos passos para promover setores de energia e transporte mais limpos viram as mortes por poluição atmosférica PM2,5 cair de 62 por 100 mil em 2015 para 59 por 100 mil em 2018. Globalmente, as mortes por PM2,5 ambientais associadas ao carvão caíram em 50 mil no mesmo ano.

Os ganhos de saúde, por sua vez, poderiam gerar muitos bilhões em benefícios econômicos. Por exemplo, a melhoria marginal da qualidade do ar da União Européia nos cinco anos até 2019 poderia valer cerca de US$ 8,8 bilhões por ano, se mantida constante.

Como a produção de alimentos é a fonte de um quarto das emissões mundiais de gases de efeito estufa, o relatório sugere que existe uma oportunidade semelhante para tratar de algumas das 9 milhões de mortes anuais ligadas à má alimentação. Com a pecuária sendo particularmente intensiva em emissões, o relatório examinou as mortes causadas pelo excesso de consumo de carne vermelha e constatou que a mortalidade aumentou 70% nos últimos 30 anos. Uma dieta com menos carne bovina teria portanto benefícios de saúde diretos e também indiretos, pela diminuição das emissões.

"Há uma oportunidade genuína de alinhar as respostas à pandemia e à mudança climática para proporcionar uma tripla vitória: melhorar a saúde pública, criar uma economia sustentável e proteger o meio ambiente", afirma Maria Neira, diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da Organização Mundial da Saúde. "Mas o tempo é curto. A incapacidade de enfrentar essas crises convergentes de modo simultâneo pode elevar a produção de combustíveis fósseis, colocando a meta mundial de 1,5ºC fora do alcance e condenando o mundo a um futuro de choques de saúde induzidos pelo clima."

 

 

[1] Para a dengue, a suscetibilidade climática global à transmissão aumentou em 15% desde 1950.

A susceptibilidade à transmissão da malária em áreas montanhosas aumentou 39% na região africana da OMS, e 150% na região do Pacífico Ocidental da OMS desde os anos 50.

Desde 1982, a área da linha costeira adequada para surtos de infecções por vibrio aumentou 61% no Báltico e 99% no nordeste dos EUA (de 51% 1982-1986 para 82% 2015-2019) no Báltico, e 26% 1982-1986 a 55% 2015-2019 no nordeste dos EUA).

 

Relatório disponível em https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)32290-X/fulltext

 

 

 

 

As crianças e o futuro

Cresci ouvindo as histórias sobre a infância pobre de minha mãe. Quando visitava minha avó ou minhas tias, o assunto aparecia alguma hora e todos tinham algum episódio triste ou constrangedor para contar. Família numerosa, apenas eu e um primo chegamos na universidade. Na geração que trabalhou desde criança, todos continuaram pobres ou quase pobres. Minha mãe deixou os estudos na terceira série do primário e os outros um pouco depois. O trabalho era mal remunerado, pois afinal eram apenas crianças. Depois de adultos, sem escolarização adequada, continuaram mal remunerados porque, afinal, não se "esforçaram o suficiente" para melhorar de vida. Muita gente ainda pensa assim, muita gente, cheios de razão em seus silogismos perversos.

Segundo o IBGE, em 2016, mais de dois milhões de crianças e pré-adolescentes trabalhavam no Brasil. Um país com um passado escravista e com uma legislação social ignorada em muitas regiões do país, a exploração do trabalho infantil é revestida e naturalizada por um discurso de aprendizado e experiência que ajuda a criança a se afastar das drogas e das más companhias e conheça, desde cedo, o valor do trabalho honesto. Recentemente o presidente da República reafirmou essa tese: “deixem as crianças trabalharem”, disse, como a versão de um Roosevelt paleolítico.

Há poucos dias, o economista francês Thomas Piketti afirmou que a possibilidade de o Brasil se desenvolver efetivamente é muito difícil em face da desigualdade social. Ela impede que as novas gerações consigam ampliar a produtividade, incorporando as novas tecnologias, melhorando a receita do país e possibilitando uma maior distribuição de renda. Ou seja: nosso discurso sobre como o “trabalho" dignifica a criança é um tiro no peito do nosso futuro, porque prejudica a formação necessária para que essa criança se torne um adulto produtivo e capaz de gerar e receber mais dinheiro.

Uma dessas crianças que trabalham, chamado Sandro, abordou-me perto da minha casa, pedindo que eu comprasse um pacotinho de balas de goma. Ele me disse que estava na rua desde às nove da manhã e só tinha conseguido três reais e cinquenta centavos. Mostrou-me a caixa com as fileiras coloridas, quase cheia. Disse também que tinha comido seis balinhas e aquilo tinha sido tudo o que tinha ingerido de alimento naquele dia. Eu tinha uma nota de vinte no bolso e ofereci para ele, dizendo para ele comprar um lanche. Ele agradeceu e disse-me que não poderia comprar um lanche pois precisava levar comida para casa, para a mãe e o irmão menor. Eu falei então que ele fizesse o que achasse melhor, o dinheiro agora era dele. Sandro então contou-me, sorrindo, que compraria vina e macarrão com aquele dinheiro. E que ainda poderia comprar algo mais com os três e cinquenta que tinha conseguido.

Esse menino que estava, em um sábado, trabalhando há oito horas, sem comer nada de nutritivo, é o futuro do Brasil. Quando olhamos para esses meninos e meninas nas esquinas das ruas, ou vemos imagens de milhares deles trabalhando nas áreas rurais, ribeirinhas, periféricas, nos lixões que ainda desafiam qualquer racionalidade urbana,  no comércio e em indústrias de fundo de quintal e quando nos enganamos dizendo que isso é bom, que assim eles aprendem o valor do dinheiro desde cedo e que ajudam às famílias, não nos esqueçamos: eles e elas são o futuro do Brasil.

Minha mãe conta que certa vez jogou uns centavos no jogo do bicho e ganhou um prêmio. Correu no açougue e comprou uma rodela de salsicha. Sentindo-se sortuda, cortou um pedaço e comeu sozinha. Levou o resto para casa, para a mãe, minha avó, fazer a janta para a família. Como Sandro fez. Minha mãe, de 82 anos, foi o passado do Sandro, um passado resistente como uma praga que suga as raízes das plantas novinhas, impedindo que se desenvolvam. E o Brasil repete esses erros porque é um país de memória falha. Ou de caráter, talvez.

 


Daniel Medeiros - doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.
danielmedeiros.articulista@gmail.com
@profdanielmedeiros


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