Após registrar alta de 15% nas vendas
em janeiro, percentual volta ao patamar de 4% em junho, de acordo com a Varejo
360. Para o economista Fábio Silveira, é sinal de que a economia caminha para a
normalidade, com a melhora do ambiente para os negóciosIMAGEM: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo
As taxas de crescimento de dois
dígitos que os supermercadistas registraram durante a pandemia começaram a cair
para um patamar “mais normal” nos últimos meses.
Em janeiro, as 150 maiores
redes do varejo alimentar venderam, em média, 15% mais do que em igual período
do ano passado e, em fevereiro, 15,3% mais no estado de São Paulo.
A partir de março, este
percentual foi caindo mês a mês até chegar a 4,2% de alta em junho deste ano
sobre igual mês de 2022, considerando as mesmas lojas.
A queda na taxa de crescimento
era mais ou menos esperada pelo setor à medida que os efeitos da pandemia
ficaram para trás. Além disso, a queda da inflação teve impacto no faturamento.
Ainda assim, o dado de junho assustou parte dos supermercadistas.
Os dados foram levantados pela
Varejo 360, empresa de tecnologia que desenvolve pesquisa de mercado com base
em informações de tíquetes de compra de consumidores paulistas.
Se consideradas também as novas
lojas, o percentual de aumento de vendas cai de 19%, em janeiro, para 9% em
junho, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Evidentemente, a inflação no
setor de alimentos empurrou para cima o faturamento dos supermercados, assim
como a pandemia, já que as lojas permaneceram sempre abertas.
“É normal que as taxas de
crescimento diminuam. As comparações mensais eram enganosas com inflação e efeitos
da pandemia”, diz Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector.
No acumulado do primeiro
semestre, as vendas do varejo alimentar no estado de São Paulo subiram 9,7%, em
média, em relação a igual período de 2022, considerando as mesmas lojas.
O formato de loja que mais
cresceu foi o de minimercados (Minuto Pão de Açúcar e Carrefour Express),
15,4%, seguido de supermercados, 11,6%, atacarejos, 7,1% e hipermercados, 6,7%.
Os atacarejos já se destacam
quando consideradas também as novas lojas, com alta de 19,4% no primeiro
semestre sobre igual período de 2022, como resultado da expansão do setor.
“O varejo alimentar está melhor
do que setores que dependem de crédito, mas vive um dos piores momentos dos
últimos três anos”, diz Fernando Faro, sócio da Varejo 360.
Consultores de varejo que
acompanham o setor dizem que muitas lojas faturaram de fato mais durante a
pandemia, mas não necessariamente viram a rentabilidade também crescer.
“Está um sufoco atingir a meta
para o mês. O esforço é muito maior, estamos fazendo mais promoções e
propagandas na televisão”, diz Hélio Freddi Filho, diretor da rede Hirota.
No primeiro semestre deste ano,
diz, a rede, com 18 lojas, vendeu 7,2% mais do que em igual período do ano
passado, sem descontar a inflação. “O momento atual está preocupante.”
A venda on-line, que chegou a
representar 15% do faturamento da empresa, agora participa com cerca de 2,5%. O
que está crescendo, diz, 22%, é o modelo de loja em condomínios.
Atualmente, a rede possui 104
unidades e estão previstas mais dez inaugurações até o final do ano, algumas
delas em espaços exclusivamente de escritórios.
Para Silveira, os dados acima
revelam que a economia brasileira está começando a voltar à normalidade,
exibindo números “mais reais” de desempenho das empresas.
“2023 será um ano de transição,
com sinais de que o país pode transitar para um ambiente melhor, com inflação
em queda e tendência de redução de taxas de juros”, afirma.
PERSPECTIVAS
Dois outros indicadores
importantes para o desempenho do varejo, como pessoal ocupado e rendimento, diz
ele, também indicam melhora no ambiente de negócios para este semestre.
De janeiro a maio deste ano, o
pessoal ocupado cresceu 2,3% em relação a igual período do ano passado, apesar
da elevada taxa de juros. “Com juros menores, estaria crescendo 4%.”
Somente o Bolsa Família, diz,
deve colocar nas mãos da população mais carente em torno de R$ 12 bilhões por
mês ou R$ 144 bilhões em 2023, 74% mais do que em 2022 (R$ 82,8 bilhões).
O pessoal ocupado deve receber
R$ 295,1 bilhões por mês ou quase R$ 4 bilhões no ano. “A massa real de
rendimento, incluindo o Bolsa Família, caminha para crescer 6,5% neste ano.”
O crédito, outra ferramenta
importante para estimular o consumo, diz, está crescendo mais do que o
previsto. Em maio, último dado disponível do BC, a alta foi de 13% sobre maio
de 2022.
“Se descontar a inflação, o
crescimento real do volume de crédito para o consumidor é da ordem de 8%, o que
não é pouco. Só não cresceu mais por causa da inadimplência”, diz.
Mas também no caso deste
indicador, diz, a situação já não é tão ruim, pois a taxa nos últimos seis
meses está quase estabilizada em 3,8% (atrasos acima de 90 dias), de acordo com
o BC.
“Aquela movimentação ascendente
da taxa de inadimplência mudou. Não está declinante, mas exististe uma melhora
nítida. A economia global, nacional, regional está se redesenhando.”
A partir deste mês, de acordo
com Silveira, as condições de temperatura e pressão da economia começam a
voltar à normalidade, favorecendo o varejo.
OUTROS
NEGÓCIOS
Uma das maiores marcas de tênis
do mundo, a Skechers, se prepara para crescer no país, mesmo depois de ver o
mercado de calçados esportivos encolher cerca em 2022.
Com 12 lojas no Brasil, a
marca, operada por três grupos brasileiros, sob licença, deve abrir pelo menos
mais duas unidades neste ano.
“A expectativa é que este
semestre será melhor do que o primeiro com a queda de juros e incentivo ao
consumo”, afirma Alexandre Santiago, country manager da marca no Brasil.
A perspectiva do mercado de
calçados esportivos para 2023, diz, é de um crescimento de 5,5% no volume de
vendas e de 14% em faturamento, na comparação com 2022.
No ano passado, o setor
enfrentou queda de cerca de 3% em pares e aumento de 7% na receita por causa da
inflação. “Só que a alta de preços não cobriu as despesas”, diz.
Os números da Skechers são
maiores, diz, porque a marca está em fase de expansão no país, com a previsão
de faturar 42% mais neste ano em relação a 2022.
“Acreditamos que na crise é o
momento de investir. A marca, com 800 lojas nos Estados Unidos, acredita muito
no Brasil”, diz.
Do portfólio mundial de
produtos da Skechers, cerca de 10% já estão no Brasil. São 500 itens entre
modelos e cores. Metade do que é vendido já é produzido no mercado brasileiro.
Também tem empresários animados
em um dos setores que mais sofreram na fase mais dura da pandemia, o de
restaurantes.
Um deles é Lalo Zanini,
empresário que atua há mais de 30 anos no ramo de gastronomia e sócio dos
restaurantes Luce, Vitrô Bistrô, Vianna Bar e outros.
“Tirando os meses de abril,
maio e junho do ano passado da base de comparação, já que foram meses muito
bons, mantemos a média de faturamento, o que é uma vitória”, diz.
Apesar de muitos restaurantes
tradicionais não terem sobrevivido à pandemia ou estarem enfrentando problemas
financeiros, Zanini diz que, no seu caso, todos são superavitários.
“A nossa gestão visa
lucratividade e é muito agressiva em marketing. Estamos numa fase de expansão
dos negócios no país”, diz.
O empresário acabou de
inaugurar o Virô Bistrô no shopping Iguatemi, em Campinas, no interior de São
Paulo, e também de assumir o Vianna Bar, no bairro de
Pinheiros.
A previsão ainda é abrir em
agosto outra unidade do Virô Bistrô, em Sorocaba, interior de São Paulo, e o
Capanema, na rua Barão de Capanema, especializada em comida kosher.
Com os dados do varejo que
saíram até agora, não há dúvida que os setores mais dependentes de crédito,
como o eletroeletrônico e o de veículos, são os que estão mais sofrendo.
“De fato a expectativa é de os
juros caírem, mas ainda estão muito altos, e esses dois setores são os que mais
sofrem com isso”, diz Fábio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do
Comércio).
Mesmo com todos os indicadores
indo na direção de um ambiente mais favorável para o consumo, o país ainda deve
crescer pouco, pouco mais de 2% na previsão de Silveira.
Para o varejo, a expectativa,
diz, é de um aumento de 1,3% em 2023 sobre 2022. “É pouco, mas cria-se uma
expectativa de aceleração para o final do ano e começo de 2024.”
Fátima Fernandes
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/supermercados-dao-adeus-ao-crescimento-de-dois-digitos
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