Setembro Amarelo foi o mês dedicado à prevenção e combate ao suicídio, oriundo em grande parte da depressão. Por este motivo, resolvemos escrever sobre a TRISTEZA. O que ela é e move em nós? Por que nos atinge? Diariamente somos acometidos por uma insatisfação em virtude de sentimentos e situações diversas, onde o descontentamento costuma nos atingir e fazer com que não demos o devido valor à beleza de tudo que possuímos: como a saúde, o carinho e a companhia das pessoas que apreciamos, a presença de um amigo, o amor, aquilo que às vezes não se repetira no dia seguinte, afinal a vida é repleta de ciclos que se iniciam e terminam.
Chego
à conclusão de que a tristeza é um sentimento intrínseco ao ser humano e de que
sua presença é a certeza de que um dia a alegria existiu, que para sermos
capazes de entender tanto uma quanto a outra é preciso senti-las.
Nomearei
a tristeza de “amiga fiel”, que caminha próxima às boas lembranças e memórias.
Ela chega, senta-se ao nosso lado, nos faz companhia e em alguns momentos nos
abraça. Sabemos que ela está ali, sua presença é quase tangível e não nos
abandona, ela anda de braços dados com a ausência e a saudade, de algo ou
alguém, que talvez tenha trazido, e ainda traz, marcas avassaladoras em nossas
vidas, por este motivo, não a vejo como um “bicho-papão”.
Na
maioria das vezes sabemos que o motivo da tristeza estar ali pode ser
consequência de fatores externos e profissionais. Pressões por metas e ambiente
corporativo toxico podem levar a doenças mentais, burnout e, tristemente, ao
suicídio. Antes da pandemia, tais temas eram considerados tabus nas empresas, a
grande maioria dos colaboradores tinham medo de falar sobre saúde mental devido
as retaliações, mas a pandemia mudou muito este cenário.
Ninguém
saiu mentalmente ileso da pandemia, mesmo aqueles que não contraíram a covid ou
não perderam um ente querido, vivia em medo constante de ser contaminado. As
mídias somente falavam diariamente dos milhões de mortos e este entorno
contribuiu para desencadear problemas mentais.
Com
o fim da pandemia, falar sobre doenças mentais, burnout e suicídio passou a ser
uma constante, afinal, somos humanos e não máquinas sem sentimentos.
Entretanto, o mundo corporativo não estava preparado para esta nova cobrança.
Ter um ambiente corporativo saudável e ter canais internos para poder
livremente falar de problemas mentais sem retaliações se transformou em uma
obrigação das empresas.
Colaboradores,
principalmente em países de pleno emprego, tem abandonado suas posições ou não
aceitam novos cargos ou outras oportunidades sem ter a certeza que o ambiente
corporativo será saudável e que a empresa demonstra estar preocupada com estes
temas.
A
grande questão a ser encarada é como as empresas irão lidar com esta nova
demanda dos colaboradores, algumas empresas estão investindo em programas
internos voltados à saúde mental, já outras esperam o pior acontecer para
tomarem uma ação. Tivemos este ano uma tentativa de suicídio de um jovem de 19
anos que se jogou da janela do próprio escritório onde trabalhava. Fica a
pergunta: será que ninguém notava que o ambiente era tóxico? Ou a mentalidade
ultrapassada e a velha expressão “somente os fortes sobrevivem” ainda era parte
do DNA desta empresa?
Sim,
temos um novo aspecto para trabalhar dentro das empresas, algo que não pode ser
somente delegado para o Departamento de Recursos Humanos, trata-se de um
assunto multidisciplinar e voltado para o comportamento da alta direção, que
deve colocar nas pautas das reuniões um indicador-chave de performance sobre
tais temas e monitorar a evolução ou involução do ambiente corporativo.
Ademais, não basta estar no papel, programas internos devem ser criados e
implementados urgentemente, mas, principalmente, treinar os líderes sobre estes
temas de forma técnica e cortar na raiz qualquer tipo de “bias” ou preconceito
contra estes.
Sendo
assim, cada vez mais, as empresas serão avaliadas pelo seu ambiente interno e
somente as que enfrentarem os problemas olhando diretamente nos olhos destes
irão conseguir ter colaboradores felizes, produtivos e colaborativos.
Patricia Punder - advogada e CEO da Punder Advogados Thiago Penna, gestor regional de pessoas e projetos e professor em Diversidade, Equidade e Inclusão.
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