Aderência do consumidor virtual por
esse tipo de compra é de 72%, dizem especialistas do Comitê de Avaliação de
Conjuntura da ACSP. Mas fraudes e demanda excessiva de energia por conta da IA
são pontos de atençãoFreepik
O comportamento de compras do
consumidor virtual tem passado por profundas transformações, e as redes sociais
- ou social commerce - têm seu papel nesse processo.
Dados do "Relatório Global
de Tendências de Compradores On-Line 2024", divulgado pela DHL Logística
no início deste mês de julho, apontam que as vendas realizadas por meio dessas
plataformas devem alcançar US$ 8,5 trilhões até 2030.
Comparando com 2024, que deve
fechar com US$ 700 bilhões em vendas pelo Facebook, Instagram ou TikTok, a
estimativa representa crescimento aproximado de 12 vezes no período.
"É uma evolução, e a
próxima grande tendência do comércio eletrônico", sinalizou um
especialista em comércio eletrônico que apresentou os dados durante reunião do
Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP),
realizada na última quinta-feira (25). A pedido da entidade, os nomes dos
participantes da reunião não são divulgados.
A Ásia, destacou, está à frente
dessa tendência, com a Tailândia puxando a fila dos maiores compradores via
redes sociais, com 59% das compras no país realizadas por esse meio, seguida
pela China, com 53%.
Outra mudança de comportamento
ligada às horas diárias que o consumidor passa nas redes sociais é a compra por
dispositivos móveis: segundo o estudo da DHL, 57% preferem comprar via
smartphones.
"O ranking mostrou que as
mais usadas para comprar são o Facebook (37%) e o Instagram (28%), que
pertencem à Meta. Somadas, as duas representam 65%", destacou.
O especialista citou dados de
outra pesquisa global, da Adyen com o Centro de Pesquisas Econômicas e Negócios
(CEBR), divulgada também neste mês, realizada com 38 mil consumidores e 13 mil
varejistas em 26 países.
No recorte Brasil, 2 mil
consumidores e 500 empresas apontaram que as redes sociais são o principal
canal de compra para 65% deles nos últimos 12 meses.
Com o uso exponencial de apps
das redes sociais para a finalidade de consumo, a aderência a esse tipo de
compra é de 72%. Sobretudo entre o público jovem, da Geração Z, de 16 a 26
anos, e Y, de 27 a 42 anos. Quanto à preferência, 61% dos entrevistados
informaram comprar no Instagram, seguidos de 52% que preferem o Facebook, e 19%
o TikTok.
"As redes permitem
anúncios mais direcionados, baseados em comportamento, oferecendo uma opção de
compra mais fluida e segura a partir desses canais", explicou.
Segundo o especialista, em
meados dos anos 2000, o varejo se baseava em ferramentas importantes para
impulsionar as vendas do e-commerce, como e-mail marketing, links patrocinados
no Google, ou comparadores de preço, como o pioneiro Buscapé. E ainda,
outras formas convencionais, como o popular boca-a-boca e indicação de amigos
como principais estímulos para fazer compras on-line.
"Mas fomos assistindo ao
fortalecimento das redes sociais com novas ferramentas de marketing, a
diversidade de formatos para vendas no Facebook, Instagram, Tik Tok, Youtube e
toda uma gama de podcasts."
FRAUDES,
LOGÍSTICA E IA
Ainda de acordo com o estudo da
Adyen-CEBR, em 2024 os consumidores do social commerce realizaram
quatro compras por mês, em média, e 40% gastaram mais de R$ 300.
Perguntados por que um
consumidor prefere comprar navegando pelas redes, ao invés de ir direto ao
site, o especialista reforçou o uso de horas que o brasileiro passa nas redes
sociais - o que o torna campeão por tempo de uso, com a média de sete horas
diárias.
"Ele é impactado
diretamente por anúncios e produtos de seu interesse enquanto vê vídeos. A
plataforma consegue saber o que ele gosta e, a partir do anúncio, direciona
para o ambiente de compra, já com meio de pagamento... Ou seja, dentro da rede
social ele se resolve."
Mesmo assim, 11% dos
entrevistados afirmam que não compram por redes sociais preocupados com
fraudes. No caso específico das redes sociais, com influencers que
"compram seguidores", ou seja, colocam robôs para simular
engajamento, ou até os que criam perfis fakes.
"Muita gente tem caído em
cilada em relação à correntes, influencers financeiros que indicam ações e
investimentos... Isso acaba gerando prejuízo para os seguidores."
Outros fatores acabam
favorecendo a compra por redes sociais, e justificam a alta demanda nas redes
sociais dos marketplaces. De acordo com o estudo da DHL, citado pelo
especialista em e-commerce na reunião de Conjuntura da ACSP, 65% dos
compradores globais destacaram a importância de conhecer o provedor de entrega
antes de realizar a compra.
O Brasil está entre os quatro
países que consideram parceiros logísticos peças importantes em
relação ao impacto nas vendas - uma tendência entre os clientes online,
conscientes dos custos e que buscam opções de entrega acessíveis, flexíveis e
convenientes, segundo o estudo.
Percebendo o aumento da
capacidade desses Centros de Distribuição (CDs) em regiões como Barueri, e na
divisa de São Paulo com Minas Gerais, um representante do setor financeiro se
surpreendeu com a quantidade de encomendas diárias que circula nesses
ambientes.
"Houve realmente uma
mudança total na postura do consumidor, que passa a acreditar nesses canais de
venda, já que eles têm honrado o compromisso (de entrega), que permite
inclusive que se faça o seguimento da encomenda em todas as suas etapas."
Essa agilidade na entrega,
segundo o especialista em e-commerce, mesmo de compras feitas até no mesmo dia,
mostra todo o tracking de vendas nos CDs - os fulfillments -,
permitindo maior controle e maior agilidade para chegar ao consumidor,
"trazendo muita conveniência, praticidade e preços mais competitivos do
que em lojas físicas", completou.
Para tanta demanda, as empresas
têm construído diversos data centers - e a região de Barueri é
uma delas -, para processar dados, aumentando exponencialmente o consumo de
energia. Em especial, nas operações de e-commerce baseadas em inteligência
artificial (IA).
Tudo isso tem feito esse
consumo disparar, alertou um representante do setor de fusões e aquisições
presente à reunião, pelo grande volume de computadores rodando o tempo todo.
"Com o advento da IA, o
consumo de energia pulou de 3%, 4% ao ano para 20%. Portanto, a preocupação é a
possibilidade de garantir aumento dessa energia ao mesmo tempo em que surgem
essas demandas exclusivas, que devem ser por causa dela."
Para dar conta dessas questões
e para driblar as baixas margens do varejo (em torno de 3%), os grandes
marketplaces ou varejistas on-line têm procurado monetizar de outras formas
além do mero modelo convencional de compra e venda, disse o especialista em e-commerce.
Ou seja, é ganhar dinheiro de
outras formas, como por exemplo cedendo espaço do fulfillment para outras
empresas armazenarem, com comissão por administração e gestão de produtos
dentro dos CDs, venda de publicidade em marketplaces ou pagamento mensal por
outros serviços (como música ou filmes) - vide a Amazon Prime.
"E cada vez mais IA, para ajudar no desafio de trazer o produto certo para a pessoa certa, um produto que ela nem sabia que precisava, mas foi comprado por demanda instantânea."
Karina Lignelli
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/vendas-por-redes-sociais-devem-chegar-a-us-8-5-trilhoes-ate-2030
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