Alguns tratamentos e medicações podem provocar
sonolência, desatenção e redução de reflexos, médicos explicam as recomendações
para dirigir em segurança
Na tarde da terça-feira (15/3),
uma mulher capotou o carro na Rodovia Rio-Santos, em São Paulo, depois de
sofrer um mal súbito enquanto dirigia para casa após passar por uma endoscopia.
Segundo médicos, a realização desse exame exige o uso de anestésicos que podem
causar efeitos sedativos prolongados, exigindo um tempo de recuperação de, pelo
menos, oito horas. “Estas drogas podem, mesmo após o despertar ao fim do exame,
levar a graus variáveis de sedação residual e provocar amnésia anterógrada
(para fatos recentes). É possível, assim como o paciente sob efeito do álcool,
perder a consciência, reflexos e memória”, afirma o cirurgião e médico do
tráfego Rui Lafaiete Brasil Júnior.
Segundo Brasil Júnior, por um
período variável entre 8 e 12 horas, pacientes que recebem sedação devem evitar
dirigir, manusear máquinas ou realizar outras atividades que exijam atenção.
“Por isso o paciente que faz uma endoscopia deve, obrigatoriamente, estar
acompanhado por outra pessoa legalmente capaz, que será responsável pela
condução do paciente de volta a seu lar em segurança”, completa.
O médico especialista em Medicina do
Tráfego, e diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego
(Ammetra), Alysson Coimbra, diz que outros procedimentos e
medicamentos também podem afetar diretamente a capacidade do motorista dirigir
em segurança e aumentam as chances de ocorrência de acidentes de trânsito. “O uso de antidepressivos, ansiolíticos,
sedativos, antialérgicos, anticonvulsivantes, analgésicos opioides e
medicamentos que reduzem a glicose no sangue podem provocar efeitos como
sonolência, alteração da atenção, redução dos reflexos e aumento do tempo de
reação”, explica.
Alguns medicamentos podem provocar sintomas que diminuem a atenção no trânsito (Foto: Freepik) |
Segundo o especialista em
Medicina do Tráfego, os efeitos variam entre indivíduos e dependem da dose. “Não é incomum a ocorrência de efeitos
colaterais após o início de uso de algumas medicações orais e subcutâneas,
então costumamos contraindicar a direção veicular por até duas semanas, em
média, para permitir a adaptação do paciente ao tratamento, zelando assim por
sua integridade física e da coletividade”, completa.
Coimbra reforça a importância
de seguir as recomendações médicas sempre que o motorista iniciar algum
tratamento e aguardar a reavaliação com o profissional que prescreveu a
medicação para voltar a dirigir em segurança. “Da mesma forma, pacientes que fazem
hemodiálise não devem dirigir antes e imediatamente após serem submetidos ao
tratamento”, afirma Coimbra, que foi um dos autores da
diretriz da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) sobre doença
renal crônica dialítica e condução veicular.
Fator humano
Segundo entidades que atuam na segurança viária, fatores humanos, como
sonolência, desatenção e comportamentos imprudentes, são responsáveis por cerca
de 90% dos sinistros de trânsito. “O
cuidado com a saúde física e mental é fundamental para garantir a segurança de
todos no trânsito, por isso existem avaliações médicas e psicológicas
regulares, previstas em Lei, durante o processo para obtenção e renovação da
Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Além de avaliar a aptidão para dirigir,
esses exames ajudam a detectar precocemente muitas doenças e agravos, sendo
para muitos brasileiros, a única oportunidade de contato com um profissional da
saúde”, completa Coimbra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário