Especialista
explica a relevância da data no contexto histórico brasileiro
Comemorada em 15 de novembro, a Proclamação da
República foi resultado de um longo enfraquecimento que a monarquia enfrentou
no Brasil. Ocorrido no ano de 1889, o evento marca a era republicana
presidencialista no Brasil, encerrando a monarquia parlamentarista do Império,
é que destitui o então chefe de Estado, Imperador Dom Pedro II. A figura de
Marechal Deodoro da Fonseca fica na história como responsável pela efetiva
proclamação e como primeiro Presidente da República Brasileira em um governo
provisório (1889-1891).
Para comentar o contexto histórico da data, o
cientista político e professor de Direito do CEUB Alessandro Costa concede
entrevista e traça um panorama com o momento político atual. Confira a
entrevista na íntegra:
A Proclamação da República é feriado nacional, mas parece não receber a mesma importância como a da Independência do Brasil. Qual a sua avaliação sobre isso?
AC - Não há como hierarquizar a importância desses dois eventos históricos, até
porque tratam de momentos e desfechos diferentes. A Independência significou o
grito de soberania do jovem Estado Brasileiro a partir de 1822 que, ainda que
de forma peculiar (uma vez que preservou um membro da coroa colonizadora como
seu governante), iniciou a guinada que levaria o Brasil a formar sua própria
identidade nacional. Já a Proclamação da República, significou o rompimento não
só com a família real, naquele momento representada por Dom Pedro II, mas de
todo um modo de governar representado pela monarquia vigente até então.
Na monarquia, as pessoas eram súditas de um monarca, mas com a Proclamação da República passamos a ser cidadãos. Poderia explicar os conceitos e como o processo de inserção do povo aconteceu com o tempo?
AC - Na verdade, a nova organização brasileira mudou muito pouco quanto à sua
pirâmide econômica, onde se agrupavam na base os mais pobres da sociedade,
constituída principalmente por ex-escravos e seus descendentes. Esse quadro
quase não foi alterado. Verdadeiramente apenas as camadas mais altas dessa
pirâmide econômica, que se organizavam em legítimas oligarquias locais, é que
foram beneficiados num primeiro momento, pois assumiram o poder da máquina
pública, gerenciando os projetos locais e nacionais quase sempre advogando em
prol dos seus próprios interesses.
É importante lembrar que a Proclamação da República
não se fez através de uma revolução. O que mudou mesmo foi o fato de que
enquanto na monarquia o poder da máquina pública estava concentrado na figura
do Imperador, que administrava de maneira centralizadora as decisões políticas,
na República abre-se espaço de decisão para a classe enriquecida que almejava
há muito tempo o poder de decisão política. Apenas com o passar do tempo, é que
a maturidade do sistema republicano foi inserindo verdadeiramente a população
na rede de cidadãos amparados por direitos e garantias fundamentais previstos
em norma constitucional. Atualmente, a Constituição de 1988 cumpre fielmente
esse papel.
O termo República vem do Latim
Res Publica, ou coisa pública. O que exatamente pertence ao público no Brasil?
As pessoas, de forma geral, percebem que são “proprietárias” dos bens públicos?
AC- Nossa atual Constituição deixa claro no seu
artigo 1º, parágrafo único que "Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição." Então, o Estado pertence ao povo, ao público, e deve
satisfazer as necessidades de seus cidadãos e cidadãs, fazendo cumprir os
direitos e garantias fundamentais nela também expressos, tais como direito à
vida, à saúde, à liberdade, ao respeito e à dignidade, à educação, à cultura,
etc. Todos esses direitos são garantias conquistadas e pertencentes a cada
cidadão e cidadã brasileira.
O que é uma pessoa “republicana”?
AC- É uma pessoa que respeita os princípios republicanos, quais sejam, os
poderes estabelecidos constitucionalmente e que funcionam como contrapesos
entre si, como o poder Executivo, Legislativo e Judiciário. É uma pessoa que
acredita na lei e na democracia. Citando o saudoso professor Luiz Flávio Gomes,
“ser republicano é crer na igualdade civil de todos, sem distinção de qualquer
natureza”.
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