O desenvolvimento da escrita começa antes mesmo de a criança entrar na escola, com os pais atuando como os primeiros incentivadores. Já a escola tem o papel essencial de oferecer a orientação formal, adaptando o aprendizado às necessidades de cada aluno. Ambas as partes, família e instituição, compartilham a responsabilidade de promover o hábito da escrita desde cedo, reconhecendo sua importância para o desenvolvimento da linguagem, a ampliação do vocabulário e a compreensão das regras da língua.
Além disso, a prática da escrita
organiza o pensamento, fortalece o raciocínio lógico e estimula a imaginação.
Incentivar essa habilidade desde a infância contribui para o crescimento
integral da criança, ajudando-a a se comunicar, interpretar e criar de forma
mais eficaz.
É fundamental destacar a importância da
atuação das escolas nesse contexto, que deve ser coerente e positiva para
impactar de forma significativa o desenvolvimento da escrita e incentivar sua
continuidade. Essa prática, assim como a leitura, precisa ser mais do que um
ato de descoberta, deve se tornar uma experiência prazerosa. Essa abordagem
pode se configurar como uma estratégia eficaz diante dos desafios enfrentados
nesse campo. Um levantamento do Centro de Pesquisas em Educação,
Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional revela que, entre os
alunos brasileiros de 15 e 16 anos, 66,3% relataram que o livro mais extenso
que já leram não ultrapassou 10 páginas.
Leituras compartilhadas, jogos de
cartas, adivinhações, diários e bilhetes são formas de incentivar a escrita em
casa, enquanto a comunicação familiar cotidiana fortalece as habilidades
comunicativas da criança. No entanto, em famílias com baixa escolaridade, a
escola desempenha um papel crucial ao assumir a responsabilidade de
complementar esse estímulo e apoiar o desenvolvimento da escrita e da
linguagem.
Em alguns momentos, tanto na família,
quanto na escola, as crianças manifestam suas emoções por meio da escrita, seja
fazendo um bilhetinho, ou cartinha para as pessoas que admiram – amigos,
professores, pais e até o famoso Papai Noel, que faz parte de suas invenções e
mexe com os desejos da criança. Momentos como esses são oportunidades valiosas
para incentivar a escrita e a leitura, carregando em cada palavra sentimentos
como interesse, amor e autenticidade.
É necessário reconhecer a escrita,
majoritariamente, como a maior de todas as tecnologias, sendo necessária para a
relação com qualquer outra. Mas, vale reconhecer também as inúmeras
dificuldades que a sociedade vem enfrentando para manter as crianças engajadas
com a leitura e a escrita, diante dos impactos significativos no
desenvolvimento cognitivo que as tecnologias têm oferecido, devido ao uso
excessivo de telas, como: dificuldade em manter o foco; distanciamento de
atividades psicomotoras; menos contato familiar e social; dependência digital,
etc.
Para lidar com essa exposição às telas,
precisa partir de casa, primordialmente, uma vez que é nela que as crianças
passam a maior parte do seu dia, a regulação de tempo para uso de dispositivos
eletrônicos, incluindo a TV, o incentivo a atividades “naturais” – fora das
telas - modelar comportamentos saudáveis na família, orientar o uso da internet
para fins “utilitários”, com conteúdos educativos que favoreçam o aprendizado e
desenvolvimento cognitivo e intelectual.
São estratégias que podem colaborar com
a escola, e juntos - família e instituição educativa - ajudar as crianças a
encontrarem equilíbrio saudável entre tecnologia e realidade e, obviamente,
inseri-los em um processo natural de leitura e escrita, como necessidade de
desenvolvimento para a vida.
Dicas para incentivar a leitura e a
escrita:
- Incentive a escrita criativa: proponha atividades como bilhetes, diários e cartinhas
para tornar a escrita divertida e significativa.
- Reduza o tempo de telas: estabeleça limites e priorize atividades como jogos,
leituras e brincadeiras.
- Modele bons hábitos: mostre que ler e escrever são prazerosos, escolhendo
conteúdos interessantes e participando junto com a criança.
- Trabalhe em parceria com a escola: alinhe práticas com os professores para fortalecer o
aprendizado e equilibrar tecnologia e atividades educativas.
Márcia Neves - Professora do Colégio Progresso Bilíngue de Santos há mais de 10 anos com formação em Letras pela Universidade Católica de Santos, pós-graduada em Alfabetização e Letramento e autora dos livros “Grades de liberdade”, “Poesia o lugar encantado das crianças” e “Haicais Bucólicos”
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