O setor financeiro apresenta complexidades profundas e, assim como muitos outros segmentos de mercado, impõe inúmeros desafios para as mulheres que buscam assumir posições de liderança - desafios estes que na maioria das vezes não existem para os homens. Em um universo majoritariamente masculino como o das finanças, estas dificuldades são acentuadas por barreiras culturais e estruturais que persistem, mas que podem e devem ser enfrentadas com estratégia e determinação.
Apesar da conquista de avanços significativos em termos de igualdade de gênero,
a presença feminina em altos cargos financeiros ainda é desproporcional.
Segundo um estudo recente da FESA Group, as executivas representam 33,86% dos
cargos de liderança nas companhias de finanças. Este déficit decorre, em parte,
de preconceitos implícitos que ainda questionam a competência feminina em
liderar, especialmente em indústrias tradicionalmente masculinas.
No Brasil, o panorama não é diferente. De acordo com dados da pesquisa
"Women in the Boardroom 2024", realizada pela consultoria Deloitte e
publicada com dados referentes a 2023, 9,5% dos executivos financeiros (CFOs)
no Brasil são mulheres, ante 7,3% da edição anterior do estudo. Este percentual
ínfimo reflete uma realidade em que, embora haja progresso, as mulheres ainda
enfrentam barreiras significativas para alcançar os níveis mais altos de
liderança nas áreas financeiras.
Contudo, a vantagem competitiva das mulheres no mercado financeiro que muitos
ignoram está estreitamente ligada à educação contínua e ao desenvolvimento de
competências, como comunicação assertiva, gestão da emoção, liderança,
autoconhecimento e conhecimento técnico, habilidades estas que
são indispensáveis para quem quer assumir grandes desafios no mundo
corporativo. A avidez com que perseguimos conhecimento e adaptamos nossas
habilidades é notável. Não é apenas sobre dominar números; trata-se de construir
uma visão que incorpora diversidade e sustenta inovação.
A trajetória rumo a um ambiente de trabalho mais equilibrado também destaca a
importância das redes de apoio e mentoria. Mulheres em finanças devem buscar e
promover uma cultura de colaboração para que possam trocar experiências,
estratégias e apoio emocional. Minha própria jornada é um testemunho da
eficácia de tais redes em impulsionar carreiras e desafiar o status quo estabelecido;
atualmente participo de grupos como o W-CFO e comunidades como a SheMakes,
ambas fundamentais para meu fortalecimento profissional e para a construção de
conexões valiosas entre mulheres inspiradoras.
Ademais, subestimar o impacto de políticas inclusivas dentro das organizações é
um erro grave. São as mulheres nos cargos de liderança que frequentemente agem
como catalisadoras, promovendo uma cultura inclusiva que valoriza a diversidade
e a equidade de gênero. Neste contexto, o desenvolvimento de políticas
organizacionais de igualdade não apenas favorece o ambiente interno, mas também
melhora a percepção pública e a confiança dos investidores e parceiros de
negócios.
Para finalizar, é essencial reforçar que as
mulheres na liderança devem ser assertivas na busca por visibilidade. Projetos
estratégicos, participação ativa em discussões executivas e comunicação
assertiva são ingredientes fundamentais para quebrar o teto de vidro que ainda
limita tantas profissionais fantásticas no setor financeiro e em inúmeros
outros.
Olhando para o futuro, o desafio está em continuar pavimentando este caminho. É
preciso não apenas coragem para desafiar normas obsoletas, mas resiliência para
transformar as ações e conquistas das mulheres em marcos de progresso. No mundo
financeiro, a liderança feminina não é apenas uma questão de equidade; é uma
necessidade estratégica para um futuro mais inovador e justo.
Natalia Baranov - consultora de controladoria, finanças e gestão estratégica para startups e grandes empresas, especializada em Controladoria e Gestão Tributária, FP&A (do inglês, Planejamento e Análise Financeira) e M&A (do inglês, Fusões e Aquisições). Com mais de 20 anos de experiência no mercado e MBA em Gestão Estratégica de Negócios, Natalia já atuou na função de controller, head de finanças, gerente financeira e especialista em reestruturação de novas áreas e startups. Atualmente, é Diretora Executiva de Finanças da startup Unlog, membra do W-CFO Brazil e presidente do grupo de empreendedoras SheMakes.
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