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sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Projetos realizados pela Plan International Brasil empoderam meninas e meninos na luta contra a violência doméstica



Através da educação, os jovens atendidos contribuem para o fim da violência em áreas periféricas do Norte e Nordeste brasileiro

O grito das meninas e mulheres pedindo o fim da violência está ficando mais alto no Brasil.  E com o objetivo de ampliar o alcance dessa voz, a Plan International Brasil - organização que tem como propósito a promoção dos direitos das crianças e igualdade das meninas tem, através de seus projetos, buscado reduzir os impactos dessas desigualdades e oferecendo a possibilidade de empoderamento às jovens atendidas.

No Brasil são mais de 20 projetos com impacto direto em cerca de 70 mil crianças e adolescentes. O foco dos projetos é o desenvolvimento comunitário centrado nos direitos de crianças e adolescentes onde a organização oferece ferramentas que possibilitam mudanças vitais necessárias para acabar com as raízes da discriminação contra meninas, exclusão e vulnerabilidade.

Milhares de mulheres e meninas no Brasil sofrem violência simplesmente por serem do gênero que são. Parte esmagadora dessa violência é consequência de uma cultura machista, que é profundamente enraizada em muitas comunidades no Brasil. Isso afeta as escolhas que as meninas fazem e os acontecimentos que vão moldar o seu futuro.

Só em São Paulo, uma mulher é agredida a cada 15 segundos. Em São Luís, no Maranhão, região nordeste, a situação não é diferente. Aos 17 anos, Charlienne que já é mãe e esposa, está determinada a ter um relacionamento igualitário com o seu marido. “Se o meu marido quiser me espancar, eu vou para a casa da minha mãe e o denuncio na polícia. Violência contra a mulher não deve ser tolerada.” Ela aprendeu isso, ao participar das atividades promovidas pela Plan International Brasil, em sua cidade.

A mãe de Charlienne, Raimunda, já esteve num relacionamento complicado. “Aqui em São Luís as situações de abuso são muito comuns. Muitas mulheres na minha comunidade são espancadas por homens, mas elas ficam em silêncio porque os seus maridos são muito violentos.”

A violência contra as meninas e as mulheres não se limita ao ambiente de casa. Também acontece em lugares públicos. Simples atos, como ir à escola, enchem meninas como Laricê, 18 anos, de medo. A adolescente vive em uma comunidade vulnerável de São Luís, onde as drogas e a violência são comuns. Ela sempre tem que se assegurar de que seus pertences estão seguros e escondidos.

“As meninas são mais vulneráveis na minha comunidade. Você não pode andar sozinha ou poderá ser atacada, como a minha irmã já foi. O único lugar em que eu me sinto segura é na escola ou em casa.” Conta Laricê.

Agredida fisicamente pelo seu pai, estuprada pelo padrasto e abandonada para morar nas ruas aos 13 anos de idade. Em um país em que 500.000 meninas e mulheres são estupradas todos os anos – e apenas 10% dos casos são reportados – Girlene, 30 anos de idade, de São Luís, é uma verdadeira sobrevivente que tem combatido a violência generalizada contra meninas e mulheres no Brasil.

“Quando eu era adolescente, minha mãe foi viver com outro homem. Eu me matriculei em um curso de dança – eu amava dançar. Quando cheguei em casa depois da aula, fui para o chuveiro. O chuveiro ficava do lado de fora de casa e não havia porta, apenas uma cortina. Enquanto eu tomava banho, meu padrasto entrou, colocou suas mãos na minha boca e me estuprou. Eu tinha 13 anos.” Girlene encontrou esperança e força através da dança e agora ela está determinada a falar abertamente sobre a violência contra mulher.

“A violência sexual é um problema sério no Brasil devido à deficiência de políticas públicas e isso gera muitos outros problemas também. No meu caso, minha mãe também sofreu. Ela não era abusada sexualmente, mas ela sofreu violência. Se esses problemas forem derrubados através da sensibilização e palestras assim como as que a Plan International Brasil desenvolve, as meninas podem ter um futuro diferente. Para todas as meninas e mulheres que sofreram o que eu sofri, por favor, denunciem! Não deixem ninguém sair impune disso. Vamos mostrar à sociedade que nós não temos que ficar caladas.”

MENINAS NA LIDERANÇA
Como parte do projeto Escola de Liderança para Meninas da Plan International Brasil, um grupo de meninas está seguindo os passos de outras mulheres empoderadas e estão tentando colocar um fim na violência de gênero. Desde a cobrança feita ao governo local e os questionamentos quanto às leis atuais que não visibilizam a violência contra meninas e mulheres, as meninas estão determinadas a ter suas vozes ouvidas.

De acordo com Luca Sinesi, Diretor de Programas da Plan International Brasil: “Meninas devem falar por si mesmas. Quando nós vemos uma menina abordando políticos e falando sobre os seus direitos, isso faz uma grande diferença. As suas vozes representam suas realidades de vida e esse é o primeiro passo para assegurar que elas podem crescem em um ambiente onde elas podem aprender, liderar, decidir e prosperar.”

Autoridades estão se mobilizando no combate à violência contra meninas e mulheres. Neste ano, a Lei Maria da Penha completa 10 anos de criação – uma decisão histórica que marcou a luta contra a violência doméstica.

Para Kazume Tanaka, Delegada Especial da Mulher em São Luís, no Maranhão “Há dois motivos pelos quais a violência continua a acontecer: As mulheres não apenas vivem com medo, mas há também uma dependência emocional muito profunda, as mulheres no Brasil muitas vezes se sentem inferiores por não viverem com um homem.”

“A Lei Maria da Penha é um marco nas leis do país, que trouxe esperança para muitas mulheres e proporcionou uma oportunidade para as mulheres denunciarem esse tipo de violência.”
Para assegurar que todas as mulheres da região estejam aptas a denunciar a violência, Kazume e sua equipe mobilizam unidades móveis para visitar as comunidades rurais da região para que mulheres possam visitar as oficinas, aprender sobre os seus direitos e que possam denunciar os crimes.

MUDANÇA DE ATITUDE FRENTE À VIOLÊNCIA
Em uma revanche emocionante, não são apenas as meninas campeãs da mudança. Um grupo de meninos do projeto Gol Pela Paz, da Plan International Brasil, está colocando a mão na massa também.

“Eu quero fazer as meninas e mulheres perceberem que elas não merecem ser espancadas.” Diz Taniel, 18 anos, São Luís, no Maranhão. “Juntos podemos lutar pelos direitos delas. Hoje em dia o que me inspira é ver as meninas se impondo e lutando por igualdade de gênero. Elas merecem ter voz e isso é algo que me faz querer lutar pelos direitos das meninas também.”

Maria Fernanda, 18 anos, de São Luís e integrante do projeto Escola de Liderança para Meninas acredita que “A violência contra as meninas e as mulheres precisa acabar. Todos os dias nós sofremos preconceito e somos excluídas da sociedade. Já é hora de termos nossa vez e de nossa voz ser ouvida.”

Esse grupo representa uma parcela crescente de jovens que estão prontas para mudar as atitudes da sociedade brasileira e colocar um ponto final na violência.



Sobre a Plan International Brasil: A Plan International é uma organização não-governamental de origem inglesa ativa desde 1937 e presente em 71 países. No Brasil desde 1997, a organização possui hoje mais de 20 projetos, impactando aproximadamente 70 mil crianças e adolescentes. A Plan International Brasil parte do princípio de que assegurar o direito de crianças e adolescentes é um dever e não uma escolha. Em 2011, lançou a campanha mundial “Por Ser Menina”, com o objetivo de acabar com as raízes da discriminação contra meninas, exclusão e vulnerabilidade, por meio da educação e do desenvolvimento de habilidades. Como resultado dos esforços da Plan International, em 2012 a ONU instituiu o dia 11 de outubro o Dia Internacional da Menina. Para mais informações sobre a organização, acesse: www.plan.org.br


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