Multicultural e
com dimensões continentais, o Brasil abriga diversas percepções sobre seu
potencial, especialmente entre os mais jovens e os mais velhos
Setembro de 2022 - A percepção do Brasil não é igual para todas as pessoas, isso é fato. Interpretar um país depende muito de um background pessoal, que geralmente está ligado com a cultura e o momento histórico em que aquela pessoa está inserida. Pensar em percepções sobre o Brasil pode ir ainda mais longe, já que estamos falando de um país com dimensões continentais, com uma rica miscigenação, uma infinidade de sotaques e até mesmo de línguas. Isso sem contar as diferenças étnicas, culturais, de sexo e de faixas etárias. Nesse contexto, pela evidente diferença de pensamento histórica entre pessoas de diversas idades, decidimos analisar as percepções do país por meio do filtro das faixas etárias.
Para alguns jovens entre 16 e 20 anos é inconcebível ver o Brasil como um país ideal para se viver, é o que aponta a Pesquisa Branding Brasil, realizada pela agência Ana Couto, em que 55% dos entrevistados afirmam que morariam em outro país se pudessem. Já para 69% das pessoas com mais de 55 anos, o Brasil é sim o seu país ideal. E ainda, para 65% da população acima de 55 anos, a bandeira do Brasil representa esperança e, apenas para 51% dos respondentes de 21 a 32 anos a impressão é a mesma.
É importante destacar que muito do que a pesquisa revela é reflexo do que a geração Z vive hoje. De acordo com a Pesquisa Caminhos do Trabalho, realizada pela Universidade Federal da Bahia, 32,7% dos entregadores de aplicativos hoje são pessoas entre 18 e 24 anos. Dado que explica a desilusão com o país, já que essa geração viveu e vive a dissolução de vínculos empregatícios e, muitas vezes, de alguns direitos do trabalho. Diferentemente do que aconteceu com faixas etárias de maior idade, que usufruíram dos empregos mais estáveis, da menor concorrência no mercado (em 1970 por exemplo, vivíamos o chamado "milagre econômico brasileiro", caracterizado pelo maior número de empregos do que de candidatos). Cabe aqui destacar que essa percepção de abundância na década de 70 também era restrita a algumas regiões e classes sociais do país.
Mesmo para jovens de classe média, o futuro é incerto porque há uma alta competitividade no mercado de trabalho - muito por conta do amplo acesso às universidades, que marcou os anos de 2001 a 2010, segundo o Portal do MEC - e a flexibilização das leis trabalhistas/ "pejotização".
65% dos jovens da região sudeste, pertencentes à classe C, acreditam que a bandeira representa esperança, para adultos maiores de 55 anos, pertencentes à mesma classe e região esse número sobe para 72%. Em regiões menos favorecidas economicamente o fato se repete, 76% dos jovens da região nordeste, pertencentes à classe C, acreditam que a bandeira representa esperança. Já no caso dos adultos, essa percepção aumenta para 83%.
Interpretando esse pano de fundo é fácil entender porque os jovens se sentem menos felizes do que os mais velhos ao ver a bandeira do Brasil, que é intimamente ligada à ideia de nacionalismo. O cenário do país há 50 anos era bastante diferente do que vivemos na atualidade, especialmente porque passamos recentemente por uma crise de saúde mundial, na qual se acirraram as desigualdades sociais.
Esses dados revelam a profundidade da esperança que
as gerações depositam no país como um todo, como ela muda de acordo com as faixas
etárias e como diferentes realidades possibilitam diferentes posições perante a
vida e o futuro dela.
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