O primeiro texto de minha
autoria que causou admiração foi exatamente sobre as mães. Era 1972, eu tinha
nove anos e saboreei cada elogio.
Mãe envolve inspiração e
emoção. É a combinação perfeita para que esse tema seja promissor e
inesgotável.
No meu livro "O
Perfume das Tulipas" conheci as diferentes faces da mãe,
dentro de um conflito tão aterrorizante. Minha indignação foi tão grande,
quanto o desastre moral a que muitas delas ficaram sujeitas.
As transformações de uma
política baseada em violência não pouparam, nem mesmo, a figura materna.
Estavam todas expostas a uma
conduta de obediência tão radical, que o amor incondicional entre mãe e filho
foi sufocado.
De um lado, as mães nazistas
que foram reduzidas a procriadoras e do outro, as mães judias que morriam com e
pelos seus filhos. Enquanto umas geravam vidas, as outras caminhavam
literalmente para morte.
Existiu uma aniquilação de
sentimentos básicos e fundamentais pelo fanatismo incontrolável. A mãe ariana,
o exemplo máximo de devoção à família, era uma criatura manipulável, que se
contentava em perpetuar a pureza da raça, com maior número possível de filhos.
Sua recompensa, a Cruz de Honra de bronze (4 filhos), prata (6 filhos) e ouro
(8 filhos). Além do prestígio dentro do Reich, essa condecoração
era cobiçada por render incentivos econômicos.
Os ensinamentos que a mãe
ariana passava aos seus filhos eram totalmente voltados às regras estabelecidas
pelo regime. As crianças eram doutrinadas à submissão e à idolatria ao
Führer. A educação era disciplinada pelo medo. A mãe nazista era a
primeira educadora a apresentar à criança o significado de pertencer à raça
superior.
As ideias de segregação e a
identificação das sub-espécies, principalmente o judeu, como uma ameaça
inimiga, era difundida dentro do lar. Essa iniciação ao ódio, nada nos remete à
postura de uma mãe acolhedora e protetora. O nazismo foi capaz de roubar o
sentimento mais nobre de uma mulher, o amor de mãe. Ou melhor, esse amor foi
corrompido, deturpado.
A mãe ariana acreditava que
exercia esse amor, transformando seus descendentes em soldados que não se
desenvolviam como indivíduos, mas como parte de um grande exército, sempre
dispostos a servir a pátria. Torna-se inexplicável, o quanto essas mães
abandonaram sua grandeza e força, para se tornarem apenas caricaturas maternas.
Do outro lado, rodeada de
muros e arames farpados, a mãe judia defendia seus amados filhos com seu abraço
e seu silêncio. A prece para salvá-los parecia estar na morte rápida, após o
cansaço pela sobrevivência. A luta inglória em defender seus filhos estava nos
olhos assustados e no coração dilacerado. A privação da vida em forma de fome e
doença transformou a mãe judia na provação máxima, incalculável, de viver a
aflição de sua prole.
Não haveria maior castigo. Pedir
pela vida deles seria deixá-los sozinhos no imenso pesadelo, à mercê de seus
assassinos. A impotência em defendê-los deu a essas mães, a única esperança que
lhes era possível, a liberdade pela morte. A mãe judia os libertou do
sofrimento e os protegeu de forma única, com o seu amor. O consolo a tanta dor
foi encontrado, em poder permanecer ao lado deles, seja em que mundo fosse.
Hoje, as mães são cobradas por um mundo que tem
pressa. Ser mãe tornou-se um grande desafio. Existe uma culpa selada entre o
trabalho e seu desempenho maternal. A confusão é inevitável e a cobrança
também. Optar, sempre pode significar um lado mal resolvido. Conciliar é a
busca da mãe moderna. Ela se fortifica no seu poder em adaptar-se. As
mudanças de comportamento das mães, podem ser notadas através do tempo.
O modo como ela se relaciona com seus filhos
também, mas a presença desse amor incondicional se mantém durante a História.
Esse sentimento é imutável. Ele é transformador. Mães se jogam sem paraquedas
para amortizar o salto do filho. Simples mulheres tornam -se resistentes e
incansáveis mães... Seres que descobrem fé na primeira cólica e que se
emocionam de forma vibrante todo ano, na comemoração de mais um Dia das Mães.
O amor de mãe é tão importante e necessário que
arrisco-me a dizer que a ausência dele pode ser desastrosa. Atualmente vivemos
em um mundo com a mesma intensidade da agressividade e violência da Segunda
Guerra, mas também com o mesmo poder do amor incondicional de uma mãe judia.
Embora as famílias sejam formadas de maneira diversa, tradicional ou
não, e os filhos venham a ser gerados e acolhidos por meios inovadores, o
papel do amor materno se mantém como referência única, de grandiosidade e
fortaleza, capaz de ser revelado em pessoas que acreditam que esse amor não é
privilégio de instinto feminino, mas sim de um sentimento nobre humano.