Já a movimentação
dos olhos no sentido vertical aumentou a oscilação postural de voluntários com
a doença; experimento foi conduzido por pesquisadores da Unesp e da
Universidade de Lille, na FrançaNo caso dos voluntários saudáveis, tanto a movimentação
ocular vertical quanto a horizontal ajudaram na estabilização postural
(foto: Freepik*)
É totalmente
contraintuitivo, mas um estudo feito com portadores de doença de Parkinson
concluiu que, assim como acontece com jovens saudáveis, desviar o olhar de um lado
para o outro auxilia na estabilização da postura, evitando quedas e
desequilíbrios. Os dados foram apresentados na revista Biomechanics.
Conduzida com apoio da FAPESP
por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade
de Lille, na França, a investigação envolveu dez pessoas com a doença e 11
indivíduos neurologicamente saudáveis.
Nos testes, os
participantes foram convidados a permanecer parados, tentando se equilibrar. O
desafio era combinar dois tipos de posturas estáticas – pés paralelos ou um pé
na frente do outro – com três comportamentos oculares: mover os olhos de forma
rápida (movimento sacádico) entre dois pontos no sentido horizontal, depois o
mesmo no sentido vertical e, por último, manter o olhar fixo em um único ponto.
Tanto para pessoas
com a doença de Parkinson quanto para os indivíduos saudáveis, as posturas
estáticas combinadas com a movimentação dos olhos no sentido horizontal
conferiram uma melhor estabilização do corpo, em comparação ao olhar fixo em um
ponto. No entanto, quando os parkinsonianos realizaram os movimentos oculares
para cima e para baixo a oscilação corporal foi maior do que quando moveram o
olho no sentido horizontal.
“Não se trata de
uma estratégia automática para evitar quedas e desequilíbrios, pois é difícil implementar
a movimentação dos olhos para a esquerda e para a direita no dia a dia. É claro
que pode haver um treinamento, mas esse é um estudo mais básico do que prático.
Não esperávamos que pessoas com a doença de Parkinson fossem capazes de
combinar esses dois movimentos e isso pode abrir novas possibilidades para o
entendimento da doença e suas consequências motoras e cognitivas”,
afirmou Fabio Barbieri,
coordenador do Laboratório de Pesquisa em Movimento Humano (Movi-Lab) e do
projeto de extensão “Ativa Parkinson” na Unesp de Bauru.
Inesperado
Antes do
experimento, conta Barbieri, a expectativa era de que as pessoas com Parkinson
não teriam benefícios ao realizar o movimento dos olhos durante a postura. “Os
indivíduos com essa doença têm déficit na postura, o que causa uma piora na
estabilidade e no controle postural, bem como dificuldade de controlar os olhos
– os movimentos oculares são mais lentos, a piscada é mais lenta. Eles também
têm dificuldade para selecionar informação no ambiente”, explica.
Como ressalta o
pesquisador, embora tenha ocorrido melhora postural com a movimentação ocular
horizontal, quando os pacientes com a doença de Parkinson moveram os olhos para
cima e para baixo, houve prejuízo da estabilidade corporal.
“Para adultos
jovens esse tipo de movimentação ocular [vertical] funciona. Para o grupo de
idosos, ele não tem efeito de reduzir a oscilação postural. Embora os
indivíduos com a doença de Parkinson sejam capazes de executar os movimentos
verticais, eles não conseguem se adaptar [reduzir a oscilação] do mesmo modo
que fazem com o movimento horizontal dos olhos. Isso ocorre porque o movimento
para cima e para baixo é mais difícil no geral, envolve menor magnitude de
rotação do olho, e isso dificulta a integração entre o sistema sensorial
[olhos] e o sistema postural [corpo]”, afirma Sérgio Tosi Rodrigues,
do Laboratório de Informação, Visão e Ação (Livia) do Departamento de Educação
Física da Unesp de Bauru, coautor do estudo.
Tosi Rodrigues tem
realizado estudos que combinam posturas de estabilidade com movimentos
sacádicos em diferentes populações, como jovens e idosos saudáveis, pacientes
com diabetes, com esclerose múltipla e doença de Parkinson.
Resultados de
estudos anteriores sugerem que o sistema de controle postural recebe, além das
informações visuais de deslizamento das imagens projetadas na retina, inputs dos
músculos que movimentam os olhos para a manutenção de uma posição corporal
desejada, o que auxilia significativamente na redução da oscilação corporal.
“Além de limitações
referentes a uma doença, como é o caso do Parkinson, o controle do olhar e da postura
parece variar com a idade do indivíduo. De modo geral, o processo natural de
envelhecimento provoca, dentre outras alterações, deterioração no controle
motor e na percepção visual. Isso faz com que idosos apresentem resultados
inferiores em algumas funções visuais em comparação aos adultos jovens, por
exemplo, o que pode deixá-los mais suscetíveis a sofrer quedas”, explica Tosi
Rodrigues.
“Para o indivíduo
com a doença de Parkinson, a tarefa de combinar o equilíbrio estático com a
movimentação dos olhos para cima e para baixo talvez tenha exacerbado a
capacidade de integrar esses dois sistemas motores, prejudicando sua oscilação
postural”, avalia Barbieri.
No caso de
indivíduos saudáveis, os dois tipos de movimento sacádico (vertical e horizontal)
ajudaram na estabilização postural quando comparados ao olhar fixo.
“Isso acontece
porque a pessoa coloca a tarefa postural num segundo plano. Tentando
simplificar o que é complexo: ocorre uma mudança na questão atencional. O
indivíduo tira a atenção da postura, foca no movimento dos olhos, o que exige
que o cérebro esteja mais cauteloso, ou tenha um controle melhor da postura, de
se manter em pé ou fazer um controle da estabilidade”, diz Barbieri.
O artigo People
with Parkinson’s Disease Are Able to Couple Eye Movements and Postural Sway to
Improve Stability pode ser lido em: www.mdpi.com/2673-7078/4/3/32.
Maria Fernanda Ziegler
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/movimento-ocular-horizontal-pode-melhorar-a-estabilidade-de-pessoas-com-parkinson/52773
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