A recente desistência do participante Tiago
Abravanel do reality show Big Brother Brasil voltou a trazer à tona um debate
que já havia ficado evidente na edição passada do programa quando Lucas
Penteado também optou por não continuar na disputa pelo prêmio e Karol Konká
protagonizou ataques contra outros participantes.
Assim como o interesse da população em acompanhar a
vida de desconhecidos em competições televisivas, o debate sobre o impacto dos
realities na saúde mental de seus participantes não é algo exclusivo do nosso
país. Pelo mundo, mais de 40 estrelas de uma variedade deste estilo de programa
foram encontradas mortas por suicídio ou overdose, levando a uma conversa maior
em torno de os efeitos mentais de aparecer em tais séries e se a produção
precisa oferecer um maior suporte pós-show.
Desde os primórdios dos reality shows, produtores e
terapeutas têm utilizado testes de inteligência emocional para selecionar
concorrentes com base em uma variedade de fatores que influenciam as
personalidades que estão procurando. Embora as avaliações sejam adaptadas para
o que o programa busca (enquanto shows como o Big Brother buscam pessoas com
habilidades sociais e interpessoais, outros programas, às vezes, exigem
resistência física e gerenciamento de estresse), algo que temos em comum nas
avaliações psicológicas é uma triagem da saúde mental já que a produção quer
garantir que a pessoa não seja agressiva, não tenha problemas reais de
dependência e não coloque sua própria vida em risco. Basicamente, garantir que
não exista nenhum tipo de personalidade limítrofe.
De acordo com o professor de hipnose clínica
especializado em traumas e fobias, Guilherme Alves, embora os testes sejam
validados, é impossível garantir que o comportamento durante as gravações seja
similar ao do momento em que foram analisados. “Muitos traumas estão suprimidos
e não são evidentes até que um gatilho elicie-os. No caso mencionado do
participante Tiago Abravanel é perceptível uma mágoa relacionada à um abandono
por parte da família. Diversas vezes houve menção à um distanciamento por parte
de suas irmãs e de seu avô, Sílvio Santos. O fato de se sentir excluído na
última prova por seu aliado no confinamento combinado ao fato de acreditar que
estaria entre os emparedados da semana pode ser o suficiente para trazer à tona
todo sentimento causado por questões traumáticas no passado.” explica o
professor.
E embora o que esteja sendo exibido pareça ser a
parte mais difícil do processo, a readaptação ao mundo externo pode ser ainda
pior. “A grande maioria dos realities possui uma competente equipe médica e
psicológica para auxiliar seus participantes mas, qualquer que seja o estresse
mental que os competidores enfrentam durante o show, o verdadeiro trabalho
começa quando as câmeras são desligadas e eles se preparam para reentrar em
suas vidas anteriores -- enquanto enfrentam as pressões das mídias sociais,
críticas públicas, a fama recém-descoberta bem como o abrupto fim da mesma fama
meses depois.” relata o professor Guilherme Alves.
Felizmente, a alta audiência de parte destes
programas presta serviço à população ao discutir temas mais sensíveis quando
estes se tornam parte da narrativa. No Big Brother Brasil, questões de
bullying, preconceito, racismo e transfobia já deixaram o ambiente de
confinamento para serem debatidas pelo apresentador e informar seu público. Nos
Estados Unidos, a última edição do reality de sobrevivência Survivor teve foco
no racismo, impulsionado pelas manifestações Black Lives Matter, e trouxe o
tema para discussão de maneira impactante e ao mesmo tempo sensível.
Guilherme Alves - instrutor de hipnoterapia e coordenador de pós-graduação na área pela faculdade JK (Distrito Federal)
Instagram: @guialves.hd
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