O parto é um momento único na vida de muitas mulheres e famílias, e hoje existem diversos métodos disponíveis para trazer uma criança ao mundo. Cada opção tem suas particularidades, indicadas para diferentes situações e preferências. Dados de 2010 a 2020 mostram que, dos mais de 31 milhões de partos registrados no Brasil, aproximadamente 55% foram cesáreas, revelando uma tendência de declínio nos partos vaginais. Apenas no Nordeste houve predomínio de partos vaginais entre 2010 e 2013, mas, a partir de 2018, as cesáreas superaram, alinhando-se ao cenário das demais regiões.
Estudos apontam que fatores como idade gestacional, idade da
mãe, número de consultas de pré-natal, poder aquisitivo, escolaridade e
segurança conjugal influenciam significativamente na escolha do tipo de parto.
Essa realidade levanta discussões sobre as práticas obstétricas no país e a
necessidade de ampliar o acesso a informações e opções seguras para as
gestantes. Para entender melhor essas escolhas, a obstetra Cynthia Bibiano, do
Hospital Mater Dei Santa Clara, esclarece sobre os tipos de parto, seus
benefícios e desafios.
Parto Normal:
O parto normal é caracterizado por respeitar o ritmo natural
do corpo da gestante, podendo ocorrer com ou sem intervenções médicas, como o
uso de anestesia peridural. Recomendado pela OMS como a primeira opção para
gestações de baixo risco, ele é realizado em hospitais com acompanhamento de
uma equipe médica que monitora a saúde da mãe e do bebê. Segundo a Dra.
Cynthia, "o parto normal prepara o bebê para a vida fora do útero. É como
se ele fosse avisado que vai precisar respirar sozinho, então a transição é
mais tranquila". Além disso, a médica ressalta que "a morbidade
materna – a chance de consequências ruins para a saúde da mulher – é muito
menor no parto normal", destacando sua segurança e benefícios quando
indicado.
Cesárea:
A cesárea é um procedimento cirúrgico no qual o bebê é
retirado através de uma incisão no abdômen e no útero. A Dra. Cynthia explica
que ela é recomendada em situações de risco iminente para a mãe ou o bebê, como
em casos de placenta prévia (quando a placenta cobre o colo do útero) ou quando
o bebê está em posição pélvica e a equipe não tem experiência para conduzir esse
tipo de parto. "Precisamos partir para a via mais rápida quando há
risco", afirma. No Brasil, a taxa de cesáreas é uma das mais altas do
mundo, segundo o Ministério da Saúde.
Parto Humanizado
O parto humanizado prioriza o bem-estar físico e emocional
da gestante, respeitando suas escolhas e autonomia. Pode ocorrer em hospitais,
casas de parto ou domicílios, com acompanhamento de enfermeiras obstétricas ou
médicos. "Um parto humanizado é centrado na mãe. É o que todos os partos
deveriam ser", diz a obstetra. Ela destaca que o principal benefício é a
mulher ter uma experiência positiva, apesar da dor e do medo. "O desafio é
informar a mãe, os acompanhantes e a equipe sobre a importância de deixar a
mulher ser a protagonista desse momento. Nosso país ainda tem muito a evoluir
nesse sentido".
A escolha do método de parto deve ser baseada em informações
claras e no diálogo entre a gestante e os profissionais de saúde. A Dra.
Cynthia enfatiza que "a equipe faz toda a diferença. Um hospital adequado
e acompanhantes que apoiem a decisão da mulher são fundamentais". Ela
também salienta a importância de desmistificar crenças, como a ideia de que
bebês com cordão umbilical enrolado no pescoço não podem nascer de parto
normal. "Podem sim! Os bebês dão cambalhotas dentro da barriga, se enrolam
todos, e isso não costuma atrapalhar o parto".
A médica ainda faz
um alerta: "No nosso país, existe a cultura da cesárea. Normalizou-se
agendar o parto, sem deixar a mulher ter a chance de tentar. Isso não ocorre
nos países desenvolvidos. Antes de estudar, eu achava que o normal era fazer
cesárea. Precisamos mudar isso!".
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