Segundo
o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), até 2030, a participação
feminina no mercado de trabalho brasileiro deve crescer. O estudo estima que
daqui a 11 anos, 64,3% das mulheres consideradas em idade ativa, com 17 a 70
anos, estarão empregadas ou buscando trabalho. No início dos anos 1990, essa
parcela era menor (56,1%). De acordo com a Pesquisa Pnad Contínua, do IBGE,
mudanças culturais, a conquista de direitos e um maior investimento em educação
pelas mulheres explicam o movimento.
Com
isso, muitas mulheres com bebês e crianças pequenas precisam tomar uma difícil
decisão: com quem deixar os filhos? Algumas preferem deixar com os avós, outras
com babás, e há quem opte pela escola infantil. E é nessa fase que se inicia o
“desgrude” da criança, o que nem sempre é fácil. Para o filho, a mãe representa
nutrição, proteção, conforto, amor e carinho. Portanto, neste período de
“afastamento”, é normal a criança sentir falta da mãe, ter medo e mudar o
comportamento.
Como
deixar seu filho mais seguro
A
mãe pode ir preparando a criança desde cedo, mostrando que outras pessoas
também são capazes de cuidar dela. Deixe-a mais tempo com os avós ou com os
padrinhos, e aproveite para passear um pouco, se cuidar, sair com os amigos e
até ter um momento a sós com o marido.
Com
o tempo, a criança vai perceber que a mãe se ausenta, mas volta, e será
benéfico para todos. De acordo com Stella Azulay, CEO da Escola de Pais XD,
Educadora Parental pela Positive Discipline Association e especialista em
Análise de Perfil e Neurociência Comportamental; ao sair, sempre se despeça e
explique que vai voltar. Se você for embora sem falar com seu filho, ele não
entenderá, e isso pode gerar insegurança e perda de confiança.
“Mesmo
que seja um bebê, converse com ele. Diga que precisa ir trabalhar ou fazer
alguma coisa na rua, mas que irá retornar. Quando deixar a criança na escola ou
com outra pessoa, não demonstre tristeza ou angústia. Qualquer sentimento que
você tiver irá transmitir ao seu filho. Portanto, seja firme. Diga que o ama,
que ele ficará bem e que mais tarde irá buscá-lo”, orienta a especialista.
Uma
dica importante para estimular a independência da criança é fazer com que ela
valorize o seu próprio espaço. “Deixe claro que ela tem a sua cama, o seu
quarto e os seus objetos. Concessões podem ser feitas, como dormir uma noite ou
outra com os pais. Mas é fundamental que ela já comece a ter noções de
discernimento e entenda que certas coisas não podem ser feitas sempre que ela
tiver vontade”.
Outra
boa dica, segundo Stella Azulay, é incentivar a realização de tarefas que ela
já possa fazer sozinha, como escovar os dentes, se vestir e tomar banho. Peça
ajuda em funções que sejam apropriadas à idade dela, seja arrumando a mesa,
guardando os brinquedos, regando as plantas, dando comida ao cachorro, entre
outras. Isso ajudará no seu desenvolvimento. Para Stella, a criança muita
ociosa tende a demandar mais a atenção dos pais, além de se tornar preguiçosa.
“Se
ela estiver com receio de realizar alguma tarefa, primeiro entenda a razão
deste medo e a encoraje a enfrentar a situação. É importante que a criança já
saiba que virão outros medos ao longo da vida, mas que ela esteja preparada
para encará-los e tentar superar”.
Por
que o excesso de zelo é prejudicial?
Segundo
Stella Azulay, crianças criadas com excesso de zelo podem ter ainda mais
dificuldade de se adaptarem à ausência da mãe.
“Vale
dizer que excesso de zelo é quando a mãe dá tudo o que o filho quer, tem
dificuldade de dizer ‘não’ e de impor limites à criança. O carinho e a atenção
dos pais são fundamentais, mas a falta de limites torna a criança mimada,
insegura e irresponsável. Os filhos precisam entender, desde a infância, até
onde podem ir, e que as cobranças fazem parte da vida”.
De
acordo com a educadora, é na fase pré-escolar (2 a 6 anos) que a criança começa
a explorar mais o mundo, e sente curiosidade em descobrir coisas novas, o que
faz com que ela possa assumir riscos. Esses riscos devem ser supervisionados,
mas permitidos, desde que não envolva situação de risco real.
“Isso
é importante para que a criança tenha iniciativa e independência. Se cada vez
que ela ouvir ‘deixa que eu faço’, ‘você não vai conseguir fazer sozinho’,
‘você é pequeno demais’; sua capacidade de evoluir e de ter interesse por novas
descobertas será totalmente inibida”, explica Stella Azulay.
Com
o tempo, isso pode levar a criança a ser mais tímida, mais medrosa e achar que
as coisas só darão certo se a mãe estiver por perto. Stella afirma que, muitas
vezes, a mãe não percebe essa dependência que ela mesma criou.
“A
criança também não tem a percepção de que está muito dependente. Pelo
contrário. Ela não tem desafios e obstáculos, o que torna sua vida uma zona de
conforto. Essa é a hora de fazer uma reflexão: será que o excesso de proteção
não está prejudicando o amadurecimento e a independência do meu filho? Sim,
está, e esta forma de educar trará consequências frustrantes em sua vida
adulta, tanto na questão pessoal como profissional. Obviamente, os primeiros
passos para cortar essa dependência exacerbada devem ser dados pelos adultos”.
Em
suma, qualquer excesso não é saudável, tanto a falta de zelo como o excesso
dele. “Lembre-se: se você estimular a independência de seu filho, estará
fazendo dele um adulto seguro, responsável e capaz de resolver seus próprios
problemas com maturidade e clareza”, finaliza Stella Azulay.
Nenhum comentário:
Postar um comentário