Estereotipar: formar uma ideia ou imagem preconcebida sobre alguém ou alguma coisa. É isso que estamos vendo aos montes com a chuva de pesquisas relacionadas ao comportamento da Geração Z divulgada nos últimos meses. Desde quando se percebeu a influência da GenZ sobre as outras gerações, foram muitas as tentativas de entender como esse grupo, que hoje já representa 32,7% da população mundial, se relaciona, consome e trabalha. Afinal, estamos falando de quase 2,5 bilhões de pessoas.
Levamos esses questionamentos ao ChatGPT, que se
alimenta de informações que coleta na internet, e as respostas não poderiam ser
diferentes: estereotipadas. “Uma geração que não lida bem com o mercado de
trabalho, que não quer se relacionar ou se informar, consumistas etc”. Muitas
dessas respostas são ancoradas em pesquisas recentes que foram veiculadas
exaustivamente na imprensa, como a do EDC Group, que aponta a Geração Z como a
menos engajada e descomprometida no mercado de trabalho. É isso, uma geração
inteira colocada em uma mesma caixinha. Não tem como falar por toda uma
geração. Ninguém representa uma geração tão diversa e plural. Pontos de
discordância e diferentes hábitos de distintas comunidades precisam ser
enxergados e levados em conta que a GenZ brasileira não é uma só.
Toda a visão de massa que temos sobre a Geração Z é
uma visão cheia de estereótipos, quando não uma percepção de estudos e
pesquisas norte americanos, chineses, australianos, geralmente de países de
primeiro mundo que não representam a totalidade de um país emergente como o
nosso.
Frente a tudo isso, que tal trazermos um pouquinho
de profundidade para o debate? Se pensarmos bem, não trata-se de uma questão
estrutural? A relação das gerações com o trabalho já não é assunto novo. Os
millennials já vinham levantando essa bandeira há pelo menos dez anos. Não
seria o caso dos modelos de trabalho mudarem, uma vez que o comportamento e os
hábitos de consumo das gerações também mudam? Não faz sentido termos modelos de
trabalho impostos 50, 60, 70 anos atrás e querer que a Geração Z siga em fila
indiana.
Se não observarmos o todo, estaremos apenas
repetindo o mesmo discurso e a questão estrutural que é de fato importante, não
evolui. Temos que nos perguntar: por que a relação dos jovens com o trabalho em
outros países já é bastante diferente da que temos aqui no Brasil? Será que não
tem muito mais a ver com uma mentalidade brasileira de querer enclausurar, de
querer criar uma relação de dependência do empregador com o empregado? É
preciso mesmo doar 44 horas por semana? Apenas isso caracteriza o trabalho de
verdade?
E quando pensamos na Geração Z enquanto
consumidora? Claro, não é a geração com maior poder de compra, até porque
muitos estão começando a vida adulta agora, mas sem sombras de dúvidas, são os
que mais influenciam o que as outras gerações compram. Estudo da Edelman,
divulgado no segundo semestre do ano passado, mostrou que mais de 60% dos
entrevistados no Brasil, afirmam ser influenciados por adolescentes e jovens na
hora de comprar, fazendo-os considerar sobre “os produtos que usam”, “como
fazem compras”, “quão ecológicas ou diversas as marcas que consomem devem ser”
e se “marcas devem se posicionar sobre questões relevantes para a sociedade”.
Temos aqui um cenário no qual a GenZ afeta hábitos
de comportamento e consumo. E que também pode ditar o que vai ser ou não
comprado, se tal música fará sucesso ou não, se determinado vídeo será viral ou
não. É a geração Z que cria mutirões na internet e move as massas para o que
realmente é tendência ou não é. Percebemos aqui o quanto a Geração Z acaba
sendo influenciadora da tomada de decisão dos mais velhos. Quando a família vai
comprar uma TV nova ou trocar de telefone, são os filhos, os sobrinhos, ou
primos que ajudam na escolha, que pesquisa sobre o produto na internet e mune o
tomador de decisão de informações para que enfim a compra seja feita.
Por fim, o que percebemos é que é prejudicial
colocar toda uma geração no mesmo lugar, porque ao fazer isso invalidamos tudo
o que as pesquisas não mostram. Grande parte da geração Z, principalmente a
brasileira, quer sim ter um emprego fixo, quer ter casa própria, muito por
conta das questões sócio econômicas do nosso país. Para muitos, o objetivo
ainda é ser concursado e ter um salário próprio estável, conseguir fazer um
financiamento de 30 anos e ter um apartamento.
A galera que tem mais idade, com grande repertório
de mercado, é muito importante para as gerações mais novas. Nós da GenZ não
estamos aqui para inventar a roda. Não temos síndrome do herói e não queremos e
nem podemos salvar o mundo. No máximo, ajudaremos a comunidade que está ao
nosso redor.
Luiz Menezes - fundador
da Trope, martech especializada em
soluções de negócios para marcas com foco na geração Z e Alpha. Nativo
digital, empresário e empreendedor, Luiz criou a empresa em 2021 como forma de
acelerar companhias que necessitam fazer parte da cultura da internet.
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