A resposta para essa questão, que deve embasar nossas ações de filantropia, está nos números que retratam a realidade social do país. Dados divulgados em novembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que em 2020 a parcela da população com maior renda no Brasil, que representa 1%, ganha 34,9 vezes mais que a metade dos brasileiros que têm menor renda. Enquanto a renda média mensal das famílias mais ricas do país fica em torno de R$ 15,8 mil, metade das mais pobres têm rendimento médio de R$ 453. No ano passado, o rendimento médio mensal da população, em geral, atingiu o menor patamar desde 2012, ficando em R$ 2.213.
Apesar das grandes riquezas naturais de nosso país,
que nos oferecem boas perspectivas de crescimento e prosperidade, somos uma
nação com muita pobreza, reforçada pelas desigualdades. Com base no índice
GINI, usado para avaliar o nível de concentração de renda, o Brasil fica entre
os dez países mais desiguais do mundo. O Relatório de Desenvolvimento Humano da
Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no fim de 2019, indicou que o
país tem a segunda maior concentração de renda no mundo, ficando atrás apenas
do Catar.
O caminho para reduzir as desigualdades e diminuir
os abismos que separam as diversas camadas do povo brasileiro passa pela
filantropia e pela promoção de justiça social. Para transformações tão
necessárias, devemos proporcionar às pessoas negligenciadas pelos desafios
sociais a oportunidade de ter uma vida digna, com acesso à saúde, educação,
habitação, infraestrutura básica, trabalho e todos os recursos que lhes darão
condições de buscar sua prosperidade.
O país que sonhamos exige uma mudança de
consciência e de posicionamento diante da atuação social, entendendo-a como
parte do motor que impulsiona o crescimento de todos os setores. Nos Estados
Unidos, a filantropia responde por cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) -
que passa de US$ 20 trilhões. Aqui, ainda estamos distantes dessa realidade,
com um índice filantrópico que fica abaixo de 0,2% do PIB.
Se considerarmos a situação de pobreza que vemos em
todas as regiões, precisaríamos de muito mais doação. Há um equívoco que
dificulta avançar no objetivo de melhorar a condição geral da população, que é
a confusão que fazemos dos conceitos de imposto, doação e esmola. A esmola não
promove justiça social – ajudar momentaneamente alguém que passa necessidade
pode ser benéfico, mas esse é um debate mais profundo, que envolve a consciência
de retribuir e tentar, com o melhor dos nossos esforços, dar para as pessoas a
oportunidade que a sociedade falhou em oferecer. É a Cultura de Doação que traz
os resultados para as questões que levantamos, propicia o avanço social e cria
as oportunidades para mudar os índices de pobreza e desigualdade do país.
Para que a Cultura de Doação se efetive será
necessário que líderes empresariais se aproximem das causas sociais,
voltando-se à filantropia. Quando as empresas efetivamente se engajarem no plano
de reduzir as desigualdades, se comprometendo a retornar e compartilhar
conquistas, teremos como resultado o fortalecimento da sociedade e,
consequentemente, da economia. Se desejamos uma sociedade economicamente ativa,
mais justa e igualitária, precisamos entender que a responsabilidade para a
mudança de cenário depende de um esforço conjunto entre governo, empresas e
sociedade civil.
Christian Klotz - Sócio sênior da Brasil Capital, responsável por estratégia e inovação,
além de membro do Comitê de Investimentos. Anteriormente, foi diretor de
investimentos da Jaguar Growth Partners, empresa de Private Equity focada em
mercados emergentes e baseada em Nova Iorque. Antes de unir-se a Jaguar, foi
sócio, gestor e analista de investimentos da UJAY Capital, Pollux Capital e
FAMA Investimentos. Graduado em Engenharia de Produção pela Escola de
Engenharia Mauá, possui MBA pela Columbia University. É conselheiro de
administração do Movimento Bem Maior.
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