Dentro de todos os indicadores que os investidores gostam de ver quando escolhem suas ações para investirem na Bolsa, o dividend yield, que são os dividendos distribuídos nos últimos 12 meses divididos pelo preço atual da ação, é certamente um dos mais importantes, principalmente para aqueles investidores que pretendem viver da renda de seus investimentos.
O
fascínio pelos dividendos, em especial no Brasil, vem do fato dos mesmos serem
isentos do Imposto de Renda, e serem uma das formas mais simples de ver o
quanto a empresa está retornando para o bolso do acionista, de todo o valor que
foi investido.
Tudo
isto de fato são vantagens enormes e não há como negar a importância dos
dividendos na análise de boas empresas, quando estas estão na fase de
distribuir dividendos.
E
aqui começamos uma confusão feita por muitos investidores menos experientes,
influenciados muitas vezes por matérias do tipo “clickbait”, que convocam
pessoas inclusive a comprar ações perto da data ex-dividendos para que estes
possam se aproveitar dos ganhos desta distribuição.
Mas
fato é que, quando estes são distribuídos, eles são descontados do preço da
ação, não gerando, portanto, qualquer ganho para o acionista, além dos já
mencionados acima, que são o melhor controle e a isenção tributária,
principalmente.
Peguemos
o exemplo da Vale (VALE3), que anunciou R$ 8,20 de dividendos para quem
estivesse posicionado em seus papéis até o dia 22/09/2021, fechando o dia com a
cotação de R$ 87,11. Este valor, porém, foi automaticamente ajustado ao final
do pregão para algo em torno de R$ 78,91, após o desconto dos dividendos pagos.
Isto
significa que o investidor de VALE3 amanheceu no dia seguinte, teoricamente,
com R$ 8,20 por ação a mais na conta da corretora e R$ 8,20 a menos em seus
investimentos na Vale. É o famoso “tirar de um bolso para colocar no outro”.
E,
ao contrário do que muitos pensam e espalham por aí como se fosse verdade, uma
empresa, à exemplo da Vale, não vale somente o que valem seus papéis. O caixa é
uma conta importante nesta avaliação, já que ele pode tanto ser utilizado para
reinvestimentos, quanto para uma distribuição como esta.
Fato
é que a Vale possuía, segundo balanço do segundo trimestre de 2021, cerca de R$
68 bilhões em caixa e resolveu distribuir R$ 40 bilhões em dividendos aos seus
acionistas. Não é difícil imaginar, portanto, que uma empresa que possui R$ 40
bilhões a menos vale menos do que valeria se mantivesse o caixa em seus cofres.
Se
colocarmos este exemplo no cotidiano de empresas menores, a padaria do Joaquim
com um caixa de R$ 10 mil vale mais do que valeria se o Joaquim tirasse todo o
dinheiro do caixa antes de lhe vender o negócio.
Dividendo
não é bônus, assim como os juros sobre capital próprio ou até mesmo os chamados
bônus, ou bonificação de ações. Todos eles acabam tendo o mesmo efeito de
correção nas cotações das empresas, o que não gera qualquer benefício aos
acionistas.
“Mas
então, por que grandes investidores, como o Luiz Barsi, por exemplo, gostam
tanto de empresas que geram dividendos?” – alguns questionam. E a resposta é
simples: Se uma empresa é uma boa pagadora de dividendos e paga dividendos
constantes, significa provavelmente que ela gera Lucro e Caixa constantes, o
que torna esta empresa atraente em muitos sentidos.
Podemos
então pensar que o Lucro, ou o Caixa gerado pela empresa, que são os fatos
geradores dos dividendos, são o que importa no final das contas, para quem
pensa em ser sócio, tanto da Vale, quanto da padaria do Joaquim.
A
distribuição deste caixa é apenas uma mera realização dos lucros transformados
em ganhos para os sócios, que o gastarão como quiserem, até mesmo podendo
reinvestir no mesmo negócio que resolveu distribuir estes lucros.
Neste
último caso, que fique claro, você está recomprando ações de uma empresa que
passou a valer menos após a distribuição dos lucros.
Como
exemplo, se você possuísse 100 ações de uma empresa cujo preço é R$ 11 e ela
distribuísse R$ 1 de dividendos, esta mesma empresa passaria a valer R$ 10 por
ação. Agora, porém, você tem R$ 100 de dividendos no bolso. Se você recompra 10
ações desta empresa com os dividendos, você passa a ter 110 ações de uma
empresa que agora vale R$ 10. Em efeitos práticos, você continua tendo os
mesmos R$ 1.100 investidos na empresa e a recompra não teria gerado qualquer
benefício.
É
claro que podemos aqui discutir sobre os efeitos psicológicos da distribuição
de dividendos e como um preço menor pode causar movimentações nas cotações
futuras da ação, mas isso certamente é tema para um outro artigo.
O
mais importante a se entender é: “Dividendos? Sim, obrigado, mas na hora
certa!”. Se uma empresa tem coisa melhor para fazer com meu dinheiro do que me
devolver, que o faça e me distribua mais dividendos depois com o dinheiro que
reteve.
Boas
empresas aumentam suas receitas, dão lucro e geram caixa. Distribuir dividendos
é um mero detalhe.
Fabio
Sobreira - colunista do Denarius (Boletim Econômico Financeiro da FIPECAFI)
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