Uma mulher pode amamentar o filho de outra? Existe
leite materno fraco? Há alimentos que são capazes de aumentar a quantidade de
leite materno? Obstetra esclarece mitos da amamentação
Leite materno
reforma o sistema imunológico do bebê e a amamentação traz inúmeros outros
benefícios para a criança e a mãe. Mas é preciso estar preparada fisicamente
para este momento tão especial
O aleitamento materno é considerado padrão ouro em
alimentação infantil: o leite materno é o alimento mais completo do mundo e os
bebês até os seis meses de vida devem ser alimentados exclusivamente com o
leite de suas mães, não necessitando de receber nem sequer água para serem
nutridos. Existem, porém, muitos mitos em torno da amamentação e Agosto Dourado
é o termo utilizado para chamar a atenção para a importância desse gesto que é
tão importante para as crianças e suas mães.
A Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e
mastologista, explica mitos e verdades sobre a amamentação:
1) A mãe precisa ser
suplementada para a amamentação?
Dra. Mariana Rosario – Sim! Durante a gestação, a mulher recebe uma série de suplementos
alimentares para que seu corpo enfrente todo o período adequadamente o aporte
necessário de nutrientes para o completo desenvolvimento do feto sem a depleção
do organismo materno. Da mesma forma, durante o puerpério e após esses 45 dias,
na amamentação, o obstetra faz o ajuste suplementar para que a mulher continue
amamentando, dando ao seu organismo todas as condições necessárias para esse
importante momento. Atualmente, é praticamente impossível que uma mulher
amamente adequadamente sem estar suplementada, porque não conseguimos adquirir,
apenas pela alimentação, todos os nutrientes necessários para uma boa saúde. Para
produzir o leite, o organismo pode esgotar o corpo da mulher, de forma a
deixá-la fraca. Mas, é possível observar que mesmo as mulheres subnutridas
conseguem amamentar – o que é algo prejudicial à saúde delas, porque não são
bem alimentadas e suplementadas.
2) Existe leite materno fraco?
Dra. Mariana Rosario – Esse é o maior mito que existe! O leite materno é o único alimento
completo do mundo, capaz de ser a fonte exclusiva de nutrientes de um ser
humano. Há duas situações que levam a esse entendimento errôneo. A primeira é
que a produção do leite materno pode ser pouca para saciar a fome do bebê – e,
então, a mãe acredite que seu leite seja pouco. A segunda é que o bebê não
consiga mamar adequadamente e, por isso, chore de fome, já que não se alimentou
corretamente.
3) Existem
alimentos que ajudam a ‘aumentar o leite’?
Dra. Mariana Rosario – Há mulheres que ingerem grandes quantidades de leite de vaca e canjica,
por exemplo, na expectativa de aumentarem o volume de leite. Isso também não
tem qualquer comprovação científica. A mulher precisa alimentar-se bem,
preferencialmente com a orientação de um nutricionista, para que seu organismo
consiga produzir o leite. Também é preciso estar relaxada, porque o estresse
impede a liberação do hormônio prolactina, responsável pela lactação.
4) Uma mulher pode amamentar o
filho da outra?
Dra. Mariana Rosario – Não. Essa prática não é permitida desde a década de 80, quando o vírus
HIV passou a ser altamente transmitido e se soube que ele pode ser passado para
um bebê por meio do leite materno. A chamada amamentação cruzada é, inclusive,
proibida por lei, no Brasil, e não recomendada pela Organização Mundial da
Saúde em nenhum país do mundo. As mães que não produzem leite podem recorrer
aos bancos de leite humano. A diferença é que, nos bancos de leite, o leite da
mulher é recebido, testado e pasteurizado, para garantir toda a segurança ao
bebê que o recebe.
5) Todas as mulheres conseguem
amamentar seus filhos?
Dra. Mariana Rosario - Não. Muitas mulheres enfrentam o problema por medo da dor,
despreparo ou até falta de apoio familiar. Amamentar não é fácil. É demorado,
pode machucar, se a pega do bebê for incorreta, acontece muitas vezes ao dia e,
quando o bebê dorme, a mulher precisa de descanso. Se ela não tiver uma rede de
apoio familiar, até se adaptar completamente, não conseguirá levar o processo
adiante.
E a adaptação da mãe e do filho também não é fácil.
Não é algo tão natural quando se pensa. O bebê não nasce sabendo mamar e a mãe
também não consegue amamentar sem treino. Não podemos deduzir que será fácil
para todo mundo. Por isso, existem profissionais que ensinam, acompanham,
ajudam. E tudo bem, o importante é o resultado final.
A importância do
aleitamento materno
Uma das maiores preocupações de Dra. Mariana
Rosario, em seu consultório está relacionada à orientação sobre o preparo,
durante toda a gestação, para que as gestantes adquiram a consciência da
importância da amamentação exclusiva do bebê, até os seis meses de vida, e
complementar, até os dois anos de idade. “A cada dia, percebo que as mães,
principalmente as de alta renda, têm a tendência de desistir da amamentação com
muita facilidade. Realmente, este pode não ser um processo fácil, porque há
muitos bebês que demoram a pegar o peito, sendo um ato que demanda paciente e
dedicação. Mas a amamentação é tão importante que eu insisto para que as
gestantes tentem o tempo que for necessário para que se crie esse vínculo entre
mãe e filho e a amamentação aconteça”, diz a médica, que faz parte do corpo
clínico do hospital Albert Einstein.
Vale sempre
lembrar...
- Teoricamente, todas as mulheres produzem
leite, desde a gestação. Após à saída da placenta, existe a saída do colostro,
que dura de três a cinco dias e é um alimento fundamental para o bebê, porque
traz anticorpos imprescindíveis para a proteção de seu organismo.
- Depois desse período, realmente vem o que
popularmente é chamado de ‘descida do leite’: as mamas ficam bem cheias e é
possível que exista dor e, em alguns casos, até febre. Não é um momento para
estresse, porque apenas com calma e paciência é que a mãe conseguirá amamentar.
O estresse, inclusive, pode prejudicar a produção do leite.
- É comum que, nos primeiros dias, os bebês não
peguem o peito – e as mães se desesperem. Isso é comum, mas eles estarão no
hospital, acompanhados pela equipe médica, e nada de ruim acontecerá. É o
melhor momento para que se tente amamentar, acompanhada pela equipe de
enfermagem e com todo o apoio. Em casa, também não se deve desistir, porque o
recém-nascido tem instinto de sobrevivência e precisa se alimentar. É hora de
tentar alimentá-lo, primeiro com a mama, seguindo para fórmula apenas depois de
tentar a amamentação, e com orientação do pediatra.
- Dependendo do jeito que o bebê pega o peito, pode
causar rachadura. Por isso, é fundamental seguir as orientações da equipe de
enfermagem e do obstetra, que têm muita experiência e podem orientar a mãe.
Também existem pomadas específicas para tratamento, que devem ser usadas apenas
após o nascimento do bebê.
- Existem bicos de silicone e outros
utensílios para ajudar as mães na amamentação. É o estímulo do sugar do bebê,
entretanto, que fará com que o leite desça e que a produção seja contínua. Por
isso, não se deve desistir – mas, também não se pode deixar a criança mamar
quando o peito estiver machucado, porque a situação pode piorar. Por isso,
quando houver qualquer problema, deve-se procurar pela orientação médica.
- Muitas mães ainda têm medo do efeito que a
amamentação poderia causar, esteticamente falando, em suas mamas. Existe o mito
de que a sucção da criança deixaria as mamas flácidas e caídas e uma pequena
parcela delas opta pelas fórmulas para evitar esse efeito. Esse é um erro de
interpretação: as mulheres que já têm as mamas flácidas realmente terão o
problema acentuado. Porém, as que não as têm não sofrerão do problema.
- Algumas mulheres temem que, após a
licença-maternidade, seja muito difícil para o bebê ficar sem o leite materno e
ele sofra. Porém, é melhor ele ser amamentado pelo maior tempo possível, com
exclusividade, do que não ter nenhum período disponível desse alimento, tão
precioso. Então, analisando friamente, mesmo que a mulher não consiga seis
meses de licença, é preferível amamentar o bebê com exclusividade por quatro
meses do que em nenhum momento.
Antes do nascimento...
- Durante a gestação, também é possível
preparar as mamas para a amamentação. Uma de minhas dicas é esfoliar, durante o
banho, o bico do peito, com uma bucha vegetal comum, para que o bico vá se formando.
- Outra dica é tomar sol no peito, sem roupa,
pela manhã, diariamente (até às 10h), para que a pele fique mais forte. O
mamilo pode ser estimulado com a mão, para que vá se formando. Mas, antes do
parto, nunca se deve usar pomadas emolientes.
- A mãe também deve, durante a gestação, preparar-se psicologicamente para a amamentação. Trata-se de um ato de amor e muitas mulheres relatam o bem-estar imenso que sentem ao amamentar, porque o vínculo que é criado entre a mãe e o bebê é ímpar, insubstituível. Portanto, se houver o preparo, sem medo, tudo dará certo.
É importante lembrar que a amamentação também faz
bem para a mãe, porque o aleitamento permite que o útero volte ao tamanho
normal rapidamente, previne a anemia materna, já que reduz o sangramento, e
ainda previne o risco de câncer de mama e de ovário, além de ajudar na
manutenção do peso corporal.
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