O
mercado de beleza e cosméticos é um dos que mais cresce no Brasil. Com uma
população cada dia mais exigente e com demandas pulsantes, a indústria e os serviços
desse setor precisam se reinventar de maneira dinâmica e constante. De acordo
com a Euromonitor International, o Brasil ocupa a terceira posição no
ranking mundial no consumo de cosméticos, ficando atrás apenas de Estados
Unidos e Japão. No mercado interno, o setor de beleza está entre os dez
principais segmentos do varejo e, claro, isso não é apenas mérito das mulheres.
No nicho específico de cosméticos para o público masculino, o Brasil ocupa o
segundo lugar no mundo.
Recentemente,
participei da Cosmoprof Bolonha, a maior feira mundial do setor de
cosméticos. Um dos destaques observados por lá é justamente o crescimento do
setor de beleza masculina, o chamado men’s grooming. Ainda que em escala
menor ao universo feminino, já é possível observarmos linhas de cremes e
tratamentos pensados exclusivamente para os homens. A variedade de perfumes,
desodorantes e cosméticos pré e pós-barba cresce a cada dia - e muito em função
de atender uma demanda que antes era ignorada.
Por
falar em barba, ela tem sido a protagonista dessa mudança e assumiu ares de
referência de beleza e vaidade. O segmento men’s grooming tem ganhado
tanta força que não faltam oportunidades de negócios e surgimento de startups
nesse segmento. Nos últimos anos, observamos nos grandes centros o surgimento
de barbearias à moda antiga. Tem cadeira com estofado de couro, decoração
característica, navalha especial, shampoo com essência de cerveja, tônico de
crescimento e uma lista de cosméticos e tratamentos de dar inveja a qualquer salão
de beleza feminino.
Outra
tendência fortíssima da Cosmoprof Bolonha é o segmento de produtos
naturais e orgânicos. Impulsionada pela macrotendência de saúde e alimentação
natural, no segmento de beleza já começa a se consolidar opções de produtos
para o corpo, pele e cabelo que são desenvolvidos com ingredientes mais
conectados a esse estilo de vida. O fato é que os consumidores estão
preocupados com a saúde, e nesse sentido os produtos naturais ganham muito mais
pontos do que os produtos recheados de químicas pesadas.
Dentro
desse nicho existem duas demandas diferentes, mas que são correlatas, produtos
de origem orgânica e produtos naturais. A diferença básica é que os produtos
naturais não sofrem - ou possuem muito pouca - interferência química. Eles são
extratos e princípios ativos naturais com mínimos processos industriais.
Enquanto isso, produtos orgânicos são certificados por órgãos reguladores e só
utilizam compostos de origem orgânica em sua composição.
As
empresas também estão sendo pressionadas a serem cada dia mais transparentes em
relação ao seu processo de produção. Os consumidores querem saber exatamente o
que estão consumindo, exigem que a composição de ingredientes esteja no rótulo
e de uma maneira que ele consiga entender. Essa transparência precisa permear
as organizações, muito além de estampar na embalagem e no marketing dos
produtos o propósito de saúde e beleza. É preciso que isso faça parte do core
business da companhia.
Nesse
sentido, selos de qualidade, que atestam a qualidade em produtos e processos,
além de embalagens alinhadas a essa tendência natural foram os destaques
durante a feira. Por falar em embalagens, essas estão cada dia mais
conscientes. Elas recebem uma roupagem e design alinhados com o propósito e o
conceito de sustentabilidade que está sendo empregado em seus materiais.
Algumas empresas, inclusive, estão investindo em componentes que sejam fáceis
de reciclar e em substâncias biodegradáveis. Mesmo sendo alternativas mais
caras, tudo isso serve para suprir as expectativas desses consumidores.
É
possível notar outras três tendências em relação a embalagens. A primeira é o
tamanho. A maioria das empresas está lançando o mesmo produto em dimensões
diferentes e embalagens mais compactas, que é a bola da vez. O ciclo de vida da
embalagem também está sendo pensado e observado pelas empresas de cosméticos.
Mais uma vez para atender a expectativa dos clientes com relação a
sustentabilidade.
Mas,
o que realmente me surpreendeu foram as tendências de smart package. Esse
é um conceito de interação entre online e offline que as
companhias estão propondo em suas embalagens. A ideia é fazer o consumidor,
munido de seu aparelho celular, interagir com o universo do produto ainda no
ponto de venda. Essa é uma característica das “embalagens do futuro”. Imagine
aplicar um QR Code no rótulo e, quando acessado, o consumidor vê o storytelling
por trás da formulação do produto. É uma experiência que pode enriquecer a
vivência do cliente, fazê-lo interagir com a marca, experimentar o resultado e,
por que não, criar empatia pelo processo de produção. A novidade foi tão
impactante que já estamos trabalhando no desenvolvimento de um book
institucional que proporciona a interação entre o mundo on e off
por meio do QR Code.
O
que mais me chamou atenção é que todas as tendências são na verdade resultado
de uma pressão que as empresas já estão vivendo em seus mercados, por causa das
mudanças no comportamento do consumidor, que está cada dia mais antenado, bem
informado e exigente. O Brasil é um dos países que mais desenvolve tecnologia e
soluções de beleza para pele negra, por exemplo. Não é para menos, uma vez que
metade da nossa população é afrodescendente. Assim, a indústria apenas responde
às demandas do consumidor.
Para
crescer, basta ter um olhar atento isso. É incrível o quanto uma indústria pode
crescer e se aprimorar baseada em inovação para as tendências de seu mercado. O
desafio é tangibilizar essas informações e transformar dados em negócios. Tirar
do mundo das ideias e trazer para o real, podendo aplicar a informação à fim de
realizar o planejamento estratégico da empresa, é o que realmente vai fazer a
diferença para esse mercado.
Ricardo Bertoni -
publicitário pós-graduado em design. É diretor de arte na Mazzaferro Color
Charts, referência no segmento de cosméticos. O profissional tem estudado
inovações no mercado de beleza e participando das principais feiras globais do
setor.