Os fatores desencadeantes incluem humanização dos animais, predisposição genética, alimentação inadequada
Tem
sido observado o crescimento de casos de prurido (coceira) em cachorros nas
clínicas veterinárias. Segundo especialistas, essa é uma tendência mundial que
está relacionada ao estilo de vida dos tutores, mais presentes nas regiões
urbanas, e ao processo de humanização dos animais.
De
acordo com Flávia Clare, Doutora e Mestre em Medicina Veterinária e Clínica
Médica de Pequenos Animais, com ênfase em Dermatologia Veterinária, existem
evidências do aumento da população de cães atópicos no mundo, principalmente no
meio urbano. “Alguns artigos publicados entre o final do ano passado e início
deste ano fazem uma atualização da dermatite atópica, com uma abordagem dos
fatores ambientais, estilo de vida, barreira cutânea, fatores genéticos, fisiopatologia
da doença, dentre outros aspectos, e demonstram esse crescimento apontando os
fatores de risco para para a atopia em cães.”
“Percebemos
que houve aumento da dermatite atópica canina, da hipersensibilidade alimentar
e das alergias em linhas gerais, nos gatos também, mas principalmente em cães.
Isso está vinculado a características como fatores genéticos e predisposição
racial. E são exatamente essas raças que estão na moda e aparecem com mais
frequência no consultório, como Shitzu, Golden retriever, Labrador, Bulldog
francês e inglês, Pug e outras”, diz a médica veterinária.
Além
da predisposição genética, o estilo de vida pode aumentar as chances de
distúrbios que geram prurido. “Animais tratados como crianças, dentro de
apartamento, com excesso de banho e menor contato com o meio rural e outras
espécies animais e vegetais na primeira infância constituem fatores de risco.
Outro ponto que contribui para essa condição é a alimentação inadequada”,
acrescenta.
Doenças
alérgicas, infecciosas, parasitárias e até de origem psicossomáticas, devido ao
tipo de convivência com os tutores, podem provocar a coceira nos cachorros, por
isso o diagnóstico é trabalhoso. Segundo a doutora, pode levar até três meses.
“O diagnóstico é clínico e de exclusão. Não temos um exame específico para
determinar qual doença leva o animal a apresentar prurido. Começamos com o
histórico, anamnese, exames físicos e complementares dermatológicos. Conforme
se exclui todas as doenças, no final, encontramos a dermatite atópica”, diz
Clare, que atua há 32 anos na veterinária.
O
prurido pode se espalhar por todo o corpo do animal ou se concentrar em algumas
áreas. Como resultado, o cão pode se arranhar, se ferir, se lamber de modo
frequente e ter queda de pelo, um quadro que pode gerar grande sofrimento aos
PETs. “Quem já teve coceira sabe quanto essa condição pode ser desconfortável e
dolorosa, assim é com os animais. Por isso, enquanto os médicos veterinários
investigam as causas do problema, normalmente indicam medicamentos para cessar
a coceira e permitir que o cão volte a ter qualidade de vida, até que se tenha o
diagnóstico definido e se possa, efetivamente, tratar a causa”, explica a
gerente de produto da Zoetis, Cintia Bessa Santos.
Nesse
cenário, é comum os veterinários prescreverem corticoide por alguns dias para
ajudar a reduzir a inflamação e eliminar a coceira. Animados com os resultados,
alguns tutores passam a aplicar o corticoide sem orientação e por períodos
prolongados, o que pode provocar efeitos colaterais. “Os glicocorticoides são
medicamentos utilizados no controle da coceira e doenças autoimunes, são
anti-inflamatórios esteroidais. Eles têm ampla função, sendo importantes em
várias áreas da medicina veterinária, porém têm efeitos colaterais que podem
ser reversíveis ou não, por isso não devemos fazer uso deles sem o aval do
médico”, explica a doutora Clare.
Dentre
as principais consequências, o cão pode passar a beber muita água, fazer muito
xixi, comer muito, ganhar peso e ter mudanças no comportamento. E o mais sério
dos efeitos, o Hiperadrenocorticismo (HAC) ou Síndrome de Cushing, originado
pelo uso dos corticoides em dose e tempo errado.
Tutores bem-intencionados, mas desinformados
Há
uma tendência, entre os tutores, de adotar medidas não recomendadas por
profissionais de saúde para livrar seus pets da coceira, mas essa atitude pode
complicar ainda mais a saúde do cão. Priscila Corain, groomer do PetLov, com
vasta experiência na tosa de cães de todas as raças, comenta que cerca de 70%
dos tutores de cães reclamam que seus animais estão com coceira e que uma parte
deles adota soluções caseiras. “Creio que falta informação aos donos, com base
nos produtos inadequados que eles usam nos cachorros, sem consultar um
veterinário. Assim, eles agravam o problema.”
A
profissional conta que uma situação, em particular, chamou sua atenção. “A dona
pediu para eu usar um xampu anticaspa, para humanos, no seu cachorro, sem saber
qual seria a raiz do problema. Ela simplesmente deduziu que seria caspa. Os
donos precisam entender que pelo é igual cabelo, o PH da pele do PET chega
próximo ao de um bebê, mas não quer dizer que os produtos direcionados a
humanos sejam a solução.” Para evitar que o prurido se agrave, Corain lembra
que é preciso manter a pele dos cães hidratada e ter um cronograma de pelagem
para não sobrecarregar o pelo.
Zoetis
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