Os ovários são estruturas extraordinárias que abrigam as células reprodutivas femininas (os óvulos) e produzem estrogênio - hormônio com inúmeras ações no organismo das mulheres. O estrogênio exerce funções importantes não só nos órgãos reprodutivos, mas também no aparelho cardiovascular, para a saúde óssea, funcionamento do sistema nervoso central, entre outras funções.
As mulheres nascem com um estoque fixo e
não-renovável de óvulos, cuja quantidade e qualidade reduz com o passar dos
anos até a ocorrência da última menstruação (menopausa), que acontece em torno
dos 51 anos. Todavia, as modificações que levam à menopausa podem começar
vários anos antes no período chamado “transição menopausal” e se manifestam
principalmente por irregularidade menstrual, ondas de calor, redução da
fertilidade e alterações do sono e humor, ressecamento vaginal, entre outros.
Tal fato se explica pela presença dos efeitos do estrogênio em todo o organismo
feminino, e não apenas no aparelho reprodutor.
Estudos recentes comprovam a importância do
estrogênio para a saúde das mulheres. A remoção cirúrgica dos ovários antes da
menopausa acelera o envelhecimento e aumenta a ocorrência de doenças. O
estrogênio também pode interagir com o microbioma intestinal (conjunto de
bactérias que habitam o intestino) e resultar em uma variedade de
doenças, como a obesidade, síndrome metabólica, infertilidade, endometriose e
câncer. Novas descobertas científicas apontam para a relação entre a idade da
menopausa e a longevidade feminina: mulheres com menopausa antes dos 40 anos de
idade têm risco maior de morte quando comparadas àquelas nas quais a menopausa
ocorre entre 50 e 54 anos.
Aparentemente, várias alterações metabólicas
envolvendo as mitocôndrias (organelas celulares responsáveis pela produção de
energia) e o DNA parecem contribuir para o envelhecimento ovariano, além
de influências ambientais e hábitos de vida, como o tabagismo. Os mecanismos
responsáveis pela perda de função ovariana, entretanto, ainda não foram
identificados. Na verdade, a menopausa somente ocorre em humanos e algumas
espécies de baleias. Nos demais mamíferos o envelhecimento reprodutivo
acompanha o do restante do organismo. O motivo pelo qual isso ocorre na nossa
espécie permanece desconhecido. Uma explicação aventada por alguns seria a
“teoria da avó”, que sugere que o envelhecimento reprodutivo deixaria a avó
disponível para cuidar da sobrevivência dos netos.
Diante disso, parece lógico realizar a reposição
hormonal quando os ovários param de funcionar para evitar os efeitos adversos à
saúde feminina decorrentes da falta do estrogênio. Infelizmente, a equação é um
pouco mais complicada e a reposição hormonal na menopausa é assunto que
desperta debates no meio médico e científico. O estrogênio é um hormônio
fundamental para a saúde feminina, pois orquestra uma variedade de funções
vitais que podem mudar o equilíbrio da saúde para a doença, mas seu uso não
está livre de efeitos colaterais. Da mesma forma que o Dr. Jekyll e o Sr. Hyde
na história de Robert Louis Stevenson, o estrogênio pode mostrar sua face boa
ou má, dependendo das circunstâncias. A indicação de Terapia Hormonal (TH) para
repor o estrogênio deve ser individualizada e requer avaliação médica
especializada que leve em consideração a presença de sintomas, risco
cardiovascular, história pessoal e familiar de câncer, entre outros fatores. É
preciso ressaltar que há opções não-hormonais para combater alguns destes
sintomas indesejáveis da menopausa e que a prescrição da TH exige a presença
clara de indicação (alívio de sintomas associados a menopausa) e a ausência de
contraindicações.
O envelhecimento reprodutivo feminino é assunto
frequente nos congressos e publicações científicas, mas não há métodos
estabelecidos capazes de manter ou restaurar a perda da função ovariana que
ocorre ao longo da vida. A maioria das intervenções ainda está confinada a
estudos experimentais em modelos animais, e essas estratégias ainda carecem de
eficácia em humanos e os potenciais impactos na saúde materna e da prole ainda
não foram estabelecidas. O desenvolvimento das Técnicas de Reprodução Assistida
(TRA), como Fertilização in Vitro (FIV), permitiu postergar a maternidade através
do congelamento de óvulos, que preferencialmente deve ser feito até os 35 anos
para obtenção dos melhores resultados.
Percebe-se, assim, que apesar dos avanços
tecnológicos, a idade feminina ainda constitui um entrave para as chances de
gravidez. É fato que muitas mulheres conseguem engravidar espontaneamente após
os 35 anos e os dados do IBGE revelam que aumentou em 56% o número de partos
nas mulheres de 35 a 39 anos. Como até o momento não há nenhum método capaz de
medir com precisão a reserva ovariana, muito menos a chance real de engravidar
e ter um filho saudável, é fundamental reconhecer dos limites biológicos e
educar a população e os profissionais de saúde de modo que as escolhas
reprodutivas sejam livres e esclarecidas.
A menopausa, assim como a menstruação, são cercadas
de inúmeras crenças e mitos. Trata-se de um período de transição
associado a mudanças hormonais que podem ser devidamente tratadas de maneira
segura. As mudanças hormonais associadas ao envelhecimento podem trazer riscos
à saúde, como obesidade, doenças cardiovasculares e câncer, além de afetar
negativamente a qualidade de vida. Dessa forma, ter acompanhamento médico
especializado como foco na promoção da saúde, no tratamento das alterações
hormonais e prevenção do câncer e das doenças cardiovasculares é fundamental.
Dra.Márcia Mendonça Carneiro - Diretora
Científica da Clínica ORIGEN e Professora Titular da UFMG– Departamento de
Ginecologia da Faculdade de Medicina.
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