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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Entenda a importância de falar sobre a prevenção de suicídio

 O esclarecimento é a melhor maneira de combater esse mal, que tem sido uma das principais causas de morte entre adolescentes e jovens adultos


A incidência de suicídios entre crianças e adolescentes é uma questão preocupante e complexa, com variabilidade significativa dependendo do país e da região. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse mal é uma das principais causas de morte entre adolescentes e jovens, especialmente entre os 15 e 19 anos. Em alguns países, é a segunda ou terceira principal causa de morte nessa faixa etária.

Segundo um estudo realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs), da Fiocuz Bahia, em colaboração com pesquisadores da Harvard (EUA), o Brasil registrou o aumento de 3,7% nas taxas de suicídio e de 21% nos casos de automutilação entre os anos de 2011 e 2022. Mesmo acontecendo mais entre idosos, o crescimento foi bastante significativo entre os jovens de 10 a 24 anos, com a ampliação de 6% nas taxas de suicídio e de 29% nas taxas de autolesão no período analisado. Já globalmente houve uma redução de casos de 36% e nas Américas o crescimento foi de 17%. Para chegar aos resultados, divulgado em 2024, os pesquisadores analisaram mais de 1 milhão de dados disponíveis em três bases públicas: o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

O suicídio entre crianças, adolescentes e jovens é um fenômeno complexo e multifacetado, envolvendo uma combinação de fatores psicológicos, sociais, familiares e ambientais Entre os fatores que contribuem com o suicídio estão problemas de saúde mental (como depressão e ansiedade), bullying, problemas familiares, abuso de substâncias, e eventos traumáticos. Sendo que a pressão acadêmica e social também pode desempenhar um papel significativo.


Fatores de Risco

Alguns problemas de saúde mental podem potencializar o desejo de morte, entre eles estão: a depressão, com sintomas de tristeza profunda, desesperança e perda de interesse em atividades antes prazerosas; a ansiedade, com sentimentos intensos de medo e preocupação, que podem ser debilitantes; e os transtornos de conduta, que são comportamentos agressivos ou desafiadores e podem estar associados a dificuldades emocionais. Outros fatores relacionados são: a pressão acadêmica, com expectativas altas em relação ao desempenho escolar; as expectativas sociais, devido ao desejo esmagador de se encaixar socialmente e manter uma certa imagem; e os impactos profundos dos abusos físicos ou sexuais, que provocam traumas.

A negligência familiar, com a falta de cuidados adequados e apoio emocional pode aumentar o risco. Alguns problemas em casa podem potencializar o suicídio como a falta de afetividade e respeito, os conflitos com brigas, separações ou divórcios - que geram um ambiente instável e estressante - e a violência doméstica, causadora de sentimento de insegurança e desesperança. É necessário também ficar atento aos fatores biológicos e genéticos, com histórico familiar, que tenham antecedentes de transtornos mentais ou suicídio.

 Indivíduos com falta de suporte familiar ou social estão mais vulneráveis a crises emocionais, devido ao sentimento de solidão e a falta de apoio, que podem contribuir para o desfalecimento. Segundo Cris Poli, que é coordenadora pedagógica da EDF - Escola do Futuro Brasil, os pais precisam dedicar mais tempo em afetividade, amor e comunicação com os seus filhos, sem a pressa e a urgência, muito características da atualidade. “Infelizmente, os relacionamentos pessoais andam mais frios entre as pessoas, até mesmo entre pais e filhos. É preciso refletir que eles recebem o que os pais dão e crescem reproduzindo esse comportamento”, aconselha. Além disso, as dificuldades em estabelecer e manter amizades saudáveis podem exacerbar o sentimento de isolamento.  

Algumas crises emocionais são desenvolvidas devido a mudanças ou a transição da infância para a adolescência, que pode ser tumultuada e emocionalmente desafiadora. As experiências de cyberbullying ou bullying, dentro ou fora da escola, também podem levar a sentimentos de isolamento e desespero.  Outro fator é o uso de drogas e álcool, que pode agravar problemas de saúde mental e aumentar o risco de comportamento suicida.


Excesso de internet e telas

A internet e o uso excessivo de telas também podem contribuir para problemas de saúde mental e, em casos extremos, aumentar o risco de comportamento suicida. No entanto, é importante notar que a tecnologia em si não é a causa direta do suicídio, mas sim os usos problemáticos e as interações online que podem trazer más influencias. “Muitas vezes os pais sentem a necessidade de proteger os seus filhos da rua e se esquecem que também existe uma grande ameaça dentro de casa. Já que o uso indiscriminado da internet permite que eles adentrem em portas onde jamais entrariam fisicamente e nestes lugares virtuais ficam vulneráveis a ver e explorar coisas para as quais não estão preparados, trazendo para si mais dúvidas do que já possuem. Portanto, é preciso proteger e monitorar por onde andam seus filhos”, orienta Silvia Tocci Masini, que é psicanalista e psicopedagoga da EDF.  

As maneiras como essas tecnologias podem impactar negativamente o usuário e potencializar o risco de suicídio são através do assédio online com o cyberbullying, que causa um grande estresse emocional e psicológico. A exposição a comportamentos agressivos e humilhações na internet pode levar a sentimentos de desespero e depressão. A exposição a conteúdos prejudiciais como os violentos, perturbadores ou que glamorizam o suicídio impacta negativamente os internautas impressionáveis.

Além disso, o uso excessivo de telas pode substituir interações sociais presenciais, levando ao isolamento social e ao aumentar de sentimentos de solidão e depressão, que são fatores de risco para o suicídio. “Os adolescentes e jovens querem ser vistos e ouvidos e também necessitam pertencer a um grupo e, como muitas vezes eles estão privados disso, buscam lugares onde possam entrar, como grupos e salas da internet, que nem sempre são boas influências para eles”, salienta Silvia.

A dependência de tecnologia é um grande mal para a juventude, já que o uso excessivo, especialmente antes de dormir, pode afetar a qualidade do sono. Dormir mal ou pouco está associado a problemas de saúde mental, incluindo depressão. Esse vício e compulsividade de tecnologia pode exacerbar sentimentos de ansiedade e depressão.

Infelizmente as redes sociais podem levar os jovens e os adolescentes a uma pressão social e a comparações com padrões irrealistas. Esses canais de interação frequentemente mostram representações idealizadas e filtradas da vida das pessoas, o que gera uma idealização negativa e sentimentos de inadequação e baixa autoestima.


Monitoramento e Controle

Como forma de combate aos excessos, cabe aos pais e a escola conscientizar e educar as crianças e adolescentes sobre o uso responsável e seguro da internet e como proteger sua privacidade online. É necessário promover o pensamento crítico, provocando o questionamento e a avaliação da veracidade da natureza dos conteúdos que consomem online.

Torna-se fundamental que limites sejam estabelecidos pelos pais ou tutores quanto a restrições e tempo para o uso de telas e ainda monitore o tipo de conteúdo que as crianças, os adolescentes e os jovens estão consumindo. “Me preocupa muito quando um pai diz que é muito amigo do filho, pois me questiono quem está ocupando o lugar do pai! O jovem precisa mais do que amizade, precisa de limite, acolhimento e escuta para se sentir seguro, pois o mundo não oferece segurança e muito menos acolhe. Corrigir é demonstrar amor!”, alerta Silvia. Por isso, é primordial manter uma comunicação aberta com os filhos sobre o que eles fazem online e como se sentem em relação às suas experiências na internet. Além disso, é muito importante incentivar a participação deles em atividades de lazer em família, sociais e extracurriculares (como esportes, música, dança, etc.) que promovam interações presenciais e construam redes de apoio reais.

Mas, quando os responsáveis perceberem que as suas ações não estão ajudando a criança, o adolescente ou o jovem é muito importante buscar ajuda quando necessário. Se houver sinais de problemas de saúde mental ou comportamentos prejudiciais, o mais recomendado é procurar a ajuda de profissionais de saúde mental. A prevenção e a intervenção precoce são cruciais para reduzir o risco de suicídio. “Muitas vezes os próprios pais também precisam buscar ajuda para então conseguir ajudar o filho a sair da situação em que está envolvido. Há momentos em que a família inteira está precisando de ajuda e não adianta trabalhar só o jovem”, orienta Silvia Tocci Masini.


O papel da escola

A escola desempenha um papel fundamental na prevenção do suicídio entre crianças e adolescentes, criando um ambiente seguro e de apoio e implementando estratégias de intervenção eficazes. Elas podem auxiliar na prevenção com conscientização, programas de educação sobre saúde mental implementando programas que abordem questões de saúde mental, sinais de alerta e estratégias de enfrentamento. Também pode oferecer workshops e treinamentos regulares para pais, professores, funcionários e alunos sobre como identificar sinais de risco e como responder de maneira apropriada. “Além de realizar rodas de conversas e palestras, a Escola do Futuro Brasil também prepara seus profissionais para identificação de comportamentos suspeitos e disponibiliza grupos de apoio escolar, para informar e auxiliar os pais e até oferecer suporte aos alunos, que estão enfrentando dificuldades. Criamos um ambiente acolhedor e de escuta, com foco a deixar os estudantes à vontade para compartilhar as suas necessidades. Além disso, trazemos conscientização de inteligência emocional através do estudo de traço de caráter e ainda buscamos fortalecer o amor próprio e a esperança através da introdução dos princípios cristãos”, explica Ivone Muniz, diretora da Escola do Futuro Brasil.

A promoção de um ambiente positivo no ambiente educacional onde todos os alunos se sintam valorizados e incluídos, está no incentivo a empatia, a cooperação e o respeito mútuo entre alunos e funcionários. “A parceria entre a família e a escola tem que existir, mas a responsabilidade é dos pais. A instituição de ensino precisa ter um profissional capacitado a direcionar qual caminho seguir com o estudante que está precisando de ajuda. Há casos em que a escola percebe antes dos pais, devido aos sinais que são perceptíveis como quando começa a se vestir e se comportar de forma diferente (pode querer se esconder num capuz), perde interesse nas atividades esportivas e escolares e até a alimentação é alterada”, completa Silvia.  

A conscientização sobre o combate aos alarmantes números de suicídios está na valorização da vida das crianças, adolescentes e jovens, e isso depende de uma ação em conjunto, onde um grupo de apoio que envolve famílias e escola se unam para oferecer cuidado, atenção, orientação e afetividade.


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