A reputação de uma empresa está
diretamente ligada à integridade, à transparência e às evidências de ações que
resultem em impactos positivos para a sociedadeFreepik
Vivemos em um mundo de negócios
competitivos e, diante das atuais pressões de investidores sobre as temáticas
de ESG, uma imagem íntegra e sustentável definitivamente representa uma
vantagem. O que cria um terreno fértil para o que chamamos de greenwashing.
Cunhado em 1989 e traduzido
como “lavagem verde”, o termo é caracterizado pela valorização de uma empresa
ou produto por meio de omissão de informações, fake news, exageros fictícios ou
até mesmo a manipulação ou ausência de dados relevantes.
Isso pode ocorrer em diferentes
cenários, desde relatórios anuais e financeiros, até propagandas de marketing,
rótulos de produtos, imagens ou declarações públicas.
No ambiente corporativo,
estamos sujeitos a falhas, crises reputacionais e imprecisão de informações.
Contudo, diante de ações com consequências ambientais e sociais, todo zelo é
pouco.
A reputação de uma empresa está
diretamente ligada à integridade, à transparência e às evidências de ações
pontuais e sistêmicas que resultem em impactos positivos mensuráveis a curto,
médio e longo prazo para a sociedade. Ao partirmos dessa premissa, sabemos o
quanto a indústria de combustíveis fósseis, por exemplo, é constantemente
criticada por greenwashing.
Quando tratamos temáticas como
redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e neutralidade de carbono,
observa-se que o plano de negócios muitas vezes segue na contramão dos
compromissos com a descarbonização assumidos publicamente.
Outro setor que vem sofrendo
críticas relativas a greenwashing e forte pressão regulatória por mais
transparência na agenda e critérios ESG é o setor financeiro, principalmente os
fundos de investimento que se apresentam como sustentáveis.
Por isso, para que a agenda ESG
seja de fato um norteador na redução e reparação de danos sociais e ambientais,
a tendência é que as entidades regulatórias intensifiquem o combate à prática
de greenwashing.
Atualmente, há diversos
formatos de relatórios e métricas que auxiliam empresas e instituições na
identificação das melhores práticas na divulgação de impactos relativos a ESG,
como o GRI (Global Report Initiative), SASB (Sustainability Accounting
Standards Board), e PRI (Principles for Responsible Investment World Economic
Forum).
Nesse sentido, tendo como
horizonte o aspecto preventivo, o principal pilar para evitar o greenwashing é
a governança corporativa.
O uso das estruturas de
governança e compliance das empresas é crucial para ações de ESG centradas em
compromissos estratégicos, análise e monitoramento de riscos e fortalecimento
da cultura organizacional em toda a comunidade de stakeholders (clientes,
fornecedores, colaboradores etc).
Embora as empresas tenham
ciência da importância da agenda ESG e, até mesmo do conceito de greenwashing,
pode haver um despreparo para enfrentar crises reputacionais ligadas a esse
tipo de ocorrência. Por isso, listamos a seguir 6 passos e caminhos
imprescindíveis de ação para as empresas diante de uma crise de greenwashing:
1) Invista em soluções tecnológicas para a geração de dados
confiáveis, gerando evidências que garantam a confiabilidade dos dados,
inclusive no que tange ao atingimento ou não dos compromissos assumidos
publicamente. Isso inclui o suporte às três linhas de defesa da governança em
relação às metas e ações concretas da agenda ESG, que sempre devem ser
alinhadas à estratégia da empresa, verídicas e alcançáveis. No momento da
crise, soluções tecnológicas aplicadas auxiliarão com mais rapidez e precisão
diante do confronto de dados.
2) Mantenha a política de gestão de crises sempre atualizada. Ela
precisa endereçar os riscos e reunir todas as informações desse processo. Por
exemplo, planos de contingência, procedimentos sobre o que deve ser feito e
quem precisa ser acionado em caso de crises efetivas. Considere desenhar uma
política a partir do mapeamento de riscos e da simulação de possíveis crises.
3) Acione o comitê de gestão de crise com membros de diferentes
expertises, com as competências certas para centralizar, coordenar e endereçar
as ações. É muito importante definir antecipadamente quais são os papéis e
responsabilidades de cada membro. Isso agiliza a tomada de decisões.
4) Em caso de iniciar o processo investigativo, selecione uma empresa
de consultoria externa independente que irá reunir fatos, dados e documentos
por meio da coleta de informações disponíveis para análise de quem são os
envolvidos, modus operandi, entre outros impactos. Considere sempre o
acionamento de um escritório de advocacia especializado em temas ESG e gestão
de crises para avaliação dos impactos e resultados no processo de gestão de
crise e, sobretudo, na continuidade do negócio.
5) Estabeleça protocolos de comunicação, como monitoramento da
repercussão, que poderão ser acionados de acordo com o impacto da questão de
greenwashing e os diversos públicos envolvidos. É aconselhável que sejam
contratados e usados agentes externos (como agências de comunicação) para a
comunicação assertiva e direcionada aos interesses dos diversos grupos e
públicos-alvos, como investidores, mercados, empregados, governo, comunidade,
entre outros.
6) Por fim, realize treinamentos periódicos e tempestivos para os momentos de crises, que incluam desde os porta-vozes até a disseminação entre os colaboradores para que todos tenham ciência do ocorrido. Esses treinamentos devem ter uma programação pautada em medidas em curso, orientação de como proceder, processo de gestão de crise para diversas análises, comunicação institucional e pronunciamentos públicos.
Marina Mantoan, Lutz Kuehne, Clarisse Ottero e Fernanda Filipavicius
Agência EY
Nenhum comentário:
Postar um comentário