Através da
educação, os jovens atendidos contribuem para o fim da violência em áreas
periféricas do Norte e Nordeste brasileiro
O grito das meninas e mulheres pedindo o fim da violência está
ficando mais alto no Brasil. E com o objetivo de ampliar o alcance dessa
voz, a Plan International
Brasil - organização que tem como propósito a promoção dos
direitos das crianças e igualdade das meninas tem, através de seus projetos,
buscado reduzir os impactos dessas desigualdades e oferecendo a possibilidade
de empoderamento às jovens atendidas.
No Brasil são mais de 20 projetos com impacto direto em cerca de
70 mil crianças e adolescentes. O foco dos projetos é o desenvolvimento
comunitário centrado nos direitos de crianças e adolescentes onde a organização
oferece ferramentas que possibilitam mudanças vitais necessárias para acabar
com as raízes da discriminação contra meninas, exclusão e vulnerabilidade.
Milhares de mulheres e meninas no Brasil sofrem violência
simplesmente por serem do gênero que são. Parte esmagadora dessa violência é
consequência de uma cultura machista, que é profundamente enraizada em muitas
comunidades no Brasil. Isso afeta as escolhas que as meninas fazem e os
acontecimentos que vão moldar o seu futuro.
Só em São Paulo, uma mulher é agredida a cada 15 segundos. Em São
Luís, no Maranhão, região nordeste, a situação não é diferente. Aos 17 anos,
Charlienne que já é mãe e esposa, está determinada a ter um relacionamento
igualitário com o seu marido. “Se o meu marido quiser me espancar, eu vou para
a casa da minha mãe e o denuncio na polícia. Violência contra a mulher não deve
ser tolerada.” Ela aprendeu isso, ao participar das atividades promovidas pela
Plan International Brasil, em sua cidade.
A mãe de Charlienne, Raimunda, já esteve num relacionamento
complicado. “Aqui em São Luís as situações de abuso são muito comuns. Muitas
mulheres na minha comunidade são espancadas por homens, mas elas ficam em
silêncio porque os seus maridos são muito violentos.”
A violência contra as meninas e as mulheres não se limita ao
ambiente de casa. Também acontece em lugares públicos. Simples atos, como ir à
escola, enchem meninas como Laricê, 18 anos, de medo. A adolescente vive em uma
comunidade vulnerável de São Luís, onde as drogas e a violência são comuns. Ela
sempre tem que se assegurar de que seus pertences estão seguros e escondidos.
“As meninas são mais vulneráveis na minha comunidade. Você não
pode andar sozinha ou poderá ser atacada, como a minha irmã já foi. O único
lugar em que eu me sinto segura é na escola ou em casa.” Conta Laricê.
Agredida fisicamente pelo seu pai, estuprada pelo padrasto e
abandonada para morar nas ruas aos 13 anos de idade. Em um país em que 500.000
meninas e mulheres são estupradas todos os anos – e apenas 10% dos casos são
reportados – Girlene, 30 anos de idade, de São Luís, é uma verdadeira
sobrevivente que tem combatido a violência generalizada contra meninas e
mulheres no Brasil.
“Quando eu era adolescente, minha mãe foi viver com outro homem.
Eu me matriculei em um curso de dança – eu amava dançar. Quando cheguei em casa
depois da aula, fui para o chuveiro. O chuveiro ficava do lado de fora de casa
e não havia porta, apenas uma cortina. Enquanto eu tomava banho, meu padrasto
entrou, colocou suas mãos na minha boca e me estuprou. Eu tinha 13 anos.”
Girlene encontrou esperança e força através da dança e agora ela está
determinada a falar abertamente sobre a violência contra mulher.
“A violência sexual é um problema sério no Brasil devido à
deficiência de políticas públicas e isso gera muitos outros problemas também.
No meu caso, minha mãe também sofreu. Ela não era abusada sexualmente, mas ela
sofreu violência. Se esses problemas forem derrubados através da sensibilização
e palestras assim como as que a Plan International Brasil desenvolve, as
meninas podem ter um futuro diferente. Para todas as meninas e mulheres que
sofreram o que eu sofri, por favor, denunciem! Não deixem ninguém sair impune
disso. Vamos mostrar à sociedade que nós não temos que ficar caladas.”
MENINAS NA LIDERANÇA
Como parte do projeto Escola de Liderança para Meninas da Plan
International Brasil, um grupo de meninas está seguindo os passos de outras
mulheres empoderadas e estão tentando colocar um fim na violência de gênero.
Desde a cobrança feita ao governo local e os questionamentos quanto às leis
atuais que não visibilizam a violência contra meninas e mulheres, as meninas
estão determinadas a ter suas vozes ouvidas.
De acordo com Luca Sinesi, Diretor de Programas da Plan
International Brasil: “Meninas devem falar por si mesmas. Quando nós vemos uma
menina abordando políticos e falando sobre os seus direitos, isso faz uma
grande diferença. As suas vozes representam suas realidades de vida e esse é o
primeiro passo para assegurar que elas podem crescem em um ambiente onde elas
podem aprender, liderar, decidir e prosperar.”
Autoridades estão se mobilizando no combate à violência contra
meninas e mulheres. Neste ano, a Lei Maria da Penha completa 10 anos de criação
– uma decisão histórica que marcou a luta contra a violência doméstica.
Para Kazume Tanaka, Delegada Especial da Mulher em São Luís, no
Maranhão “Há dois motivos pelos quais a violência continua a acontecer: As mulheres
não apenas vivem com medo, mas há também uma dependência emocional muito
profunda, as mulheres no Brasil muitas vezes se sentem inferiores por não
viverem com um homem.”
“A Lei Maria da
Penha é um marco nas leis do país, que trouxe esperança para muitas mulheres e
proporcionou uma oportunidade para as mulheres denunciarem esse tipo de
violência.”
Para assegurar que todas as mulheres da região estejam aptas a
denunciar a violência, Kazume e sua equipe mobilizam unidades móveis para
visitar as comunidades rurais da região para que mulheres possam visitar as
oficinas, aprender sobre os seus direitos e que possam denunciar os crimes.
MUDANÇA DE ATITUDE FRENTE À VIOLÊNCIA
Em uma revanche emocionante, não são apenas as meninas campeãs da
mudança. Um grupo de meninos do projeto Gol Pela Paz, da Plan International
Brasil, está colocando a mão na massa também.
“Eu quero fazer as meninas e mulheres perceberem que elas não
merecem ser espancadas.” Diz Taniel, 18 anos, São Luís, no Maranhão. “Juntos
podemos lutar pelos direitos delas. Hoje em dia o que me inspira é ver as
meninas se impondo e lutando por igualdade de gênero. Elas merecem ter voz e
isso é algo que me faz querer lutar pelos direitos das meninas também.”
Maria Fernanda, 18 anos, de São Luís e integrante do projeto
Escola de Liderança para Meninas acredita que “A violência contra as meninas e
as mulheres precisa acabar. Todos os dias nós sofremos preconceito e somos
excluídas da sociedade. Já é hora de termos nossa vez e de nossa voz ser
ouvida.”
Esse grupo representa uma parcela crescente de jovens que estão
prontas para mudar as atitudes da sociedade brasileira e colocar um ponto final
na violência.
Sobre a
Plan International Brasil: A Plan
International é uma organização não-governamental de origem inglesa ativa desde
1937 e presente em 71 países. No Brasil desde 1997, a organização possui
hoje mais de 20 projetos, impactando aproximadamente 70 mil crianças e
adolescentes. A Plan International Brasil parte do princípio de que assegurar o
direito de crianças e adolescentes é um dever e não uma escolha. Em 2011,
lançou a campanha mundial “Por Ser Menina”, com o objetivo de acabar com as
raízes da discriminação contra meninas, exclusão e vulnerabilidade, por meio da
educação e do desenvolvimento de habilidades. Como resultado dos esforços da
Plan International, em 2012 a ONU instituiu o dia 11 de outubro o Dia
Internacional da Menina. Para mais informações sobre a organização,
acesse: www.plan.org.br