Estudo inédito
conduzido pela UFRJ avaliou competências em alunos entre 10 e 17 anos que
participaram de programa de aprendizagem socioemocional
A partir de 2020, as escolas
brasileiras terão de incluir as habilidades socioemocionais no currículo,
conforme prevê a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Atualmente,
existem projetos e iniciativas voltados para o desenvolvimento dessas
habilidades nas escolas, porém ainda são bem escassos no Brasil estudos que
comprovem seu impacto no comportamento dos estudantes.
Para
elaborar a primeira pesquisa de avaliação dessas habilidades em larga escala no
país, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) acompanhou durante o
período de um ano um grupo de 9,6 mil estudantes entre 10 e 17 anos que
participaram de um programa estruturado de aprendizagem de habilidades
socioemocionais aplicado em escolas brasileiras, o Programa Semente.
Para
mensurar a eficiência do Programa, os pesquisadores avaliaram os aspectos
propostos pelo Collaborative
for Academic, Social and Emotional Learning (CASEL), principal
centro de estudos da aprendizagem socioemocional do mundo, e empregado como
referência na metodologia do Programa Semente por meio dos cinco domínios: autoconhecimento, autocontrole,
empatia, decisões responsáveis e habilidades sociais.
No
início do ano letivo de 2017, cerca de 9,6 mil estudantes distribuídos em
escolas nas cinco regiões do país tiveram acesso a uma plataforma online, na
qual responderam a um questionário com 45 perguntas. No final de 2017, o mesmo
grupo respondeu ao mesmo questionário, após quase um ano de experiência com o
Programa em sala de aula.
Os
dados tabulados indicaram impactos positivos em todos os domínios avaliados,
apontando nos índices gerais de Habilidades Socioemocionais um aumento
estatisticamente significativo de 6,7% na melhora do comportamento desses
alunos.
Analisando cada item, a magnitude das
mudanças variou de 2,3% (Empatia Cognitiva Emocional) até 13,9% (Autocontrole).
O Autoconhecimento (13,5%) e as Habilidades Sociais (7,2%) completam o pódio
com os maiores níveis de melhora.
Para avaliar se as diferenças obtidas
eram estatisticamente significativas, foram realizados testes estatísticos
(teste t de Student). Os resultados dos testes t demonstraram que todos os
escores apresentaram um aumento estatisticamente significativo. Ou seja, “o
Programa Semente, em nível nacional, foi capaz de ampliar os níveis de
habilidades socioemocionais em todas as facetas”, afirma o pesquisador Bruno
Damásio, do Departamento de Psicometria da UFRJ e responsável pelo estudo.
As
análises foram realizadas separadamente para meninos e meninas, bem como para
alunos do 6º ao 9º ano, e a diferença entre os gêneros não foi relevante. As
meninas começaram o estudo em quase todos os critérios, com pontuações
levemente superiores aos meninos. Estes, no entanto, obtiveram maior crescimento
que as meninas em praticamente todos os critérios, fazendo com que ficassem no
mesmo patamar. “Ou seja, o efeito do Programa Semente pode ser considerado
equivalente para meninos e meninas do 6º ao 9º ano”, explica Damásio.
O único
critério com diferença relevante foi a empatia cognitiva-emocional. Antes do
Programa Semente as meninas apresentavam um desenvolvimento maior que os
meninos de 9,65 pontos. A diferença aumentou levemente para 9,76 pontos.
Em
relação às séries, os valores variaram pouco entre si. Isso significa que a
maturidade referente à idade não teve influência, já que mesmo em séries
diferentes as pontuações iniciais para todas as habilidades avaliadas eram
próximas e a evolução não variou muito de uma série para a outra. “Em todos os
critérios foi observado crescimento após o Programa”, afirma o pesquisador.
Para o
médico psiquiatra e educador Celso Lopes de Souza, fundador do Programa
Semente, os dados são animadores. “Os estudantes evoluíram muito e os
resultados mostram que estamos no caminho correto. Não adianta apostar em algo
que não funciona. Por isso contamos com uma auditoria externa para avaliar
nosso trabalho. Educação requer esse tipo de cuidado”, diz.
Nos
próximos anos, os alunos continuarão sendo avaliados, para que se verifique o
impacto longitudinal do Programa Semente nos diversos domínios trabalhados,
estabelecendo comparações entre as séries e segmentos à medida em que avançam
para os anos subsequentes.
Amostra:
9.608 alunos
Idade dos participantes:
de 10 a 17 anos
Gênero:
Feminino: 5.366 (55,8 %)
Masculino: 4.242 (44,2 %)
Distribuição por região do
país:
Região do país
|
Número de respondentes
|
Porcentagem
|
Norte
|
879
|
9,1%
|
Nordeste
|
2102
|
21,9%
|
Sul
|
679
|
7,1%
|
Sudeste
|
4233
|
44,1%
|
Centro-Oeste
|
1715
|
17,8%
|
Total
|
9608
|
100,0%
|
Sobre
o Programa Semente (www.programasemente.com.br) – Com uma abordagem
moderna e inovadora, o Programa Semente está presente em escolas brasileiras
contribuindo para o desenvolvimento socioemocional de alunos e educadores. A
partir de um material escrito por educadores, médicos e psicólogos, sua
metodologia possibilita que sejam trabalhadas em sala de aula questões como
sociabilidade, autoconhecimento, autocontrole, empatia e decisões responsáveis,
entre outras habilidades, cada vez mais presentes no mundo do trabalho e nas
principais avaliações internacionais de educação, como o PISA. Desta forma, o
Programa Semente contribui para a alfabetização emocional.