Atrasar a amamentação pós-nascimento eleva em até 80% o risco de morte neonatal no primeiro mês de vida
Com a Lei nº 13.435/2.017, o mês de Agosto passou a simbolizar a
luta pelo incentivo à amamentação, sendo chamado de Agosto Dourado (relacionado
ao padrão ouro de qualidade conferido ao aleitamento materno). O Ministério da
Saúde destaca o leite materno como o meio mais importante de nutrição para
bebês de até seis meses de vida, e sinaliza que a mortalidade de crianças de
até 5 anos de idade pode reduzir em até 13% por conta do aleitamento materno.
No entanto, o índice de amamentação no Brasil ainda está longe do ideal. Em pesquisa recente do Ministério da Saúde, realizada com 5 mil mães por todo o Brasil, 19% delas responderam que não conseguiram amamentar os bebês. A amamentação exclusiva até o sexto mês de vida é uma realidade ainda mais distante: 31% disseram não ter conseguido amamentar o bebê apenas com seu próprio leite.
“Para muitas mulheres, fatores sociais, culturais e emocionais podem se tornar grandes obstáculos, dificultando essa prática tão importante”, lamenta Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, membro da FEBRASGO e especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Segundo ele, ainda que seja fundamental orientar a mulher sobre a amamentação no pré-natal, não são todos os médicos que o fazem. Somando a desinformação ao estado emocional mais vulnerável e aos palpites de tias, vizinhas ou primas que, normalmente, mais atrapalham do que ajudam, a mãe acaba se sentindo pressionada e acuada, podendo comprometer ainda mais a amamentação.
Considerando estes cenários, especialistas reuniram 11 mitos mais
recorrentes para auxiliar as mães que não têm o devido apoio:
A fórmula infantil é tão completa quanto o leite materno
Mito: Rico em anticorpos, o leite materno é o único que aumenta a imunidade da criança, ajuda a combater alergias e infecções respiratórias, além de diminuir riscos de doenças crônicas, como diabetes, obesidade e hipertensão.
Até mesmo o neurodesenvolvimento do bebê tem impacto com a
amamentação: pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos,
concluíram em estudo recente que o mio-inositol, uma molécula encontrada no
leite materno, está diretamente ligada à formação das conexões neurais dos
bebês. “Ou seja, somente o leite materno pode prover estes benefícios à
criança”, reforça Carlos Moraes.
Amamentar na primeira hora de vida é indiferente à saúde do
bebê
Mito: O aleitamento materno na primeira hora de vida é fator protetor contra a mortalidade neonatal. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), quanto mais se atrasa o início da amamentação, maior é o risco de morte no primeiro mês de vida.
“Atrasar o aleitamento materno entre 2 e 23 horas após o
nascimento do bebê eleva em 40% o risco de morte nos primeiros 28 dias de vida.
Já o atraso de 24 horas ou mais aumenta esse risco em 80%”, alerta Carlos
Moraes.
É necessário amamentar de 3 em 3 horas
Mito: Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), não é
obrigatório estabelecer um horário fixo para a amamentação: o recomendado pela
instituição é que o bebê seja amamentado em livre demanda, isto é, sem restrições
de horários e de duração da mamada. “Nos primeiros meses de vida, inclusive, a
frequência costuma ser maior e com horários mais irregulares”.
As escolhas alimentares da mãe não influenciam na qualidade
do leite
Depende: Um dos maiores boatos é que a lactante deve consumir determinados alimentos e bebidas para “reforçar o leite”. Dentre alguns destes itens estão: cerveja preta, canjica, quinoa, entre outros.
“Não há comprovação científica sobre produtos que aumentem a qualidade e quantidade de leite materno. No entanto, é primordial ter uma alimentação saudável e equilibrada, evitando o consumo de alimentos processados e bebidas alcoólicas, o que inclui a cerveja preta”, diz o especialista.
Um estudo recente realizado pelo Instituto de Pesquisa Australiano
QIMR Berghofer mostrou que a dieta ideal para lactantes deve ser rica em
fibras, que pode aumentar a proteção dos bebês contra doenças respiratórias
graves, como a asma.
Leite empedrado não impede a amamentação
Mito: Um dos problemas mais comuns entre as mulheres que estão amamentando é o ingurgitamento mamário, conhecido como leite empedrado. Segundo Carlos Moraes, a condição pode ocorrer nos primeiros dias após o parto, quando mãe e bebê ainda estão ajustando o ritmo do aleitamento.
“Os seios ficam mais inchados do que o normal, duros, extremamente
doloridos e quentes. O leite empedrado pode, inclusive, gerar complicações mais
graves, como a mastite, que é a inflamação da glândula mamária, seguida de
infecção por bactérias. Por isso, aos primeiros sintomas, use uma bombinha para
retirar o excesso de leite acumulado”, orienta Carlos Moraes.
O estado emocional da mãe não interfere na produção do leite
Mito: Segundo a psicóloga Monica Machado, fundadora da Clínica Ame.C e pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein; quando o corpo está sob forte estresse, ele secreta dois hormônios: cortisol e adrenalina.
“Ambos aumentam a atividade cerebral, e diminuem ou bloqueiam
algumas funções orgânicas, como a liberação de prolactina e ocitocina,
hormônios que regulam as emoções e também a produção do leite materno. Sendo
assim, para não comprometer a amamentação do seu bebê, busque formas de
equilibrar seu emocional, seja com atividades prazerosas ou mesmo por meio da
terapia”, aconselha Monica Machado.
Bicos artificiais dão suporte à amamentação
Mito: O uso de bicos artificiais durante a amamentação é uma das
maiores causas de desmame precoce. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria
de São Paulo, incluir bicos artificiais atrapalha a continuidade do aleitamento
materno, uma vez que a satisfação da sucção da criança é suprida por eles.
Quando congelado, o leite materno perde nutrientes
Mito: Congelar o próprio leite é um hábito muito comum, principalmente quando a mulher volta a trabalhar ou mesmo em caso de ingurgitamento mamário. No entanto, o processo requer cuidados.
“O leite ordenhado, cuja duração é de até 15 dias, precisa ser guardado em frasco de vidro que tenha tampa de plástico. A higienização correta é feita com água fervente no recipiente por 15 minutos, seguida de secagem com pano limpo e repouso para que seque por completo, de modo natural”, explica Carlos Moraes.
Outra dica importante, segundo ele, é usar a tampa do frasco para
anotar o dia e a hora que o leite foi ordenhado. “Ao oferecer para o bebê, o
leite deve ser descongelado em banho-maria, sem ferver, apenas esquentando a
ponto de tirar o gelo. Lembrando que, uma vez descongelado, o leite não deve
ser congelado novamente”.
A prótese de silicone atrapalha a amamentação
Mito: De acordo com Luís Maatz, cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP); o silicone utilizado atualmente é composto por um material biocompatível, possui alta coesividade e sua superfície externa é mais resistente.
“Além disso, se a prótese for colocada via inframamária (incisão
embaixo das mamas) ou pela via axilar, não há cortes na glândula nem nos ductos
mamários. Dessa forma, seja na produção do leite como no seu trajeto ao mamilo,
não há contato direto com a prótese”.
Quem fez redução de mama não pode amamentar
Mito: Segundo Luís Maatz, que também é especialista em Reconstrução Mamária pelo Hospital Sírio-Libanês, na maior parte dos casos, as dúvidas relacionadas à redução mamária e à amamentação surgem por conta do corte de determinados ductos mamários.
“Entretanto, a formação de novos ductos ocorre posteriormente.
Quanto maior o intervalo entre a mamoplastia e o período de amamentação, maior
a probabilidade de poder amamentar normalmente”, esclarece Maatz.
A amamentação tem efeitos contraceptivos
Mito: Em níveis elevados, a prolactina, hormônio responsável pela regulação da amamentação, pode inibir a ovulação. “Entretanto, para que isso aconteça, é necessário que seus níveis estejam muito altos e de forma constante, o que é impossível de saber em uma relação sexual”.
Portanto, o ginecologista obstetra não recomenda usar a
amamentação como meio contraceptivo. “Apenas seu médico poderá definir o método
mais indicado para evitar uma gestação neste momento”, finaliza Carlos Moraes.
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