Imagem: André Charone Arte: IA |
O Dia Nacional do Respeito ao Contribuinte, celebrado em 25 de maio, foi instituído com o propósito de reconhecer e valorizar a importância dos cidadãos que cumprem suas obrigações tributárias. É uma data que deveria servir para reforçar a relação de confiança e respeito entre os contribuintes e o fisco. No entanto, a realidade está longe de corresponder a esse ideal. Em vez de uma celebração de consideração, o que vemos é uma série de práticas que demonstram o verdadeiro desrespeito ao contribuinte brasileiro.
Na prática, o
cotidiano do contribuinte é marcado por uma série de desafios e complicações
que dificultam o cumprimento de suas obrigações fiscais. Desde a complexidade
exagerada do sistema tributário até o atendimento ineficaz nos órgãos fiscais,
a vida do contribuinte está repleta de situações que ilustram a falta de consideração
por parte das autoridades fiscais. O empresário e mestre em negócios
internacionais, André Charone, comenta alguns dos principais pontos que
exemplificam essa falta de respeito e os desafios enfrentados pelos
contribuintes no Brasil, fazendo com que o tal do dia 25 de março pareça uma
piada de mau gosto do Fisco.
1. Obrigações
Acessórias Sem Sentido
As obrigações
acessórias são um fardo constante para os contribuintes brasileiros. Muitas
dessas obrigações são redundantes e sem sentido, aumentando os custos de
adequação tributária sem trazer benefícios claros a não ser atender ao fetiche
quase pornográfico do fisco por burocracia.
Um exemplo
recente é a prorrogação da extinção da DIRF (Declaração do Imposto sobre a
Renda Retido na Fonte). Esta obrigação estava programada para ser extinta em
2024, com suas informações sendo integradas ao eSocial e à EFD-Reinf
(Escrituração Fiscal Digital de Retenções e Outras Informações Fiscais). No
entanto, a Receita Federal decidiu prorrogar a extinção para 2025, citando
dificuldades técnicas enfrentadas por diversas entidades. Essa decisão exemplifica como as obrigações acessórias podem ser mantidas mesmo quando
não
são
mais necessárias,
desrespeitando os contribuintes.
2.
Atendimento nos Órgãos Fiscais
O atendimento
nos órgãos fiscais é um desafio constante. Os contribuintes frequentemente
enfrentam filas intermináveis e um atendimento que deixa muito a desejar.
Muitas vezes, ao chegar a uma unidade da Receita Federal ou da SEFAZ, o cidadão
se depara com sistemas fora do ar, que impedem a resolução de problemas no
momento, ou com funcionários que, sobrecarregados e mal-humorados, não
conseguem oferecer o suporte adequado.
Além disso, a
falta de padronização no atendimento é um problema sério. Cada visita pode
resultar em orientações diferentes, o que gera ainda mais confusão e frustração
para quem precisa de auxílio. Situações em que o contribuinte é convidado a
voltar outro dia, preencher mais formulários ou simplesmente aguardar são
comuns. Esta falta de eficiência e cordialidade desrespeita o contribuinte,
transformando o que deveria ser um serviço de suporte em uma verdadeira
maratona de paciência.
3. Complexidade do
Sistema Tributário
A legislação
fiscal brasileira é notoriamente complexa, composta por uma infinidade de
normas, portarias, leis e decretos que se alteram com frequência. Para contribuintes
e contadores, manter-se atualizado com todas essas mudanças é um desafio
monumental. Cada nova instrução normativa ou ajuste na legislação demanda
adaptação e readequação dos processos, o que exige tempo, esforço e, frequentemente,
recursos adicionais. Essa complexidade gera um ambiente de constante
insegurança e incerteza, dificultando a vida de empresas, especialmente as de
menor porte, que têm dificuldades em acompanhar todas as mudanças e podem
cometer erros resultando em multas severas.
Além disso, as
diferentes interpretações das leis fiscais por parte dos auditores do fisco
também contribuem para disputas intermináveis. Mesmo seguindo todas as normas,
o pagador de impostos pode ser penalizado por uma interpretação diversa adotada
por um fiscal. Isso desrespeita o contribuinte, criando um ambiente de
constante vigilância e pressão, onde qualquer falha pode ser severamente
punida, aumentando a sensação de desrespeito.
4. Burocracia
Excessiva
A burocracia é
um dos maiores obstáculos enfrentados pelos contribuintes brasileiros. A
quantidade de documentos, declarações e comprovantes que um contribuinte
precisa apresentar é exorbitante. Cada procedimento requer um nível absurdo de
detalhamento e, muitas vezes, a apresentação de informações redundantes. Isso
sobrecarrega não só os contribuintes, mas também os profissionais de
contabilidade que precisam organizar e manter todos esses registros em ordem.
Segundo a
Confederação Nacional da Indústria (CNI), os custos burocráticos representam
cerca de 1,5% do faturamento anual das empresas. A burocracia excessiva não
apenas dificulta a vida das organizações empresariais, mas também impede que o
sistema tributário brasileiro seja justo e eficiente, desrespeitando
especialmente os contribuintes mais humildes que não possuem os mesmos recursos
para lidar com tais exigências.
5. Restituições de
Impostos
As restituições
de impostos são uma fonte significativa de frustração para muitos
contribuintes. Enquanto o pagamento dos tributos deve ser realizado pontualmente,
as restituições frequentemente sofrem atrasos consideráveis. A espera por esses
valores pode ser longa, e o processo de acompanhamento é frequentemente confuso
e desanimador. Muitos contribuintes relatam dificuldades em entender o status
de suas restituições ou em obter informações claras sobre os motivos dos
atrasos. Essa falta de transparência e eficiência é um claro desrespeito ao
contribuinte, que tem o direito de receber de volta o que pagou a mais de forma
rápida e eficiente.
Além disso, a
burocracia envolvida no processo de restituição é extremamente onerosa.
Contribuintes frequentemente precisam submeter uma série de documentos e
comprovantes para validar suas solicitações, enfrentando processos longos e
complexos para corrigir qualquer discrepância identificada pelo fisco. Esta
situação não só cria incerteza financeira, mas também desrespeita o
contribuinte, reforçando a sensação de que o sistema tributário brasileiro está
mais focado em penalizar do que em servir os cidadãos, agravando a desconfiança
e o descontentamento generalizado com a administração fiscal.
O Dia Nacional
do Respeito ao Contribuinte deveria ser uma data para celebrar e reforçar a
importância dos contribuintes no sustento da nação. No entanto, a realidade
enfrentada diariamente pelos brasileiros demonstra uma clara falta de
consideração e respeito por parte dos órgãos fiscais. Desde a burocracia
exagerada, passando pelo atendimento ineficaz nos órgãos do fisco, até a
complexidade absurda do sistema tributário, fica evidente que o contribuinte é
visto mais como uma fonte de receita a ser explorada do que como um cidadão a
ser respeitado.
Para que essa data realmente faça jus ao seu nome, é necessário um compromisso sério com a simplificação e a humanização do sistema tributário brasileiro. Reduzir a burocracia, aumentar a transparência e eficiência no processo de restituição de impostos, e garantir um atendimento digno e eficiente nos órgãos fiscais são passos essenciais. Somente assim será possível transformar o Dia Nacional do Respeito ao Contribuinte em uma verdadeira celebração de justiça e cidadania, onde o contribuinte sinta-se valorizado e respeitado pelo papel fundamental que desempenha na sociedade.
André Charone - contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA). É sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino, autor de livros e dezenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional. André lançou dois livros com o tema "Negócios de Nerd", que na primeira versão vendeu mais de 10 mil exemplares. Os livros trazem lições de gestão e contabilidade, baseados em desenhos e ícones da cultura pop.
Instagram: @andrecharone
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