"Vivemos em uma sociedade em que o feminino parece estar em guerra com o
masculino". A frase é da juíza de Direito, Lizandra dos Passos, cujo
trabalho de conciliação com o uso terapia constelação familiar com casais
envolvidos em agressão tem ajudado a reduzir os casos de violência doméstica no
interior do Rio Grande do Sul.
A
constelação familiar – psicoterapia desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger que
investiga as relações interpessoais das pessoas em sua família- tem sido usada
por magistrados na solução de conflitos levados à Justiça e na ressocialização
de detentos.
Na
comarca de Parobé, cidade com 55 mil habitantes localizada a 70 quilômetros de
Porto Alegre, a constelação familiar vem sendo empregada desde o fim de 2016
para ajudar casais a superar divergências que culminaram em atos de violência.
Nesse
caso, apontado pelo Conselho de Justiça Federal como uma das boas práticas da
Justiça Estadual brasileira, as sessões de conciliação entre casais têm
ocorrido em novo formato da aplicação da constelação familiar.
Conter a escalada de violência
A
juíza Lizandra dos Passos e as psicólogas Candice Schmidt e Cristiane Pan Nys
alteraram o modelo usual da terapia coletiva e formaram grupos mistos de homens
e mulheres nos quais as vítimas são separadas dos agressores em agrupamentos
distintos e com sessões de terapia feitas em separado.
Com
isso, homens e mulheres passaram a ver nuances do problema que enfrentavam, mas
da perspectiva de um terceiro, ajudando nesse processo a identificar padrões de
comportamento que levam à agressão, bem como o histórico de violência doméstica
observado na própria família.
Assim,
por exemplo, um determinado agressor passava a vivenciar a experiência de uma
vítima, se solidarizando com ela e passando a perceber seu papel de algoz. E
esse tipo de experiência, conta a juíza Lizandra dos Passos, tem ajudado a
apaziguar os ânimos, abrindo espaço para a ponderação e a retomada dos
relacionamentos.
“Nas
sessões de constelação, muitas vezes os participantes conseguem
identificar, em seu sistema familiar, o emaranhado que define o seu
comportamento agressivo”, diz a juíza. “Esse tem sido um trabalho cuidadoso,
minucioso e muito positivo na mudança de postura dos homens e, também, de
ajuda para que as mulheres saiam da condição de vítima”, acrescenta Lizandra
dos Passos.
A
juíza diz que quando chegou em Parobé havia uma escalada de violência e, muitas
vezes, a mulher agredida não denunciava. “Ao mesmo tempo, víamos homens com
comportamento de vítimas e mulheres com comportamento de agressoras e ambos com
posturas infantilizadas. E começamos a usar a constelação familiar para fazer
com que esses casais identificassem onde estavam os padrões que os levavam a
esses comportamentos”, disse.
De
acordo com ela, desde que a psicoterapia vem sendo usada nos casos de violência
doméstica em Parobé, houve redução de 94% na reincidência das agressões entre
homens e mulheres. Segundo Lizandra dos Passos, trata-se de uma mudança
de cultura que busca reconciliar os universos feminino e masculino.
Agência CNJ de Notícias