Metanálise mostra que a
miopia avança no mundo todo e deve crescer mais no Brasil que nos EUA. Saiba
como evitar a progressão entre crianças.
No mundo todo a miopia,
dificuldade de enxergar à distância,
está em ascensão e deve ter um crescimento maior no Brasil do que nos
EUA. É o que mostra uma metanálise de 145 estudos que acaba de ser divulgada
por um grupo de pesquisadores da AAO (Academia Americana de Oftalmologia). A
estimativa é de que em 2050 metade da população mundial seja míope e 10% tenha
alta miopia que predispõe a graves doenças oculares.
De acordo com o
oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, esta epidemia
é uma prova de que a miopia poder ser causada pelo estilo de vida, além da
herança genética.
A metanálise estima que
em 2020 a prevalência de míopes no
Brasil seja de 27,7% e de 42,1% entre americanos. O problema é que
para 2050 a previsão é de que 50,7% dos brasileiros devem ser míopes e
58,4% dos americanos. Significa que
neste período a incidência deve aumentar 83% no Brasil contra 20% nos EUA.
Queiroz Neto ressalta que se trata, portanto, de um grave problema de saúde
pública no país. A miopia, ressalta, não
é doença e por isso não tem cura, mas precisa ser tratada. A maior preocupação
é prevenir sua evolução. Isso porque, acima de 6 graus aumenta o risco de descolamento da retina, catarata, glaucoma e
degeneração macular.
Alem disso, observa, se
não for corrigida compromete o desenvolvimento cognitivo da criança, a
performance escolar e profissional já que
85% de nosso relacionamento com o meio ambiente depende da visão.
O risco da tecnologia
O oftalmologista afirma
que o uso intensivo do computador e outras tecnologias é um dos fatores
relacionado ao aumento da miopia no mundo todo, mas não único. Um estudo
realizado pelo especialista com 360 crianças na faixa etária de 6 a 9 anos mostra que o uso intensivo do computador e outras
tecnologias aumentou a dificuldade de enxergar à distância de 21%, contra a
prevalência de 12% apontada pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) para
esta idade. O especialista explica que se trata de uma miopia acomodativa. Está
relacionada ao esforço para enxergar de perto e pode ser revertida com mudança
de hábitos. Para que a visão não fique
acomodada a enxergar só o que está próximo, destaca, a cada hora de uso do
computador, videogame, smartphone ou outra tecnologia por crianças é recomendado
descansar de 20 a 30 minutos. A maior acomodação do olho na infância torna a
visita anual ao oftalmologista obrigatória. Os pais também devem estimular a
praticar de atividades ao ar livre. Isso porque, até 8 anos de idade a visão
está em processo de desenvolvimento e precisa ser utilizada para todas as
distâncias.
Os inimigos na alimentação
Queiroz Neto afirma que
a alimentação é outro fator que predispõe à miopia O consumo exagerado de
açúcar aumenta a produção de insulina
e pode interferir no crescimento
do eixo óptico onde as imagens são projetadas. A recomendação da OMS
(Organização Mundial da Saúde) é consumir seis colheres de chá de açúcar/dia.
Acima disso, além de interferir no crescimento do eixo óptico que caracteriza a
miopia, dificulta o metabolismo da gordura e colesterol, aumentando a chance de
desenvolver degeneração macular, maior causa de cegueira irreversível.
Alternativas de tratamento
O oftalmologista afirma
que um estudo apresentado no último congresso da AAO mostra que o uso de colírio
de Atropina na concentração de 0,01% diminuiu em até 50% a progressão da miopia
entre crianças de 6 a 12 anos que participaram da pesquisa. O controle da
miopia. ressalta, é decorrente da
diminuição do crescimento axial do olho que está relacionado ao vício de
refração. A pesquisa ainda não é conclusiva, comenta, mas crianças que
participaram do estudo usaram o
medicamento durante cinco anos sem
apresentar intolerância.
Queiroz Neto explica
que em estudos anteriores a Atropina não foi bem tolerada porque tinha
concentração de 1,0%. Os principais efeitos colaterais nesta concentração são
a perda da visão de detalhes por causa
da dilatação da pupila, fotofobia
(aversão à luz) e ardência nos olhos.
Outra alternativa de
tratamento, comenta, é o uso de lente ortoceratológica durante a noite para
modificar o formato da córnea. A maioria das crianças e adolescentes não tem
boa adesão ao tratamento porque a pressão da lente sobre a córnea é
desconfortável. Os óculos e lentes de contato apenas corrigem a refração, não
tratam a miopia. Por isso, o colírio de atropina pode ser ma alternativa para
evitar as complicações da alta miopia que levam à cegueira quando aplicado na
infância.