![]() |
Pexels |
Fatores culturais, sociais e históricos contribuem para a
normalização de comportamentos abusivos
O abuso psicológico é uma forma de violência silenciosa que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge milhões de mulheres em todo o mundo. Apesar de não deixar marcas físicas, as consequências emocionais podem ser devastadoras, impactando a autoestima, a saúde mental e a capacidade de estabelecer relacionamentos saudáveis.
Em entrevista exclusiva, o psicoterapeuta Luti
Christóforo, especialista em saúde mental e violência de gênero, explica como
identificar sinais de abuso e quais caminhos buscar para sair dessa situação.
O que é abuso psicológico?
De acordo com a OMS (Relatório Global sobre Violência
Contra a Mulher, 2022), o abuso psicológico consiste em comportamentos
repetitivos de manipulação, humilhação e controle, que têm o objetivo de minar
a identidade e a autoconfiança da vítima. Esses comportamentos podem incluir:
•Isolamento: afastar a vítima de amigos e familiares;
•Desvalorização: ridicularizar, insultar ou menosprezar
sentimentos e opiniões;
•Controle financeiro: reter recursos ou criar dependência
econômica;
•Ameaças: fazer chantagens emocionais ou prometer consequências negativas caso a vítima não se submeta.
“O abuso psicológico é muitas vezes difícil de detectar,
tanto para quem o sofre quanto para as pessoas ao redor, pois não deixa marcas
visíveis. As cicatrizes são internas e podem evoluir para depressão, ansiedade
e até pensamentos suicidas.” — Luti Christóforo
Sinais de alerta
Conforme explica o psicólogo, algumas atitudes podem
indicar que você ou alguém próximo esteja passando por abuso psicológico:
1. Sentimento constante de culpa ou obrigação
A vítima sente-se culpada por tudo que acontece de errado
no relacionamento e acredita que deve se responsabilizar pelas emoções e
comportamentos do parceiro abusivo.
2. Medo de expressar opiniões ou desejos
A pessoa evita dar opiniões ou falar sobre o que pensa por temer reações negativas, críticas agressivas ou punições emocionais.
3. Baixa autoestima crescente
Com o tempo, comentários depreciativos e manipulação
constante fazem a vítima acreditar que “não é boa o suficiente” ou “não merece
coisa melhor.”
4. Dependência emocional
O agressor cria uma dinâmica de incerteza e instabilidade
que leva a vítima a acreditar que só pode contar com ele, aprofundando o ciclo
de abuso.
5. Mudança drástica de comportamento
A pessoa passa a se isolar, recusa convites de amigos e
familiares, aparenta tristeza ou irritabilidade constantes e evita falar sobre
a relação.
Por que o abuso psicológico é tão comum entre mulheres?
De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023), grande parte dos casos de violência contra a mulher inclui elementos de abuso psicológico.
Luti Christóforo explica que fatores culturais, sociais e históricos contribuem para a normalização de comportamentos abusivos:
“Há uma construção social que reforça a submissão feminina
e a dominação masculina, o que facilita o surgimento de relacionamentos
tóxicos. Muitas mulheres demoram a reconhecer o abuso porque, para elas, certas
atitudes já foram naturalizadas como ‘ciúme normal’ ou ‘preocupação legítima do
parceiro’.”
Como sair desse tipo de situação?
1. Rompa o silêncio
Buscar ajuda de pessoas de confiança, amigos, familiares
ou grupos de apoio é o primeiro passo para interromper o ciclo de violência.
2. Procure aconselhamento profissional
A psicoterapia pode ajudar a vítima a resgatar a autoestima
e traçar um plano de ação para superar a dependência emocional.
3. Denuncie
No Brasil, o número 180 é o canal de denúncia de violência
contra a mulher, oferecendo orientações e encaminhamentos. Em casos de risco
imediato, ligue para o 190 (Polícia Militar).
4. Fortaleça redes de apoio
Conversar com outras mulheres, participar de grupos
comunitários e ONGs ligadas à proteção feminina pode ajudar a vítima a perceber
que não está sozinha.
Depoimento de Luti Christóforo
Segundo o Psicólogo, o processo de libertação pode ser longo, mas é essencial entender que o abuso não é culpa da vítima:
“Quem sofre abuso psicológico muitas vezes se culpa por
permitir que a situação chegue a certo ponto. Mas é importante ter em mente que
toda relação abusiva é baseada em manipulação e desequilíbrio de poder. Com
apoio adequado, é possível reestruturar a vida e reencontrar a liberdade
pessoal.”
Onde encontrar ajuda
Canais de denúncia e apoio:
•Central de Atendimento à Mulher – Disque 180: Canal nacional
de denúncia e orientação.
•Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
(DEAMs): Presentes em diversas cidades brasileiras.
•CRAS e CREAS: Centros de Referência em Assistência Social
oferecem suporte jurídico e psicológico.
•Instituições e ONGs: Diversas organizações atuam na
defesa dos direitos das mulheres, oferecendo suporte emocional e legal.
Você não está sozinha!
Esta matéria foi produzida em alusão ao Mês da Mulher, com o objetivo de conscientizar e incentivar vítimas de abuso psicológico a buscarem ajuda. Se você se identificou com alguma das situações descritas, saiba que há saída. Profissionais capacitados e redes de apoio estão prontos para ajudá-la a recuperar sua vida e sua liberdade.
Luti Christóforo - Psicólogo clínico com especialização em psicologia analítica
@luti_psicologo
lutipsicologo@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário