Desde que nos entendemos como seres
humanos, dotados de racionalidade, nos preocupamos sobre onde e como buscar a
felicidade -- talvez ela seja um dos nossos
anseios mais incessantes. Na data em que comemoramos o seu dia, 20 de março,
vale questionar: o que de fato traz felicidade?
A palavra significa,
de acordo com o Dicionário Houaiss, o estado de “estar feliz”, uma consciência
plenamente satisfeita. Boa fortuna, sorte, êxito, acerto e sucesso.
Para a Psicologia,
quando falamos em felicidade, principalmente no momento atual, em que passamos
por uma pandemia na qual muitas pessoas conheceram a tristeza e a dor e, ao
mesmo tempo, com a invasão da Ucrânia, em que vemos o mundo vivendo uma tensão
em vista de uma guerra e uma possível ameaça nuclear, tudo está na contramão do
que entendemos por felicidade.
O tema é tão
importante que, em 2010, tivemos a PEC da Felicidade, que alterava o artigo 6º
da Constituição Federal e incluía o direito à busca da felicidade, individual e
coletiva, mediante a dotação do Estado e da própria sociedade nas adequações
das condições de exercício desse direito.
O assunto sempre foi abordado ao longo
do tempo, mas ultimamente se tornou ainda mais necessário. Entende-se que a
felicidade sempre será algo que o ser humano busca para o seu estado de
bem-estar, porém, ela é apenas uma parte disso; um estado afetivo e virtudes
positivas é que vão levar as pessoas a terem emoções positivas. Podemos
entendê-la como uma busca contínua por essas emoções positivas, podendo, sim,
mudar de indivíduo para indivíduo, justamente por poder ser vista de uma
maneira diferente para cada um.
Uma crítica que se faz
às pessoas felizes é o fato de elas, teoricamente, não estarem ligadas à
realidade das coisas e aos perigos que o mundo oferece. No entanto, tal análise
não se sustenta. Se o meio em que se vive é favorável, se as relações estão
satisfatórias, o indivíduo estará feliz mesmo diante de crises mundiais, como a
pandemia ou a guerra russa. Não significa que as pessoas se tornarão
insensíveis às outras realidades ou não empáticas aos sofrimentos alheios. Por
ser um estado de espírito, a felicidade é considerada algo sensível e mutável.
Portanto, qualquer distorção, disfunção das relações humanas ou dificuldade,
independentemente de fatores externos ou internos, impactarão o estado de
espírito.
Por outro lado, a
nossa capacidade de adaptação, otimismo e até mesmo a realização com as
conquistas do próximo podem fazer de nós, seres humanos mais felizes. Isso
porque fatores externos, atrelados a mudanças, podem nos tirar de um estado
ruim para um estado de melhor qualidade. Logo, quando tratamos de adaptabilidade,
pensamos em algo flexível.
Voltando à
subjetividade que o termo traz, vale destacar a relação com o dinheiro. É comum
associarmos riqueza à felicidade. Insisto que isso é muito relativo, pois se
fosse uma regra, pessoas afortunadas não passariam por doenças mentais ou
sofreriam com o luto, por exemplo. Viveriam em estado de êxtase constante.
É claro que o dinheiro
pode amenizar algumas situações, favorecer algumas mudanças, proporcionar um
estado mais confortável para poder ultrapassar as dificuldades da vida, mas,
por si só, não garante um estado de plena satisfação a vida inteira, sem passar
por infelicidades.
O psicólogo Abraham
Maslow fala que no momento em que alcançamos a autorrealização, um novo desejo
surge. Dessa forma, o estado de felicidade é momentâneo, porque alcançamos um
objetivo, só que logo em seguida, outro surge e, toda aquela vontade, todo
aquele sofrimento, toda aquela mudança, se apresentará novamente.
Pode-se concluir que a
felicidade é sempre um estado mutável. Portanto, o dinheiro pode trazer
facilidades e momentos de felicidade, não a sua plenitude, pois seria algo
impossível de ser alcançado por se tratar de um estado transitório de humor.
A busca da felicidade
não segue uma fórmula pré-definida. É algo pessoal. Com base na psicologia
positiva, o engajamento, o sentido da vida e as realizações positivas ajudam
neste caminho, assim como o bem-estar nas relações, satisfações (trabalho,
relações, saúde física e mental, estudos, religião, esportes), capacidade de mudanças
e adaptabilidade. As emoções são direcionadas para a relação que o nosso “eu”
estabelece com o mundo.
Marcelo Santos - psicólogo clínico e professor do curso
de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
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